𝟏.

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O REINO DA LUZ, 2020.

— Estou preocupada — disse, conforme encarava o horizonte vago e iluminado além do cruzamento das duas pontes. — Se Galahad está aqui, alguma coisa deve ter acontecido.

— Ou não — respondeu o troll que se encontrava atrás dela, logo recebendo um olhar de reprovação ao seu comentário. — Veja, sua espécie é bem mais... frágil.

— Sabe que não é sobre isso, Draal — ela desviou seus olhos da vista por um segundo, encarando-o. — Ele nunca deixou o castelo enquanto eu estive lá e acredito que isso não mudou, imagino se...

Preferindo não completar a frase, ela somente fechou seus olhos por um instante e baniu os pensamentos que surgiam em sua mente. Quando os abriu, pôde ver as sombras do rosto de seu parceiro iluminadas e voltou-se mais uma vez para o ponto de convergência, que agora brilhava. Inclinou a cabeça em sua direção, indicando que fossem até lá e disparou em direção ao local sabendo que ele a acompanharia.

Ao se aproximarem, puderam ver uma silhueta em meio a luz, cada vez maior indicando sua proximidade. Draal se manteve afastado do portal, enquanto ela ainda caminhava à frente. Quando o até então desconhecido atravessou o portal, a primeira reação da garota foi invocar sua espada e apontá-la para o rosto tão conhecido.

— Morgana — a reação da feiticeira foi congelar seus movimentos, fixando seu olhar nos olhos cinzentos que a encaravam. — O que faz aqui?

Morgana não respondeu e logo, outra silhueta atravessou o portal, que se fechou logo em seguida.

— Avalon Ambrosius.

Ouvir aquela voz a desestabilizou. Por um instante, seu corpo estremeceu conforme seu interior se iluminava de felicidade. Poucos centímetros atrás da ruiva estava Merlin. Com ele ali, Morgana não seria problema e assim, deixou com que seu braço relaxasse e a espada caísse. Atirando-se nos braços do mago, ela envolveu seu corpo em um abraço apertado e sentiu que ele retribuira.

— Eu procurei por você... em todo lugar, mas você não estava aqui — disse, aninhando a cabeça em seu peito. Ela choraria, se pudesse. — Vocês vão adorar aqui, mal posso esperar para que encontrem...

— Me perdoe por fazê-la esperar, querida. Mas agora temos coisas mais importantes para com que lidar.

Então ela se desvencilhou dele, seus olhos novamente tomados pelo ar preocupado de antes. Merlin, agora livre do abraço, a ultrapassou e começou a caminhar com Morgana ao seu lado. Avalon manteve-se parada, os observando caminhar, enquanto sua mente criava cada vez mais perguntas. Determinada em obter respostas, ela correu atrás deles e diminuiu seu passo quando se encontravam lado a lado.

— O que está acontecendo? Por que vocês estão aqui?

— É uma longa história e não temos tanto tempo — respondeu Morgana, sequer dirigindo o olhar a ela. — Você precisa se preparar.

— Me preparar? Pra que? — Respostas que só geravam mais perguntas. Perguntas cujo ambos não pareciam nem um pouco interessados em responder. Mas ela não desistiria, ainda mais se tratando de algo que parecia ter relação com suas hipóteses a respeito da morte de Sir Galahad. Parando, ela segurou o braço do mais velho o fazendo parar também. — Merlin.

Virando a cabeça, ele encarou Avalon que tinha a testa franzida. A primeira coisa que notou foram seus olhos, como o verde esmeralda havia se tornado cinza, mas no brilho deles também vendo verdade e a súplica da garota. O que o relembrou de inúmeras vezes, onde o próprio rei questionou seus feitos e decisões mas ela nunca o fez. Devia aquilo a ela.

— Por favor.

Ele suspirou e assentiu, o que a fez esboçar um leve sorriso.

— Precisamos enviar você de volta.

Se antes havia sequer um traço de sorriso em seus lábios, agora ele havia desaparecido. Era como se uma sombra, inexistente ali, houvesse coberto seu rosto e removido toda a felicidade que apresentara antes.

— Não — Avalon abanou a cabeça, negando. — Não vai acontecer. Todos os seus campeões estão aqui, os melhores dos melhores. Escolha um deles, qualquer um, não eu!

— Pensei que gostaria de voltar.

— Eu adoraria, 300 anos atrás! — soltando o braço de Merlin, foi sua vez de ultrapassá-lo, começando a se afastar do grupo. Muitas coisas estavam em jogo.

— Avalon— chamou, a fazendo parar e olhar para trás.

— Sinto muito, mas não posso ajudar — ela baixou o olhar e deixou-os na ponte.

...

Por dias ela se manteve fora de vista. Merlin não fez questão de procurá-la, o que irritou Morgana que insistia em discordar de sua abordagem e estava decidida a tomar as rédeas da situação. Porém, ele sabia que esperar era o certo a se fazer. Que deixar Avalon processar a ideia facilitaria a futura conversa que deveriam ter. E algum tempo depois, ele a procurou.

— Então é aqui que você se escondeu —  disse a voz familiar às costas de Avalon, cujo ela reconheceu imediatamente. Assim, virando o rosto para ver o homem que entrava pela porta.

— Eu não estava me escondendo — Merlin produziu um ruído em discordância, o que a fez rir. — É sério, só um tempo pra pensar. E como você me achou, afinal?

— Buxton me disse onde a encontrar.

— É claro que disse — bufou Avalon, enquanto o mais velho puxava um banco próximo e sentava-se ao seu lado. — E o que ela acha de tudo isso?

— Está do seu lado. Já houve sequer algum dia em que Vesper Buxton fosse contra você? — ela sabia a resposta e sorriu grata por aquilo, por Vesper. — A propósito, Gwen ficou magoada por não ter aparecido para as reuniões.

— Ela vai me perdoar — respondeu com indiferença, dando de ombros.

Merlin não respondeu. Avalon somente continuou a traçar algo em uma folha de papel, ignorando sua presença.

— Sabe que não pode me evitar para sempre, pare de fugir.

— Não estou fugindo, não de você. Só desta sua ideia absurda. — ela suspirou, relaxando os ombros. — Por que eu?

— Não há ninguém melhor do que você para fazer isso. Quando você era mais nova... eu tinha medo de que te expor a magia fizesse com que ficasse como Morgana. A diferença é que não poderia e nem iria perder você, então fiz de tudo para afastá-la — Avalon assentiu, se lembrava daquilo. Do quanto tinha que pedir, implorar, para que ele a ensinasse o mais simples feitiço que fosse. — Até o dia em que encontrei Hisirdoux e o tornei meu aprendiz. Ele tinha um bom coração e você parecia gostar dele. Naquele momento, soube que era o certo a se fazer. Eu vi que era o destino e que juntos, vocês iriam traçar o caminho até a grandeza.

— Espero que ao menos um de nós tenha conseguido.

— Os dois conseguiram. E agora, sei que vão conseguir novamente — Um pouco hesitante, ele esticou o braço e tocou sua mão, segurando-a e sentiu que ela apertou seus dedos em resposta.

Caçadores de Trolls: A Ascensão dos TitãsOnde histórias criam vida. Descubra agora