Minguante

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Cristina brincava com Apolo no quintal. Fiquei lavando a louça do café da manhã. Ela precisava se distrair um pouco. Sair de todos os mundos que havia se perdido.

Ela pulava pela grama, sacudindo seus lindos cachos. O sorriso do rosto não se assemelhava ao olhar assustado da noite anterior.

A lembrança dela apavorada no meu abraço não saia do meu pensamento.

Terminei...

Corri para também me divertir com os dois. Cristina se deu bem com Apolo com o passar do tempo. Ele adorava aquela dona ranzinza que agora se divertia brevemente.

No fim de tudo, nós três descansamos exaustos. Ela estava vermelha e banhada de suor.

Tentei fazê-la sorrir por qualquer coisa. Vê-la feliz de novo era bom.

Encarei-a por algum tempo até que ela percebeu. Cristina agia como se nada de ruim tivesse acontecido. Ela encarou de volta, como se perguntasse o que aconteceu.

—Eu fiquei curioso para saber qual ator fará o papel de Ernesto.

Cristina deu uma risada alta.

—Está com ciúmes, Gustavo?

—Não. É que eu dei uma olhada no roteiro, assim, folheando, sabe? E não vi nenhum Ernesto.

Ela abaixou a cabeça ainda rindo.

—Certo. Eu inventei o Ernesto, porque eu queria passar mais tempo com você. É isso.

Cristina me deu mais uma de suas apunhaladas. Eu nem tive como reagir. Dei conta do quanto me afastei da mulher que escolhi pra dividir a vida comigo. Nossa rotina era sempre a mesma, e não nos víamos nela.

Nossa casa parecia um imenso labirinto. Cristina ia pelas pontas opostas a minha. Engraçado, porque eramos tão diferentes, mas agíamos como ímãs de polos iguais. Nos repelíamos.

Aproximei e dei um beijo em seu rosto. Voltei a deitar na grama e petrifiquei a vista para aquele lindo céu azul.

—Tá vendo aquela nuvem ali? Parece uma bota.

Cristina apontou para o Sul.

—Parece um dinossauro, isso sim.

Ficamos nesse impasse até que a nuvem se desfez. Ela ainda não se dava por vencida.

—Se o Apolo falasse, concordaria comigo...

Aquele sábado se resumiu ao descanso.

Descanso do trabalho. Descanso dos problemas. Descanso de nós mesmos.

A manhã tinha sido divertida. Uma pausa de toda a solidão que estava habitando na gente. A tarde foi diferente. Cristina voltava a morar no lado oposto da casa.

De longe do corredor, lhe observava entrando naquele mundo. Comecei a pensar, que talvez, fosse um universo infinito.

Será que Cristina escutaria se eu gritasse por ela no pé de seus ouvidos?

Não gritei. Só dei meia volta e também fui para o meu pequeno mundo. Tão pequeno que não se comparava ao dela, de tanto que lhe via caminhar para longe de mim.

No nosso quarto, ficava deitado de olhos abertos, de bruços. Aguardando a volta dela, sem o medo de que Cristina pudesse partir de novo.

E naquela tarde, dormi de tanto esperar que ela atravessasse a porta.

No domingo, Cristina experimentou vários vestidos. Dos mais cafonas e bregas, aos mais sedutores.

—Nada combina com a minha personagem...

SONHA COMIGO (ShortStory)Onde histórias criam vida. Descubra agora