Capítulo 5 - Neve

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P.O.V. - Helia

A neve estava tão alta, que alcançava meus joelhos. Um olhar para trás, e via uma trilha de mais ou menos cinquenta centímetros de largura, que deixava a neve compacta em duas extremidades diferentes.

Ainda, tudo era congelado. Nenhuma árvore a vista. Sem vida.

Talvez, houvesse um oceano e outro continente, nesse, com vida.

Espero mesmo que Flora esteja por aqui.

Será que está bem? Eu digo, talvez nem estejamos no mesmo mundo, talvez o portal dela tenha dado em Solária.

Esse pensamento me causa um arrepio na espinha.

Agora, parando para pensar - já que é a única coisa que posso fazer por aqui - foi uma ideia muito idiota ter pulado aquele portal. Extremamente.

Céus, eu nunca ajo assim.

Sempre penso milhares de vezes antes de realmente fazer algo; mas o desespero de vê-la caindo, inconsciente, para um lugar provavelmente desconhecido por todos, me fez agir inconscientemente e pular naquela merda de portal.

Por Deus, eu devo ter enlouquecido!

Mas não me arrependo. Talvez caso ela não esteja aqui, eu fique um pouco desesperado. Mas algo me diz que ela está aqui sim. Em algum lugar.

Agora, a neve deu uma baixada. Quanto mais vou à oeste, mais ela vai diminuindo, até estar nos meus calcanhares.

O sussurro da neve sob meus pés chega a ser uma grande hipocrisia. Aqui não há som. Nenhum.

A não ser pelo vento quando corre entre as pedras, e causa assobios medonhos.

Falando em vento, ele volta. Chicoteia meus cabelos, me fazendo prendê-los em um coque desengonçado (a boa nisso é Flora. Faz com tanta facilidade...). Eles estão mais cumpridos que o meu normal. Preciso cortar.

Percebo uma mudança no ar. Algo errado.

Como se uma peça estivesse fora do lugar. Ou como se outra houvesse entrado em cena, mas não era para estar ali.

Respiro fundo, me conectando com o ambiente (técnica ensinada por Flora), prestando atenção em todo meu arredor. Me torno parte da neve, do gelo e das pedras. Então eu sinto.

Uma vida. Está tão fraca que nem parece estar lá. Como se prestes a morrer.

A respiração está fraca, e não se move.

Enquanto uma parte de minha mente grita animal, a outra grita Flora!

Corro na direção em que vem a sensação, me deparando com uma clareira; íngrime mas firme, apesar das pedras despontando, salpicando a neve com preto.

Pulando algumas inclinações perigosas e evitando possíveis pedras, enfim chego à base.

Olho ao redor, procurando algo, algum indício de que ela estivera ali. A essa hora, a energia errada está por todo lugar, inundando meus sentidos.

Ando em direção ao sul, prestando atenção na clareira íngrime, buscando um sinal, uma esperança. Qualquer coisa, dizia a mim mesmo, qualquer coisa.

Então, vejo a maior felicidade da minha vida.

O cobertor aquecido que Stella havia nos dado.

Corro até ele, segurando o pedaço macio e felpudo de tecido. Ele estava soterrado por neve, mas era algo chamativo, afinal, algo verde em um mar branco não se pode ignorar.

O abraço, me permitindo sentir o cheiro de Flora. O cheiro meio abafado, fraco. Faz tempo que está aqui.

O chute de sorte mais completo vai ser de seguir reto, a oeste, seguindo o posicionamento da coberta.

Por que Flora está sem ela? É como uma salvação nesse frio, magicamente aquecida, que descongela meus dedos lentamente.

Posiciono em meus ombros a coberta, me aquecendo. A minha está guardada, achei melhor não arriscar perdê-la.

Com passos longos e rápidos, ziguezagueando por grandes rochas ou depressões na neve, chego em um campo aberto, totalmente branco, sem uma rocha à vista.

Minha respiração falha, olho ao redor, vendo a mudança do espaço. De um lado, pedras e rochas salpicam a neve, montanhas rochosas e placas de gelo. Doutro, um plano em branco, a paisagem se mesclando com o céu branco-aguado.

A sensação de que algo errado ainda está aqui, mas não sei explicar o porquê, parece estar pulsante, mas fraca.

Meu coração dispara, imaginando mil e uma situações de que Flora pode estar passando por aqui.

Que os deuses a ajude.

(...)

P.O.V. - Flora

Ah, como o mundo gira. Quando acordei, estava soterrada em neve. Até conseguir me desvencilhar do monte pesado, meus joelhos já travavam pelo frio, e meus dentes batiam dentro da boca.

Eu tinha fome. Peguei uma das barras de dentro da bolsinha, e aumentei seu tamanho, deixando-a quatro vezes maior.

Pelo menos agora, meus poderes funcionam o suficiente para que não coma toda a comida de uma vez.

Na metade da barra, me senti cheia, e guardei o resto - o que me deixou feliz, mais comida economizada.

Em passos bambos, tentei me encontrar. Onde eu estava? Será muito longe da caverna?

Me apoiei então na grande estrutura rochosa atrás de mim, e caminhei.

Sem destino, o que eu encontrar está bom.

As raízes de um inferno - Winx [Helia x Flora]Onde histórias criam vida. Descubra agora