Por volta das 3 da tarde, Gabi achava que tinha atingido o auge de esquisitices de toda a sua vida em apenas um dia. Mal sabia ela que esse era apenas o começo.
O garoto flamejante na sua frente atacava o cadáver do zelador da antiga escola dela. Sim, essa frase não parece fazer nenhum sentido. Garoto flamejante? Tipo uma gíria para hot, caliente, sexy? Não (na verdade ela meio que achava ele essas coisas sim, ocasionalmente, mas isso não vem ao ponto agora). Flamejante como literalmente em chamas. Suas mãos eram como grandes tochas atacando o zumbi do falecido zelador.
Pela manhã, ela estava entediada na aula de física, e agora pelo fim da tarde sendo perseguida por um zumbi como em um daqueles filmes apocalípticos. A parte ainda mais bizarra: o zumbi sabe falar. Quer dizer, ela não era lá uma grande fã desse gênero cinematográfico mas sabia com certeza considerável que ele não deveria ser capaz de falar. Estava morto! Se bem que estar morto implicava que devia estar imóvel e de preferência embaixo da Terra, então talvez ela simplesmente devesse esquecer todas as suposições convencionais que tinha sobre o mundo.
- Valdez! Dessa vez eu vou acabar com você! – O homem de meia idade atacava o garoto com um esfregão, o que seria uma cena ridícula se ela não achasse aquela voz horripilante e o zumbi não ignorasse o fato de que suas roupas já estavam pegando fogo com a naturalidade de quem não sente dor porque afinal de contas está morto. Se bem que o garoto também não parecia se incomodar com as chamas que o envolviam. Será que ele também está morto? Espera, e se forem DOIS zumbis?
- Sabe, essa sua obsessão por mim não deve ser saudável. Já pensou em contratar um terapeuta? Espero que você tenha plano de saúde no Tártaro. – o garoto provocava.
-Hã... é... Leo, né? Eu posso fazer uma pergunta? - Ela arrisca se meter na discussão, ainda encolhida no canto da capela mortuária em que a luta acontecia.
- Agora? Eu estou meio ocupado com o irritadinho aqui, mas fica à vontade. – ele lança mais chamas em direção ao morto mal-humorado, que com rapidez impressionante rola no chão desviando das mesmas. Desde quando o senhor Clovis era tão atlético? E zumbis não deviam ser lerdos e desengonçados? Céus, nada nesse dia fazia sentido.
- Você está... vivo? – o garoto a encara tão surpreso com a questão que acaba esquecendo do zelador assassino atrás de si, que aproveita a distração para um ataque por baixo. – CUIDADO!
Seu grito faz o garoto se espertar, desviando do golpe e lançando mais chamas. Até que era impressionante, mas o padrão já a estava irritando. Quanto tempo demora pra matar um zumbi de meia idade se você possui poder de fogo? Nesse ritmo ela ia se atrasar para o aniversário da Cherry. O pensamento a fez dar uma risada nervosa. Foi mal amiga, o trânsito estava lento e o carinha enfrentando o zumbi do zelador Clovis também.
- Por acaso eu pareço morto para você, moça? – Ele responde segurando um sorriso, como se a ideia fosse engraçada. Por algum motivo, achava o sarcasmo do garoto lampião muito atraente. O que também não fazia sentido, já que ele nem era seu tipo de garoto. Bom, na verdade apenas um garoto específico era seu tipo de garoto, e ele estaria naquela festa que ela estava perdendo. Mesmo assim, ela não deixava de sentir um frio injustificável na barriga quando o aparentemente não morto Leo estava por perto. Ou talvez fosse o fato de que ele parecia sempre vir acompanhado de muita confusão. É, devia ser isso. Enquanto ela quase se perdia nos pensamentos (que aliás se passaram todos em apenas alguns segundos, pois ela possuía um raciocínio acelerado) as chamas se espalhavam tanto que ela começa a se preocupar com a possibilidade de morrer em um incêndio.
-Ele também não parece, mas eu fui no velório duas semanas atrás. Você poderia muito bem ser um zumbi também – ela replica. E era verdade. Ela estivera no velório e tinha visto o corpo morto, antes do mistério da semana da cidade acontecer: seu desaparecimento. Como um corpo some do caixão sem que ninguém perceba era um assunto muito intrigante para a comunidade em questão, que só falava nisso há dias. Pelo menos agora ela tinha assunto para fofocar com as vizinhas, embora não achasse que alguém fosse acreditar.
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Talismã do Fogo (Leo Valdez Fanfic)
FanfictionEngraçado. Irritante. Estranhamente atraente. Essas são algumas palavras com que Gabi Armani descreveria o garoto que tinha surgido do nada e virado sua vida de cabeça para baixo. Bom, não exatamente do nada. Pelo visto eles já se conheciam antes, e...