Talismã do Fogo (Leo Valdez Fanfic)

Uma proposta inusitada, absurda e potencialmente perfeita.

Gabi percebeu o quão estranho e constrangedor era aquele pedido assim que pronunciou as palavras. A preocupação do garoto se transformou em surpresa. Dica: se você possui um lance bizarro de sentir as emoções das pessoas e intensificar isso com o toque, não diga algo que possa chocar alguém enquanto estiver segurando a mão dela. Por outro lado, a onda de mudança nas emoções do garoto serviu como um balde de água fria na cara de alguém com sono. Ela teve uma quebra forte o suficiente para soltar ele e voltar ao seu estado normal. Ou o mais normal que ela conseguia ser. Fechou os olhos e fez os exercícios de bloqueio em uma versão relâmpago. O garoto parecia, pela primeira vez, sem uma resposta na ponta da língua, e a encarava embasbacado como se tivesse sofrido um bug cerebral.

- Ok, isso foi... impulsivo. Você deve me achar meio esquisita agora. Acho que eu sou mesmo. Às vezes eu tenho essas crises de... enfim. Desculpa, eu não devia ter falado isso. – Ela tentava usar a voz mais digna possível, o que não deveria ser muito com suas bochechas queimando. Leo percebeu seu constrangimento e teve a gentileza de tentar aliviar o clima.

- Meio esquisita? É, talvez um pouco. Mas ainda tem longo caminho pela frente se quiser chegar aos meus pés nesse quesito. Eu sou tipo o CEO de ser esquisito. – ele deu uma piscadela pra ela, com aquele sorriso travesso que estava começando a causar uns pulinhos em seu coração e um friozinho estranho no estômago. Espera, seriam isso como as borboletas que ela nunca sentiu? Não, não podia ser. Provavelmente era algo menor como, sei lá, joaninhas. É, joaninhas. Borboletas são outro nível. E ele só estava sendo fofo por pena.

- Ah, claro. Olha, está tudo bem. Você não precisa dizer isso para eu me sentir melhor. Eu só quebrei um copo... e a minha dignidade na frente de uma pessoa que eu acabei de conhecer. Não é tão ruim assim. – era sim. Ela estava morrendo de vergonha.

- Dignidade? O que é isso, é de comer? – o garoto fez uma cara pensativa. Bobo (e meio fofo, de um jeito bem bobo) – Aaaaah, sim... deve ser aquela coisa que eu perdi lá atrás, quando você me viu fazendo barraco com o seu vizinho menos favorito. Então agora estamos quites, embora eu ainda ache que o meu foi pior. Tipo, estamos equilibrados agora. Faz sentido? – ele levantou do chão e se jogou ao lado dela no sofá.

- Um pouco. – ela ainda não conseguia encará-lo nos olhos.

- Só um pouco? Talvez a gente devesse sair por aí fazendo mais coisas constrangedoras então. Aqui uma ideia, podemos vestir uma roupa de dançarina de hula-hula e ir rebolar no semáforo. Ou talvez ir de penetras à uma festa chique fingindo que somos herdeiros britânicos com um sotaque forçado. Ou a gente pode sair correndo pelados pela sua escola ou... – ele parou quando ela começou a rir. Rir muito. Isso era outra coisa da qual Gabi se envergonhava um pouco. Quando ela ficava sensível ou nervosa tendia a ter crises de riso exageradas. Uma vez ela caiu no meio da sala quando tinha 11 anos e torceu o tornozelo. A dor era tanta que ela chegou a chorar um pouco, mas quando pensou no quão ridícula deveria estar esparramada no chão chorando como uma perdedora começou a rir. A mistura de lágrimas e risada fez com que suas amigas ficassem com um pouco de medo dela pelo resto da semana.

Nesse momento, com as ideias aleatórias de Leo, a sensação era parecida. Ela conhecera um desconhecido na rua, levara ele para casa e tivera um surto na frente dele. Agora ele estava falando de correr pelado na escola. Era ridículo, e muito engraçado olhando por fora. Ela percebeu que Leo era o tipo de pessoa com quem ela se sentiria confortável em qualquer situação. Ela confiava nele. Era insano, porque ele era um estranho. Mas era real, como a luz do sol que refletia nas paredes claras e deixava a sala parecendo um local aconchegante. Leo Valdez a vira ter uma crise e não parecia achar ela uma maluca, parecia natural. Assim como ela não se sentia ameaçada por ele mesmo com toda aquela confusão. Com um suspiro trêmulo encerrando as risadas, Gabi se vira de frente para seu novo e inusitado amigo.