Não é loucura!

59 5 21
                                    

Há alguns anos atrás, Gabi tivera uma alucinação. Ou pelo menos seus pais disseram que tinha sido uma alucinação, ou apenas uma confusão causada por um truque de luz. Ela jurava ter visto uma minivan passar voando no céu. Por um segundo parecia que o sol estava se movendo, mas após tentar focar a visão mesmo com os reflexos luminosos que faziam seus olhos arderem, ela conseguiu ver o formato nítido de uma minivan passando. Sua mãe disse que ela devia estar desorientada pelo grande calor que aquele dia fazia e a comprou um milk-shake. O caso é que fora real demais. Não parecera imaginação, a minivan voadora era tão sólida quanto qualquer carro da rua. Ela nunca mais tocou no assunto após contar para sua melhor amiga da época e a garota dizer que ela estava ficando esquizofrênica como uma piada. Como alguém que pesquisava sobre distúrbios mentais frequentemente buscando alguma explicação para o seu lance dos sentimentos, ela não achou graça nenhuma. Nunca achou nenhuma explicação para o que ela tinha, mas ainda se identificava com a sensação de não possuir controle da própria mente cada vez que era invadida por uma onda de sentimentos intrusivos, então sentia uma empatia especial por esses casos. E tinha o pesadelo do hospício. Com tudo isso, ela ignorava quando achava que via algo estranho em seu cotidiano, mesmo que sua intuição apontasse que havia algo ali. Precisava dessa barreira, essa tentativa desesperada de se sentir "normal". Mas agora achava que estava tendo outra alucinação.

A chama no nariz do garoto ficou lá por o que ela imaginou que fossem uns 10 segundos. No começo, ele pareceu nem reparar. Como alguém não repara que está pegando fogo? Então ele parou de falar o que quer que fosse que estava dizendo ao provavelmente notar a cara de espanto da garota. Ele balbuciou algo como um "o que..." e então pareceu notar, batendo de leve em seu nariz até a chama apagar enquanto murmurava algum xingamento em espanhol. Ela não conseguia falar nada. Estava de boca aberta olhando para ele. Quando a chama se apagou, Leo apenas ficou parado encarando-a, como se não soubesse o que fazer em seguida. Foi tudo tão rápido que Gabi considerou se estava mesmo alucinando. Ela tinha imaginado aquilo? O garoto a encarava em silêncio porque ela estava com aquela cara de maluca? Aquilo aconteceu mesmo? E se estava alucinando, como é que aquilo parecera tão real? Porque fora real. Ela conseguia ver a chama e quase sentir sua energia crepitante. Jurava que se estendesse sua mão para tocá-la, queimaria.

Leo suspirou pesadamente e começou a andar pela sala. Ele abriu a boca para falar algumas vezes, mas não parecia encontrar as palavras certas. Ela ainda estava parada, e respirava profundamente tentando controlar as batidas aceleradas de seu coração. O garoto finalmente para de andar e se apoia na parede, em uma distância segura. Talvez estivesse preocupado com a possibilidade de ela explodir. Enquanto ele se prepara para falar o quer que tenha a dizer, que ela honestamente não fazia ideia, Gabi sentiu um aperto no peito. Se ele negasse o fogo, se dissesse que ela estava tendo outra crise do nada e ficasse preocupado com sua sanidade mental, a garota acreditaria. Acreditaria e finalmente aceitaria que tinha algo de muito errado com seu psicológico. Talvez pedisse para ver uma terapeuta ou algo assim. Se ele negasse o que aconteceu, o que parecia óbvio que faria, ela desistiria. De tentar entender, de sua intuição e de seus sentidos. Por favor, explique de alguma maneira. Por favor, que eu não seja mesmo doida.

- Eu avisei. – o garoto ergue as mãos como se estivesse se rendendo – Eu disse que me conhecer de verdade faria você mudar sua opinião sobre mim. Você acabou de ver uma pequena parte do desastre colossal que é Leo Valdez e parece estar em curto circuito.

Espera, ele não estava negando, estava? Gabi tentava organizar as palavras dele em sua mente e fazer algum sentido. Ela não era louca?

- Desculpa. – o garoto continuava – Eu não devia ter deixado isso chegar tão longe. É perturbador, eu sei. Eu sou uma aberração. – Ele fez uma pausa longa após essa frase. Se não estivesse tão chocada, Gabi teria percebido que ele devia estar esperançoso que ela retrucasse a sentença. Mas ela ainda tentava formular a frase que tinha medo de dizer em voz alta, então não deu a resposta que teria feito ele se sentir melhor.

Talismã do Fogo (Leo Valdez Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora