Talismã do Fogo (Leo Valdez Fanfic)

A vida sendo "aquela garota".

Pensando sobre sua versão de 14 anos da época em que conheceu Valdez, Gabi percebeu também o quanto tinha evoluído nesses 4 anos. O mais importante, com certeza, era o fato de ela ter, por volta dos 16, com muito esforço e longas sessões de teste, otimizar seu escudo mental para um nível realmente eficiente. Atualmente, seu controle sobre sua mente era forte o suficiente para que ela conseguisse a proeza de passar meses inteiros vivendo praticamente como uma garota normal. O nível de foco que ela desenvolveu acabou ajudando também em outras áreas de sua vida. Seu desempenho acadêmico era agora impecável (primeira da turma, sempre). Ela também conseguia controlar melhor sua ansiedade e nervosismo e agir bem sob pressão. Tudo isso devido a uma série de práticas que a ajudaram a alcançar o que ela chamaria de sua melhor versão até agora (terapia, meditação, tocar instrumentos musicais, resolver cálculos matemáticos complexos, usar asmrs e outros estímulos auditivos para "desligar", entre outras medidas de segurança).

Agora, ser invadida pelos outros era um evento muito mais raro. Ela podia até mesmo arriscar usar seus dons de maneira intencional ocasionalmente para testar seus limites (ver até onde ela conseguia se conectar a alguém antes de precisar desligar para não perder o controle). Basicamente, ela estava feliz. Ou momentaneamente satisfeita, pelo menos. Ela sempre sentia que alguma coisa ainda estava fora de lugar, mas conseguia manter essa intuição soterrada para não perder o precioso controle que ela finalmente obtivera sobre sua vida. Agora, porém, ela sabia o que faltava. Suas lembranças daquele dia tão importante. Era esse o vazio que incomodava as profundezas de sua mente. O caso é que, ao lembrar-se, ela conseguiu preenchê-lo. Esse era o momento pelo qual esperara por tanto tempo – estava completa novamente. Potência total, como diria um certo velho amigo.

Finalizando de aplicar o gloss sobre os lábios em frente ao espelho iluminado de Cherry, Gabi mede com orgulho a mulher que a encara de volta em seu reflexo. Agora, sim. "Aquela garota" que ela sempre quis ser. Linda, no controle e completa. Com um sorriso de quem sabe que venceu, ela se dirige ao andar de baixo para a festa, descendo as escadas com a confiança de quem sente os olhares sobre ela e sabe que, em seguida da aniversariante, é a principal atração do evento.

- Agora sim – Cherry enrosca seu braço no dela, como duas amigas de 11 anos passeando pelo bairro. – Agora a festa pode começar de verdade.

Gabi sorri para a amiga com carinho. As duas eram como uma dupla dinâmica em todo lugar que iam, e sua vida se tornara incrivelmente melhor desde que começara a passar seus dias com Cherry. A garota era como um lembrete vivo de quem Gabi era agora, do motivo pelo qual ela se esforçava tanto pela possibilidade de uma vida clichê de filme adolescente. Ao som de Little Mix, as duas interagiam com a grande número de convidados que agitava a mansão. Entre selfies com cheerleaders de quem ela nem lembrava o nome, elogios vindos de garotos bonitinhos o suficiente para aumentar sua autoestima e conversas divertidas com as pessoas de quem ela realmente gostava no lugar, Gabi se deixava levar pelo barulho e pelas luzes coloridas. A sua antiga eu nunca poderia estar em um ambiente assim sem se sentir no mínimo ansiosa com a aglomeração de emoções alheias, mas agora ela só sentia uma coisa: euforia. Uma euforia pura e verdadeira que ela sabia que vinha dela mesma, simplesmente porque podia se permitir sentir isso agora. Ela não arriscava tomar uma sequer gota de álcool, mas não precisava. Todos aqueles anos reprimindo emoções a deixaram em um estado em que, quando se entregava, aproveitava ao máximo.

- Uhuuuuul!!! Eu amo essa música!!! – Ela grita para o DJ que a responde com uma piscadela.

- Que bom que você está nessa vibe toda soltinha – Cherry cutuca ela de canto, tendo aparecido de sabe-se lá onde com uma taça de vinho. Claramente, uma rave chique. Quem serve vinho para tanta gente assim e com taças bonitinhas ainda? A amiga vira em dois goles toda a bebida.