Doutora

1ª tentativa

Débora não economizou na ostentação. Filha do governador do estado do Rio de Janeiro, ela tinha escolhido o melhor buffet da cidade e contratado um luxuoso palco para Simone e Simária, Belo e outros cantores se apresentassem. Loira de olhos azuis , de longe  a mulher mais viajada da festa. Apenas 25 anos e já viajara de Dubai a Londres. Não sei de onde ela tirava tanta energia e tanto dinheiro.  Aí estava um bom mistério que um dia ela e o pai iriam ter que  explicar na polícia rodoviária. O que eu achava difícil, visto que políticos nesse Brasil deita e rola com o dinheiro do povo e fica por isso mesmo. Assim como o grande mistério de   como  ela conseguiu juntar mais jornalistas de sites de fofoca que a própria Sonia Abrão.

 Com ela não tinha miséria, também não economizaram no uísque 12 anos, Heineken, Champanhe e Absolut para todos. Os garçons trocavam os copos dos convidados com a mesma velocidade que Paola trocava de boy. Paola fizera uma entrada meteórica, acompanhada por um cara esquisito. Débora não soube me dizer quem era. Mas pela forma como ele olhava para os peitos de Paola, percebi que por ora ela estava bem arranjada. Também pudera, Os peitos de 500 ml pareciam querer saltar da fenda generosa do vestido. O cara tinha um jeito grosseiro, gritou com o garçom, puxou a Paola quando ela foi nos cumprimentar. Não sei o que Paola tinha visto nele. Aliás, numa rápida pesquisa no google descobri: ele tinha várias fazendas no Mato Grosso, garimpo no Pará e uma agência de modelo em São Paulo. O cara ficou rico de uma hora para outra e ninguém sabia explicar como se deu isso. A forma como exibia o relógio Rolex no braço, era uma prova deque aquele homem precisava demonstrar poder, assim como um carro precisa de combustível para se locomover. Queria mostrar a todos que tinha vencido. Paola fazia parte do pacote. Pela forma que o coroa tava babando em cima do decote dela, torcia que  pelo menos dessa vez ela conseguisse tirar alguma coisa dos caras. Sei lá, pelo menos alguma campanha publicitária em na agência de modelos do boy. Ela tinha que aproveitar enquanto ainda era nova , esse era um mundo muito cruel para as modelos, que não admitia que as mulheres envelhecessem. 

Uma moça alta esbarrou em mim, fazendo com que eu me desequilibrasse. Antes de eu reclamar ela ja tinha sumido em entre os convidados. Debora só errou na escolha dos convidados mundo de subcelebridades estava em peso ali, assim como alguns emergentes da classe média. De ex-BBB a atores do SBT. Talvez isso não rendesse as manchetes que ela esperava. Todo mundo sabe que o que garante holofotes são os convidados babadeiros. Não era fácil impressionar o mercado da ostentação. Tinha sabiso  Afinal, como influencer mais seguida no Tik tok, ela tinha que mostrar conteúdo. 

Por sorte, Debora tinha separado um  camarote reservado para mim. Um pequeno luxo que  eu me permitia ultimamente, afinal  ralara pra caramba pra chegar onde estava.  "Com licença, com licença" Ouvi uma voz dizer e o barulho de uma cadeira sendo arrastada perto da minha. Eu não podia acreditar que aquele maluco estava ali. " Vinke , o que está fazendo aqui no meu camarote?" "Eu vim curtir  um pouco a noite com vc, não posso?" disse ele puxando o ziper da jaqueta.   " você está louco vc tem show agora, cara? " Pronto agora além daquele menino, tinha o empresário, o maquiador, toda equipe do Vinke parecia estar no meu camarote. "Exquece, irmão, exquece. Tou aqui com minha doutora e não tem fdp que me tira daqui agora. Daqui uma hora eu apareço por lá, sem grilo. Pai aqui não vai dar calote". Com a paciência de quem sabia que mexer com artista é preciso ter saco de elefante, Gilvan, o empresário do Vinke  insistiu, tinham um contrato, iria ter que arcar com um prejuízo medonho. Vinke cortou a fala dele com um ultimato " irmão, já falei, Daqui a pouco risco lá. Agora  eu não saio daqui a não ser que ela me expulse. Vc vai me expulsar?" Os olhos brilhavam perigosamente, mas o sorriso de menino pego no meio de uma arte desarmava qualquer um . Vinke levou minha mão até sua boca e depositou um beijo em cada dedo. Quem esse menino pensava que era? Tava pensando que eu era uma de suas emocionadinhas que andava atrás dele? Em vez disso, apenas fiz um movimento com a cabeça concordando. O que eu estava fazendo? Eu tinha que mandar aquele garoto embora, tava na cara que ele era problema. Mas eu simplesmente não resistia ao seu olhar meio carente, mas muito sedutor . "Olha vc pode ficar aqui, mas não vamos ter nada. Entendeu?"  "Que isso minha doutora, tá estranhando o pai. Só quero o prazer da sua companhia".

 Simone e Simária arrasava nas pistas. Simária estava no auge da beleza e não perdia para nenhuma menina em formosura e sensualidade. Ao ver sua cabelereira negra dava até saudade de ter meus cabelos na cor natural de novo. Estava feliz com meu cabelo de Barbie girl.  Não sei se foi a música ou se fora o gim com agua tônica, quando percebi dançava coladinha ao MC.  Podia  sentir o cheiro forte de sua colônia importada. Um cheiro bom que entrava pelas minhas narinas e mexia com meu corpo todo. Diacho, eu tenho que me afastar, repetia para mim mesma. Por fora eu era pura indiferença, mas por dentro um friozinho estranho percorria meu pescoço até a ponta da espinha.  Vinke deslizava suas mãos grandes por minha cintura, como se estivesse contornando um objeto fino e delicado de um relicário. Deixou escapar um suspiro abafado entre os dentes. Ah, ele queria brincar de me seduzir. Tudo bem, eu iria mostrar para ele que era dançar um sertanejo universitário, eu faria aquele menino pedir arrego rapidinho. Debora dizia que poucos conseguiam me acompanhar, nos meus giros e passos diversos. Fiquei surpresa com o braço firme e musculoso que me conduzia e pela agilidade dos passos. Eu sempre fui uma exímia dançarina, acabei sendo conduzida por um parceiro que parecia adivinhar cada passo que eu ia dar. O danado tinha um remelexo gostoso e por nossas pernas estarem muito juntas, elas tocavam minhas coxas no ritmo da música. O corpo quente dele colado ao meu parecia arder em brasa. Uma música emendou a outra e nenhum de nós dois  parecia querer  parar.

" Vamos pra minha casa, doutora" Sussurrou Vinke no meu ouvido. " Não, menino. Vc tá louco? Você bebeu? Você tem show agora"  " Que se foda o show, que se foda o mundo. Eu quero você e sei que vc me quer. Não adianta nos  enganar. Você vai se minha ainda. Eu não vou desistir de vc." Disse ele lascando um beijo na minha boca. Antes que eu reagisse , ele já tinha desaparecido pela porta. Eu ainda fiquei alguns minutos parada. Toquei meus lábios com a ponta do dedo. Era como se uma descarga elétrica tivesse sido disparada sobre meu corpo. Tremia dos pés a cabeça.