"Porra, Ariani, vc não alivia pro pai, só me dá vácuo"
'"Garoto, deixa de perturbar meus juízes"
Minha voz ressoou no alpendre vazio. Por que eu estava gritando? Por sorte não tinha ninguém em casa. Eu senti os olhos de Elane em cada parede. Enquanto minha mãe matava pela língua, Elane era pelos olhos. Ô mulher para ter um olhar matador, aqueles que parecem atravessar nossa alma e arrancar o que tá lá no fundo. Era por isso que fez dias que eu fugia de Elane. Eu temia que a indiferença na minha voz não soasse convincente quando ela me questionar sobre a minha ida a casa de MC. Não reconhecia mais em mim a mulher decidida que sempre fui. Dona de um timbre firme e convincente que até advogados mais experientes tremiam na base quando eu falava. Agora tudo que eu ouvia era uma voz nervosa, como de alguém que não sentia mais o chão. Também pudera, Mc não saia do meu pé. Desde a festa de sua mãe,
"Porra, Ariani. Você tem que me entendre. Era uma fã minha"
"Você não tem que me explicar nada, a vida é sua ee eu não tenho contigo"
"Vei, tu não quer admitir, mas tá morrendo de ciúme, não é?"
O que aquele menino tava falando? O ego desviante subido pela cabeça dele só pode. Eu lá era mulher de ficar com ciúme de macho. Ainda mais macho que não era nada meu e nem eu queria que fosse. Não sei pq eu ainda o Recebia em meu apartamento. Fumei mais um cigarro, MC me ofereceu um cigarro de maconha. Talvez a erva acalmasse meu corpo e minha mente. A luz do sol competia com as lâmpadas. A tarde estava linda. A moça de saia rosa do 201 passeava com um poodle. A cachorrinha também vestia uma saia rosa e um laço na cabeça. De vez em quando ele parava como se quisesse ouvir sua dona gritar "esmeralda, esmeralda, volte aqui." A cachorra aproveita o máximo a presença de sua queria dona, já estava anoitecendo e a moça não costumava dormir em casa. Eu também podia ver a mãe do médico do 202 regando sua roseira como se quisesse prolongar a floração. Estava velha, talvez ela não visse a próxima estação. Ela tinha o olhar fixo, como se quisesse prender o tempo.
Eu buscava naquela tarde tranquila, equilibrar o batimento do meu coração .. "Ariani, aquele não é o seu carro?" A voz alterada de MC quebrou aquele momento mágico. Guiada pela urgência em sua expressão, eu voltei meu olhar para o outro lado da rua. Dois jovens entraram no meu carro. Ainda pude ver o boné do Flamengo com as abas para trás do motorista. Como fez isso sem o alarme soar era um dos mistérios que só a tecnologia do mercado negro podia explicar. Lá você encontra de tudo, até aparelhos bloqueadores de alarme.
"Sim, Tão levando meu carro. Ninguém me respeita mesmo, me roubar dentro do meu condomínio é o fim.".
"Eu conheço aqueles moleques, são da minha favela. Vou falar com eles.
Não sei como Mc chegou a rua tão rápido. Antes que eu pudesse reagir, ele tinha dado partida ao carro e se colocado atrás dos ladrões. Ele é louco mesmo, como podia se arriscar assim? E agora eu chamava a polícia ou esperava? O disparo das sirenes da rua principal chegava aos meus ouvidos como um som assunto. Seria a polícia chegando? Será que aconteceu alguma coisa com? Gostaria de que Elane estivesse ali comigo. Seria bom sentir seu olhar tranquilizador. A cada barulho, meu coração ameaçava pular pela boca. O condomínio inteiro se coletaa, apenas restara as mariposas em volta das lâmpadas orgulhosas. Longe eu ouvia os latidos de Esmeralda. Sua dona saíra outra vez. Dessa vez eu vira quando ela saiu. Não estava mais vestida de rosa, vestia um vestido preto justo, com alças tão finas quanto suas sobrancelhas. Uma sombra escura dava ao seus olhos um jeito de mulher fatal. Nem de longe lembrava a frágil jovem que passeava com seu cachorrinho.
Meus olhos ardiam com fumaça do cigarro quando MC chegou. Não veio sozinho. Quase não acreditei quando vi sai do meu carro um dos ladrões que tinha me roubado. O que ele tava aprontando? Cadê a polícia? Ele conversou alguma coisa com os rapazes e entregou algo para eles. Eu não acreditava que MC tava dando dinheiro para aqueles marginais?
Assim que MC pintou na porta eu cai em cima dele perguntando:
" Mc, o que está acontecendo?"
" Calma, vida. Tá tudo sob controle. Pai ja resolveu tudo."
" Vc tá dando dinheiro para esses marginais?"
" Calma, princesa. Tudo gente boa. Cheguei lá na favela, o dono lá de uma boca me reconheceu e pediu para os rapazes deixar o carro. Eles tavam sem dinheiro, dei uns trocados para os cara ir embora, sacou!"
MC era louco mesmo. Mas não podia notar que o garoto tinha atitude e eu gostava disso.
" Seu doido, vc podia ter morrido?"
" Confessa que ficou preocupada, confessa."
" Fiquei sim, o que eu ia dizer para sua...
Antes que eu terminasse a frase MC me puxou para cima dele. Cai meio desajeitada sobre seu corpo, mas o suficiente para sentir seu corpo rijo de homem. Eu queria me afastar, até tentei empurrá-lo, mas em vez disso grudei minha boca na dele. Seus lábios eram macios e quentes e sua língua empurrou a minha como um encontro de dois sedentos. Meu cérebro mandava eu parar, mas minha boca queria mais. Como ele beijava bem.
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Doutora
Roman d'amourUm jovem cantor de funk se apaixona por Ariani, uma linda advogada criminalista. Ela por sua vez teme se envolver com alguém que além de mais novo é famoso e vive uma vida de luxo, ostentação e drogas. Apaixonado, ele irá compor músicas falando...