Preparativos

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Eu estava cercada por luxo, mas me sentia sufocada. O casarão Zoldyck era imenso, um labirinto sem saída, com paredes frias e corredores silenciosos. A riqueza ali era como uma jaula dourada.

Como eu era proibida de sair da mansão dos Zoldyck, a mãe de Illumi mandava trazer os estilistas mais famosos do país para me vestir. Eles tiravam as minhas medidas, logo depois apresentavam uma seleção de roupas impecáveis. Seda, cetim, bordados detalhados... tudo feito sob medida.  No final, eu escolhia as que eu mais gostava. Era sempre assim, luxo no meio daquele nada.

— Está tudo ao seu gosto? — ela perguntou, mais por formalidade do que por real interesse.

— Sim, senhora Zoldyck. — Minha voz saía automática, como todo o resto.

Faltavam 3 semanas para a nossa festa de casamento e Illumi vivia fora de casa, sempre ocupado com as missões. Desaparecido. Eu cheguei a perguntar da mãe dele se ele não fazia questão de me conhecer melhor e a resposta dela foi " Ele confia cegamente em mim. Se eu acho que você é perfeita para ele, então é exatamente isso que ele deve achar de você". Na verdade eu fiz essa pergunta a ela não preocupada em saber o que ele acha de mim e sim para entender com quem eu estava prestes a passar o resto da vida.

Killua era o irmão mais gentil, o unico da familia que fazia a casa parecer um pouco menos opressiva. Ele era gentil, preocupado, uma luz no meio daquela escuridão. Ele sempre me perguntava se estava tudo bem e se eu queria realmente me casar com o irmão dele. A minha resposta era sempre sim, mas era uma resposta automática e robótica.

Uma vez, de noite, quando eu ja estava dormindo em meu quarto, acordei com um  barulho no corredor. O silêncio daquela casa fazia qualquer som ecoar como um trovão. Levantei da cama para ver o que era. fui até a porta, abrindo-a devagar. Dou de cara com Illumi entrando em seu quarto. Ele estava sujo e descabelado, tambem parecia ter um pouco de sangue em sua roupa. Segundos antes de fechar a porta, ele se da conta de que eu estava ali parada observando-o. Ele me retribui o olhar mas não fala nada. Então, virou-se e fechou a porta do quarto.

Essa era a sua rotina. Passar dias fora de casa e chegar assim, todo sujo e abatido, mas inquebrável. 

Voltei para minha cama, mas não consegui dormir. Aquela imagem ficou gravada em minha mente: Illumi, cansado, sozinho... 

No dia seguinte a esta noite, tomamos café da manhã todos juntos. O pai dele falou algo sobre um " amigo" que ele tinha. O dialogo não ficou muito claro na minha cabeça mas lembro do nome qual Silva repetiu varias vezes "Hisoka". O tom era ambíguo. Não parecia apenas negócios. Havia algo mais ali, uma espécie de vínculo que eu não compreendia.

Me surpreende ver que illumi teria contato mais estreito com outra pessoa que não fosse da familia. O jeito que o nome dessa pessoa foi mencionado. Pareciam ter algum outro tipo de relação.

Depois de eu ter passado pela aprovação da tortura, minha rotina era treinar todos os dias. Todos éramos obrigados a participar. Eles tinham um salão de musculação só pra eles e sempre que podia, Silva reunia a todos. Cada um com seus pesos, na posição de agachamento, de frente para silva, que era quem comandava os exercícios da familia. 

Umas semanas depois do meu flagelo, eu estava inserida completamente nos hábitos da minha nova " familia". Depois de uma sessão exaustiva de malhação, qual éramos todos obrigados a participar, até aquele gordinho- qual eu não faço ideia de como não conseguia emagrecer depois de tanto levantar ferro-, fui chamada por Silva. Ele me levou ate o escritório dele onde também me esperava ovô de Illumi. 

— Vamos fazer um teste. — Zeno entregou-me um copo com água. — Segure. Vamos descobrir que tipo de nem você tem.

A água parecia inofensiva. Estirei meu braço direito para pegar o copo da mão dele mas assim que meus dedos tocaram o vidro, ele se partiu em mil pedaços. A água escorreu pelos meus dedos, e cortes finos se destacavam na palma da minha mão.

O avô regala os olhos numa expressão de surpresa e Silva apenas sorri, satisfeito.

— Você é uma especialista! — exclamou Zeno, batendo palmas, como se tivesse acabado de presenciar um milagre.

— Teremos uma especialista na família Zoldyck. — Silva estava orgulhoso.

Eu olhei para minha mão ferida e senti algo diferente. Não era medo. Não era dor. Era poder. E naquele momento, eu soube que o verdadeiro teste estava apenas começando.

Cartas na mãoOnde histórias criam vida. Descubra agora