Com o passar dos dias Vándor logo percebeu que seria difícil sua estadia naquela escola e que ele era o primeiro plebeu em vários anos e ter o direito de estar ali. E sua história por mais que fosse intrigante, principalmente entre os professores, não lhe traria nenhuma vantagem entre os seus colegas alunos. Ophion é claro continuou pegando no pé de Vándor, aproveitando-se do seu tamanho para intimidá-lo, mesmo que essa intimidação nem sempre funcionava com o jovem que ferreiro.
Precisou apenas da primeira briga entre os dois para que Halasz entendesse como funcionaria as coisas ali.
- Mas professor, foi ele quem começou. - Disse Vándor para o professor Naedan.
- Eu não quero saber das suas desculpas, Halasz. Ataz é um aluno há muito mais tempo dessa escola e sua família contribuiu bastante para a mesma se mantivesse. - O Elfo se aproximou do garoto com seu olhar frio e odioso. Por mais que tentasse, seus olhos relevavam a verdade em seu coração a respeito do pobre garoto ferreiro. - Não quero saber mais de suas confusões, Vándor Halaz! Agora Vá! Sua punição pedagógica será a limpeza do herbário!A vontade que o garoto tinha era de mandar aquele professor e todos os elfos daquele lugar para a lua. Seus olhos se encheram de lagrimas, mas ele se manteve resiliente; levantou-se com as costas eretas, fez a reverência, e se pôs em direção a porta, segurando toda vontade de gritar que lhe enchia os pulmões. Lembrou-se de seu pai, com sua postura rígida e séria e tentou fazer igual.
Cada dia que passava Vándor odiava mais os elfos daquele lugar, principalmente seus colegas de dormitório, que faziam questão de lembrar de sua origem humilde e pobre. A única exceção a regra era Amkael, que sempre lhe era gentil.
- Deixa eu adivinhar, banheiros? - Disse ela encostada em uma arvore no pátio central da escola. usava agora uma trança longa, mas alguns fios soltos voavam em seu rosto por conta do vento. Vê-la sempre, de alguma forma, acalmava os ânimos do rapaz, por mais irritado ou chateado que estivesse. Por vezes Vándor achava que ela soubesse disso e que poderia usar isso para manipula-lo, por isso tenta não demonstrar o quão inseguro e impressionado ele ficava quando a garota estava por perto.
- Herbário. - Respondeu ele respirando fundo.
- Talvez seja pior. Cuidado com as mandrágoras do professor Pinus! - Disse ela rindo. Vándor respirou fundo mais uma vez, mas seus olhos estavam flamejando de tanta raiva. Ela se aproximou do garoto, deu-lhe um soquinho no ombro para amenizar a situação- Qual é Vándor, não precisa ficar assim tão bravo. Limpar o herbário não é tão díficil.
- Não é isso que me deixa irritado. Eu até gosto, me lembra de casa, quando tinha que ir buscar ervas para minha mãe.
- Já entendi.
- Eu deveria ir embora desse maldito lugar. Já que minha presença incomoda tantos esses orelhas pontudas.
- Nós, orelhas pontudas, podemos ser um pouco irritantes mesmo
- Desculpe. Eu não quis ofender, é só que... - O garoto suspirou e abaixou a cabeça. sentou-se num banco próximo e afundou o rosto nas mãos apoiadas nos joelhos. - Todo mundo fica me lembrando que eu não deveria estar aqui e que eu não sou nobre e...
- Eu também não sou uma nobre. - Disse a elfa interrompendo o garoto. Ele levantou a cabeça intrigado com a afirmação. - Não completamente na verdade.- Para encurtar a história o meu pai teve uma Aarien Raica Nöre. Como eu traduzo isso para você...
- Uma Amante? - Ariscou Vándor. Seu elfico não era dos melhores, mas ele arranhava um pouco
- Algo semelhante a isso. Pois bem, de qualquer forma eu não sou uma nobre, como deveria ser. E bem, eu não fui hostilizada por isso, mas sim por ser fruto de uma traição. As tradições Eldalië são bastante claras a respeito do adultério na minha tribo, então o que meu pai resolveu fazer para amenizar a situação?
- Te mandou pra cá. - Adivinhou o garoto. A elfa concordou, com as sobrancelhas levantadas.
- Pelo menos você tem o dom natural para magia e será uma grande maga um dia. Eu sinto que nunca vou conseguir chegar ao seu nível.
- Não sou uma feiticeira, Halasz. - Amkael cruzou os braços em reprovação. Cobrindo o rosto do Vándor do sol, ela parecia grandiosa aos olhos do rapaz. - Tudo o que sei aprendi com muito esforço. E sofri tanto quanto você sofre hoje. Então vou lhe dar um conselho bastante importante: O seu cérebro é tão afiado quando o de qualquer um que está nessa escola. Você não é forte, não é o mais inteligente, ou rápido ou rico daqui. Portanto estude o máximo que você conseguir e se destaque. Caso contrario todos que estão aqui vão pisar em você, até que você quebre!Passou-se alguns minutos desde que Amkael foi embora, deixando seu conselho ecoar pelos ouvidos do garoto. Aquelas palavras despertaram lembranças em sua mente, do tempo antes de ele sair em viagem. Quando conseguiu conjurar magia sozinho. É claro que não funcionou da maneira que ele queria, mas ainda sim: Magia!
O jovem ferreiro gostava de limpar o herbário, pois poderia ficar afundado em seus pensamentos e refletir sobre a vida que nem percebeu quando o professor Pinus chegou ao recinto.
- Professor! - Disse ele assustado ao perceber que não estava sozinho.
- Fez merda de novo, não é garoto? - Pinus era um humano com aproximadamente 70 anos e que ostentava um longo cabelo branco e costeletas protuberantes do rosto. Era reverente e suas aulas bastante humoradas, mas não admitia que cuidassem mal de "seu herbário", como ele gostava de se referir ao lugar.
- Na verdade só fui acusado de fazer merda. Ophion quem começou. Eu só... - Pinus levantou a mão e Vándor calou-se imediatamente.
- Essas ervas podem ser podadas com o sol em seu caule. - O motivo pelo qual o garoto estava ali era irrelevante para o antigo mago, apenas o bem estar de suas plantas importava.
- Perdão, professor. - O mago continuou com suas anotações e experimentos quando por impulso o garoto perguntou. - Senhor, eu gostaria de saber se pode me dar uma dica para melhorar meu rendimento nas aulas.
- Como é? - Perguntou Pinus incrédulo. Os alunos novatos não se preocupam com o rendimento, não pelo menos antes das provas semestrais. - Por que quer melhorar seu rendimento, Halasz?
- Bem, eu não sou um nobre senhor, então preciso me esforçar mais se quiser ser alguém.
- Hmm! - O mago coçou o queixo pensativo. - Você tem razão. O primeiro conselho é: Pare de arrumar confusão. E depois, peça ajuda á alguns de seus colegas que estão com mais facilidade, talvez ajude.O dia passou e quando a noite chegou finalmente o herbário estava limpo e organizado e sua punição estava cumprida. Suas mãos, cheias de cortes e arranhões doíam de tanto trabalhar, mas ele estava orgulhoso do seu feito. Estava se direcionado ao dormitório quando resolveu fazer um pequeno desvio. Se direcionou para a biblioteca, onde sabia que poderia encontrar alguém com bastante conhecimento a ponto de ensino. Por mais que fosse uma elfa.
- Preciso da sua ajuda. Quero que me ensine e me ajude a aprender mais. Eu sei que sou um aprendiz de ferreiro, mas posso ser um bom aluno. Por favor! - Disse ele quase implorando.
- Eu não sou boa em ensinar, Vándor. Desculpe
- Por favor! - Repetiu o garoto. Seus olhos brilhavam e a elfa sabia que o garoto estava desesperado.
- Tudo bem. Mas já deixo avisado que não sou um professora gentil! - Disse Amkael, guardando o livro que estava lendo na prateleira.
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Masmorras & Dragões
FantasíaTodo herói tem sua origem. Num mundo onde magia é algo real, pessoas comuns tentam viver suas vidas de maneira pacifica e tranquila. Vándor, por outro lado, só queria saber de conhecer o mundo e todos os seus segredos, visitando os cantos mais remo...