Contido Por Muito Tempo

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As estrelas que iluminavam aquela noite calma viam-se claramente da praia. Uma brisa quente balançava os cabelos cor de rosa de uma jovem de quinze anos, que estava sentada na areia fina e fresca. Dois rapazes aproximavam-se dela a sorrir e a falar. Um deles tinha vestido um casaco desportivo vermelho e o outro vestia apenas uma camisa azul clara de manga curta. Ambos tinham quinze anos. 

O rapaz com a t-shirt usou as mãos para tapar os olhos da menina sentada de costas para ele.

-Eu sei que são vocês.

-Agora tens de adivinhar qual de nós é. - disse o rapaz do casaco vermelho desafiou, mesmo sabendo que ela conseguiria adivinhar.

-É o Miguel...

-Ahh assim não tem graça.

Os dois rapazes sentaram-se ao pé da jovem e ficaram a falar enquanto olhavam para a lua refletida no mar.

João pensava nessa memória enquanto olhava para o teto do sotão de sua casa. 
-Esperem por mim, para o ano que vem.

💕

O trimestre já estava a quase meio e tudo corria normalmente. Ribeiro e Valadares divertiam-se nos intervalos e ficavam mais próximos da turma a cada dia que passava. Cada vez melhores nos matraquilhos também. Continuava a ser raro o dia em que todos os alunos daquela turma procuravam desesperadamente moedas de vinte cêntimos dentro das carteiras, bolsos, malas, mochilas e até pelo chão de toda a escola. Curiosamente, Valadares chegou a encontrar uma dessas moedas na casa de banho. Tudo corria bem.
Depois de algumas avaliações, Ribeiro ainda não tinha recebido nenhuma nota a baixo de um quinze e chegou a estudar com o melhor amigo para ele seguir o seu exemplo. 
Valadares ainda parecia ser duas pessoas num só corpo. Pelo menos era assim que Ribeiro pensava durante a escola, sendo que se esquecia desse ponto quando estava sozinho com o mais novo.
O pai de Ribeiro não voltou a mostrar sinais de vida, o que não espantava o rapaz. 
Para além disso, Ribeiro e João nunca abriram a boca sobre Filipe e Daniel na escola, mas tiveram de contar a Valadares.

Era quarta feira à tarde, Valadares e Sónia estavam deitado na relva do parque perto da escola. Estavam agarrados, praticamente colados. A loira ria por nada e às vezes beijava os lábios do mais alto. 

-Nós devíamos tornar isto... Mais sério... Não achas? - dizia a jovem baixinho.

-O que é que queres dizer? - o mais velho tentou entender com uma expressão neutra - Estás a falar de namorar ou algo assim?

-Não... Quar dizer, se me pedires em namoro eu posso pensar na tua proposta com carinho, a ver se mereces. Mas eu estava a falar de dar um passo à frente. - Sónia passava a mão pelo peito do rapaz, descendo-a lentamente.

Valadares levantou-se rapidamente, sentando-se e tirando a mão da mais nova de si.

-Podemos ver isso um dia destes. Mas olha para as horas! Prometi que ia passar a tarde com o Ribeiro. 

-Combinamos então um dia? Um dia em que não estejas ocupado com o amiguinho génio.

-Sim... Adeus.

E o rapaz virou costas e começou a andar até ao estacionamento. Chamou um carro para ter boleia para casa e mandou mensagem para o melhor amigo a avisar que já estava a caminho.
O carro chegou e o rapaz loiro aproveitou para penar um pouco no caminho para casa.

Era claro que até se divertia com a Sónia ao seu lado, mas também sabia que era só um brinquedo de alguém desesperado por ter atenção e quase idolatrada. Valadares não sabia se realmente lhe era indiferente. Não conseguia mentir para si mesmo, às vezes imaginava como seria receber beijos e carinho de alguém que realmente gostava dele. Mesmo assim, dizia para si mesmo que ainda tinha tempo e que relações estáveis só faziam sentido mais tarde.
Se calhar seria boa ideia afastar-se de Sónia, mas porque é que ele pararia? Afinal pensava que gostava da sensação de ter aquela atenção para si.

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