Tomás e Tomás

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Tomás e Tomás...
Dois nomes iguais que pertecem a pessoas diferentes com coisas em comum.

Tomás Valadares sempre foi alto e magro. O seu cabelo loiro sempre combinou com os olhos verdes e brilhantes.
Tomás Ribeiro sempre foi mais baixo e mais moreno, com olhos de outono e os cabelos escuros, que sempre combinaram também.
Os dois nasceram no mesmo ano, no mesmo mês, embora o moreno tenha nascido dias mais cedo.

Os dois rapazes combinavam também numa amizade que começou muito antes de aprenderem a ler e a escrever. Na verdade, quando se conheceram, ainda cometiam muitos erros enquanto falavam.

Numa tarde de primavera, a Mãe do pequeno Tomás Valadares decidiu levá-lo ao parque infantil da alameda onde vivam. Chegando lá, a mulher jovem reconheceu uma amiga antiga e avisou o filho:
-A Mãe vai ali falar com uma colega de escola, não saias daqui para te conseguir ver. Se precisares de alguma coisa, vai lá ter comigo, pode ser?

O menino loiro acenou com a cabeça e virou as costas para ir brincar.

Viu um rapaz que parecia ter a sua idade sentado num baloiço a olhar para a bola branca e preta que tinha nas mãos.
Tomás aproximou-se e chamou a atenção do rapaz moreno.

-Olá... Quem és tu? - perguntou baixinho.

O rapaz sentado levantou a cabeça, deixando o loiro reparar nos seus olhos castanhos.

-O meu nome é Tomás... - respondeu a medo.

-Eu também chamo-me esse nome!

E ambos sorriram.

-Estás aqui sozinho? - o rapaz moreno perguntou.

-A minha Mãe foi falar com uma amiga. - disse o loiro, apontando para as duas mulheres que falavam perto de uma carrinha de mudanças.

-A amiga da tua Mãe é a minha Mãe?

-Eu não sei quem é a tua Mãe... Mas se a tua Mãe fôr ela, deixa as nossas Mães conversarem! Nós temos a tua bola, podemos brincar com ela. Se tens uma bola, porque é que tu não andas a correr atrás dela?

-Uns meninos mais velhos estavam aqui e não deixaram-me jogar com eles e depois foram embora e depois eu fiquei sozinho sem ninguém para jogar.

-Agora tens eu para jogar!

E os dois meninos de quatro anos passaram a tarde a correr atrás da bola, acrescentando regras ao futebol e esquecendo-se de outras.
As Mães dos rapazes eram realmente amigas e, ao ver que os seus filhos se deram bem, sorriram e deixaram-nos brincar juntos todas as tardes depois de saírem do jardim de infância.
Tomás Ribeiro não entendia o que estava a acontecer, mas mudou-se com a Mãe para a Alameda onde o seu novo amigo vivia, devido ao divórcio dos seus pais.

Durante o primeiro ciclo, os dois rapazes só se tornaram mais próximos. Estiveram na mesma turma do primeiro ao quarto ano e jogavam à bola todos os intervalos com os novos amiguinhos. Às vezes, as mães dos rapazes combinavam jantares entre as duas famílias e muitas vezes os rapazes chegaram a adormecer juntos a ver os seus desenhos animados preferidos.
Quando um deles esfulava o joelho ou se cortava no papel, o outro tratava de lhe pôr um penso e dar um beijinho por cima, como viam as suas mães a fazerem para melhorar os seus filhos.

Começaram a ir a treinos de futebol, embora em clubes diferentes, o que só aumentou a paixão que ambos tinham por aquele desporto de que toda a gente fala.

Ambos foram para a mesma escola quando passaram para o quinto ano. Para além disso, os dois quiseram aprender música e tocar um instrumento.
Depois de fazer as provas numa escola que os permitia ter as aulas, tinham medo de não conseguirem entrar os dois.
Felizmente, ambos conseguiram entrar. O loirinho começou a tocar guitarra e o moreno começou a tocar trompete.
Na turma da escola nova, todos começaram a tocar um instrumento também. Era uma turma unida e os dois rapazes conseguiram integrar-se muito bem. Começaram a ser tratados pelos apelidos. Valadares, mais tarde abreviado para Val, e Ribeiro começavam agora a não ser só os dois.

Para além de mais amigos, os dois rapazes começaram a receber bilhetinhos e mensagens de meninas. Até ao oitavo ano, não ligavam muito a esse pormenor, mas a partir daí começaram a divertir-se com isso, especialmente o Val.

Ribeiro era um dos melhores alunos da turma, com notas altas e uma inteligência única. Valadares seguia o exemplo do melhor amigo e estudava com ele de vez em quando.
Durante os testes, quando um deles não tinha a certeza ou não sabia de todo uma resposta, o outro não negava "ajudar".
Uma dupla que se tornava mais dinâmica a cada dia que passava.

Durante dois anos, Val foi saltitando de paixão em paixão. Às vezes levava a guitarra para a escola e sacava sorrisos das moças da escola, assim como quando falava de como marcou o golo da vitória do último jogo.
Ribeiro preferia estudar trompete em casa, depois de fazer exercícios de matemática, quando não estava com os amigos da escola ou nos treinos.

Apesar de serem diferentes, todas as semanas eles tinham tempo para jogar jogos de vídeo e sair até ao parque para jogar futebol, sozinhos.
Afinal de contas, ainda adoravam todos os momentos que passavam juntos, mais do que qualquer outro que passavm com namoradas ou outros amigos.
Quando se magoavam (o que continuava a acontecer), o outro continuava a preocupar-se e a ajudar. Quando Ribeiro partiu a perna, Val levou todos os dias a mochila dele. Quando Val se cortou na mão num pedaço de metal saído de uma baliza, Ribeiro foi com ele e com a a Mãe dele até ao hospital para o corte ser costurado. Chegou até a mudar o penso que o seu melhor amigo teve de usar nos dias que se seguiram.

O nono ano acabou e, com quinze anos, os dois rapazes decidiram com o resto da turma que iriam todos para o mesmo curso, ciências e tecnologia, na mesma escola secundária. Era uma escola nova, grande e com ótimas condições. Decidiram também que seria melhor não continuar com as aulas de música, mesmo sabendo que poderiam tocar sempre que quisessem.

Quando o ano começou, Valadares e Ribeiro viram que a sua turma tinha sido quase toda separada na escola nova. Felizmente, ficaram os dois na mesma turma. Foram apenas com mais uma colega, que também tocava trompete.

O décimo ano está prestes a começar, e de certeza que não é só uma nova etapa a nível académico, porque estes passados onze anos foram apenas o começo nesta história.

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