Capítulo 3

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    Na manhã seguinte, Mônica desperta animada e motivada para o seu segundo dia de trabalho. Ela se veste, toma café e sai às pressas para a sua charrete, rumo ao rodo de bonde do Alcântara, para pegar sua condução até o trabalho, no centro de São Gonçalo. O conflito mental de Arnaldo povoando sua mente e coração continuava cada vez mais forte. Ele destruiu seus sonhos e incendiou o seu futuro, preenchendo completamente tudo o que ela pudesse imaginar. Um sofrimento prazeroso, como uma droga alucinógena e destrutiva, que mesmo sabendo de seu efeito, o desejo doentio apenas iria fazer aumentar cada vez mais esse desejo de tê-lo por perto. Nada mais estava sendo o suficiente para Mônica. Ela precisava de Arnaldo na vida dela completamente e ela estaria cada vez mais disposta a isso. Ao chegar ao escritório, na imobiliária, Mônica se troca e prende o cabelo, Ela verifica e limpa todo o local, passando por todas as salas e cômodos. Em seguida, chega Arnaldo e ela se prepara para atendê-lo.

- Bom dia, senhor Arnaldo. Já arrumei os cômodos e preparei o seu café, da forma que o senhor gosta.- diz Mônica.

- Bom dia, Mônica. Muito obrigado. Você é muito eficiente.- diz Arnaldo.

- Eu notei que o senhor também é muito fã de livros! Eu aprendi a ler quase que sozinha, com o auxílio de uma bibliotecária.- diz Mônica.

- Mas isso é ótimo. Eu sempre retiro algumas horas por dia para ler. É uma forma muito prazerosa de viajar para lugares em que eu ainda não posso estar. É uma pena que eu não consegui estimular isso em meus filhos.- diz Arnaldo, lamentando.

- Ah, mas o senhor conseguirá! Afinal, é um pai maravilhoso. Não se precisa de

tanto tempo para se notar o quanto que o senhor é especial.- diz Mônica, tentando se conter.

- Obrigado, Mônica.- diz Arnaldo, com um sorriso mais tímido.

Mônica simula um espirro ao passar por uma planta e Arnaldo lhe entrega prontamente o seu lenço, que ela movimenta a cabeça, agradecida, mas nem sequer tem vontade de usá-lo. Ela sai do escritório aspirando profundamente o perfume de seu amor proibido. Seria uma forma de matar a saudade dele, nos momentos em que estivesse afastada. Ela faz as suas tarefas rotineiras com o passar das horas, mas tudo aquilo ainda não bastaria. A sua paixão doentia estava cada vez mais descontrolada e ela não iria sossegar enquanto não tivesse Arnaldo sob o seu poder. O homem ainda assim não se sentiu cativado o suficiente através da inteligência dela, então ela teria que apelar com jogos baixos de sedução. Ela teria que se arriscar. Isso valia mais do que a sensação frustrante do ciúme e paixão ardente que sentia.

Após o horário de almoço, Mônica decide colocar toda a coragem em ação,

aproveitando o melhor momento. Ela se maquia, borrifa perfume, levanta mais a barra do vestido, colocando mais à mostra suas pernas grossas e bronzeadas e desabotoa mais o vestido, deixando mais evidente os seus seios. Ela verifica sua nova aparência no espelho e solta o cabelo, ficando com uma aparência mais libidinosa e sedutora. Era o momento dela servir café e o seu corpo para o patrão. Arnaldo seria totalmente dela, naquele momento.

Ao passar com a bandeja pelo corredor, ela chama a atenção de alguns funcionários.

Ao entrar, causa uma impressão de pavor no homem.

- Mônica?! O que você tem?!- questiona Arnaldo, abismado com a aparência da funcionária.

- Eu somente vim lhe trazer o café.- diz Mônica, colocando a bandeja em sua mesa, como pretexto para exibir os seios, ao se inclinar.

- Por favor, Mônica! Volte e se arrume decentemente! E retire essa maquiagem

pesada!- ordena Arnaldo, se preparando para levantar.

Mônica agarra a gravata de Arnaldo e puxa contra ela, roubando um beijo. Arnaldo começa a se sentir dominado e Mônica vai se sentindo vitoriosa, retirando o seu paletó lentamente, enquanto o beija.

Ao tentar retirar o vestido, Arnaldo a espalma, mas Mônica resiste. Ele a empurra com mais força.

- O que foi?! Não gostou?!- pergunta Mônica, com um sorriso malicioso.

Arnaldo limpa a boca e veste o paletó com o cenho franzido. Ele volta a olhar para Mônica.

- Está demitida, Mônica! Vá se trocar, e quando sair, vá receber os seus direitos!- diz Arnaldo friamente.

Mônica retira a maquiagem, já borrada pelo choro e troca de roupa, no banheiro. Ao sair, o contador faz um cálculo rápido e coloca uma quantia razoável em um envelope para ela. Mônica lacrimeja e sai frustrada do escritório, mas se recusa a usar o lenço de Arnaldo que estava guardado. Para ela, o lenço era a única peça em que poderia manter ainda com algo que fizesse sentir a presença dele.

Mônica volta para casa, muito frustrada e pensativa no grande erro cometido, ao se deixar levar pelos impulsos afetivos. O percurso no bonde é rápido, mas os embalos na charrete são como se a sua vida fosse sacudida lentamente ao som do trote dos cavalos.

Durante a travessia rumo a sua casa, ela se sentia destruída por dentro. Havia perdido completamente todas as chances de ter o grande amor de sua vida. Agora, o negócio era tocar a sua nova vida. Uma nova vida sem o Arnaldo.

Mônica entra em casa e a sua mãe ainda não tinha chegado. Ela troca de roupa e afunda na cama, ainda pensativa sobre o que fará da sua vida. Ela se levanta e vê um jornal bagunçado perto da cama. Ela verifica se havia alguma oferta de emprego, mas desanima ao ver que o jornal era velho.

Antes de descartá-lo, Mônica observa um anúncio chamativo. "Trago o seu amor, seja quem for". Uma cartomante. Por que não, tentar? Mônica sorri involuntariamente e decide procurá-la.

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