Capítulo 15

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- Acalme-se, Antônia! Tudo dará certo! Você sabe de mais alguma coisa?!- pergunta Mônica, acalmando a menina.

- Não! Eu somente vi a polícia vindo junto com o meu pai para o meu irmão! Parece que descobriram que ele que assaltou e incendiou o local. Se a Justiça identifica isso como fraude, nós estaremos falidos!- diz Antônia, aos prantos.

- Nada para Deus é impossível, Antônia! Oraremos e buscaremos o seu pai e o seu irmão.- diz Mônica, segurando firme nos ombros de Antônia.

A oração de Mônica cria uma camada de luz por toda a casa, afastando a tentativa furtiva e sorrateira de Navarra, que se esquiva da casa imediatamente. Galiel pousa próximo a casa, fazendo olhar de reprovação para a súcubo.

Mônica e Antônia saem de casa, andando apressadamente pela rua escura. Navarra observa um bom momento para interagir e levanta voo, sendo seguida por Galiel.

- Nem ouse tocar nas ungidas do Senhor!- diz o anjo.

- Não farei isso! Tenho muitos peões na rua para usar contra elas!- diz a

súcubo, sorrindo maliciosamente.

As ruas de São Gonçalo quando anoitece, ficam desertas, por todos já estarem em suas casas. Mônica e Antônia ficam preocupadas, mas ignoram pelo medo de algo pior que pode acontecer ao Arnaldo e José.

- Tem certeza que o reformatório fica por esse caminho?!- pergunta Mônica.

- Fica sim! É perto da escola em que eu e meu irmão vamos!- diz Antônia.

- Cuidado! Vamos mudar de calçada, porque tem um bêbado muito estranho perambulando ali na rua.- diz Mônica.

- É o meu irmão! Ele deve ter fugido de lá! Temos que tirá-lo do meio da rua!- diz Antônia correndo até ele.

Mônica observa um estranho vulto com silhueta feminina soprando algo em direção ao ouvido de José. Era influência maligna que seria desfeita com oração e fé.

Mônica corre em oração e o vulto desaparece. O menino ainda parecia disposto a morrer.

Pelo fim da rua, Mônica observa um carro conversível correndo pela rua e observa o mesmo vulto feminino, agora soprando o ouvido do motorista. A ação maligna sobrenatural foi repetida, mas Mônica não iria deixar prevalecer.

Ela se desespera por não ter tempo para correr até ele ou alarmá-lo para sair do caminho. Antônia se apavora.

- José!! Saia da rua!!- grita a irmã, aos prantos.

Mônica derruba e esvazia uma grande lixeira e a arremessa em direção ao carro, atingindo e desviando a rota, rumo ao muro, provocando o acidente. Antônia corre até José e Mônica vai socorrer o motorista, que estava com a testa ensanguentada e ainda tonteado e dolorido pela batida.

- O senhor está bem?!- pergunta Mônica.

- A senhora é louca?! O que pretende, provocando esse acidente?!- questiona o homem, ainda sem forças para sair do veículo.

- Por favor, não precisa se levantar! Eu vou pedir ajuda para o senhor!- diz

Mônica, tentando tranquilizar o motorista acidentado.

Mônica atravessa a rua e corre até o casal de irmãos. José ainda estava embriagado e exausto.

- Meninos! Voltem para casa! Eu vou até a delegacia para soltar o seu pai!- diz

Mônica.

Em instantes, uma ambulância e um caminhão de guincho vai até a rua para levar o ferido e rebocar o veículo. Na delegacia, Mônica leva um envelope com o dinheiro emergencial, guardado por Arnaldo no guarda-roupa de Antônia e paga a fiança, para que ele fique liberto provisoriamente, até o dia de responder ao processo. Ao ver Mônica na recepção, Arnaldo se sente mais envergonhado por tudo o que fez de ofensivo e agressivo.

- Não tem charrete a essa hora, Arnaldo! Teremos que ir a pé.- diz Mônica.

- Não tem problema! Vamos logo para casa.- diz Arnaldo.

Ao sairem, o casal anda em passos rápidos e Arnaldo segura na mão de Mônica, surpreendendo-a.

- Eu quero pedir desculpas por tudo o que eu fiz. Não imagina que mesmo assim, você apoiaria a mim e aos meus filhos, neste momento tão complicado.- diz Arnaldo, olhando para ela.

- Não se preocupe, Arnaldo. Tudo vai dar certo e eu estou disposta a reconstruir a sua família de volta.- diz Mônica.

- Reconstruir? Como assim?- questiona Arnaldo.

- Reconciliar... restaurar... recuperar... do ponto em que começou a dar errado.- diz Mônica.

Arnaldo para de andar e olha para o lado. Mônica se preocupa por eles não se movimentarem naquela rua deserta.

- O que foi, Arnaldo?! Não esperava por isso?!- questiona Mônica.

- É que... eu achava que teria chance de ser feliz com você! Até senti que os meus filhos estão começando a aceitar isso.- diz Arnaldo.

- Realmente ficou uma afinidade entre mim e os seus filhos. Mas eles têm uma mãe, que sofre por não estar com eles... e com você.- diz Mônica.

- Eu vou sentir sua falta.- diz Arnaldo, com a voz embargada.

Mônica respira fundo e vê uma lixeira longe com um buquê de rosas brancas. Ela puxa Arnaldo até o local.

- Veja essas flores. São rosas brancas! São as minhas preferidas. Simbolizam a pureza, o matrimônio, o segredo, a inocência, a reverência e a paz.- diz Mônica retirando uma das flores.- Eu queria ser como esta flor, mas eu não me sinto mais pura, nem em paz comigo mesma! Eu maculei um matrimônio, ferindo o segredo do amor de um casal com uma família estruturada, transgredindo de forma irreverente e prosmícua. Não há mais nada de mim que possa ser representado nesta flor.- Mônica esmigalha o bulbo da flor e a joga com o talo de volta no lixo.- E é assim que eu me sinto agora! Uma flor tão bela, só que destroçada e descartada, confinada ao lixo. Já parou para imaginar o que fez esse buquê ser dispensado?!- questiona Mônica, enquanto Arnaldo nega com a cabeça.- Pois é assim que a minha alma e o meu coração se sente!- Mônica diz olhando para Arnaldo, que não pronuncia nada por um breve silêncio.- Quero voltar para casa! Para a minha casa!- diz Mônica.

- Claro, Mônica. Não questionarei!- diz Arnaldo, com os olhos marejados.

Os dois continuam andando pela rua deserta. Mônica sente que havia um vulto por perto, mas não sente medo.

- Deus está no controle.- diz Mônica, fazendo Navarra recuar.

A súcubo observa de longe o casal se distanciando e odeia tudo o que vê. A criatura começa a temer o que será de seu legado, após ter um trabalho tão perigoso desfeito, na base da fé e da libertação espiritual.

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