Na manhã seguinte, Arnaldo nota um clima estranho no ar, detectando amistosidade entre Mônica e os seus filhos. Ele havia chegado bem tarde, informando a Mônica que estava na delegacia e na seguradora, prestando depoimentos e fazendo mais registros e análises. Mônica havia simulado surpresa para não demonstrar que já sabia de tudo.
- E então, Arnaldo? Acha que terá uma resposta positiva?- pergunta Mônica, servindo o café.
- Não! Foi perda total! A seguradora irá cobrir o prejuízo, mas vão levar alguns
meses para eu voltar a atividade. Vou terceirizar os procedimentos administrativos enquanto isso e estou pensando em fazermos uma viagem durante o resto do mês, antes dos meninos voltarem às aulas.- diz Arnaldo.
José e Antônia se entreolham. Mônica não questiona. Arnaldo se levanta e vai para sua reunião com os contadores em outra imobiliária para firmar o trabalho provisório e Mônica espera ele sair.
- Meninos! Preciso sair e conto com a cooperação de vocês!- diz Mônica.
Ao sair, Navarra observa tudo de longe e tenta impedir a ação de Mônica, indo de encontro com ela, porém é surpreendida pelo anjo Galiel.
- Saia da minha frente! Tenho um caminho para deturpar!- diz Navarra, sacando e abrindo a navalha.
Galiel desembainha uma espada dourada maior e ainda mais potente no fogo. Ele agora estava muito mais forte devido às orações da mulher. Navarra desiste de provocar.
- É melhor eu ir e planejar uma nova estratégia para enfraquecer a mulher. Daí eu quero ver você tentar me impedir!- resmunga Navarra, se afastando.
Mônica percorre as ruas e encontra o endereço e a casa. Ao se aproximar do portão, ela estende a palma da mão e ora silenciosamente. Antes de chamar, uma senhora, que já a observava, se aproxima.
- Bom dia!- cumprimenta a senhora.
- Bom dia! Meu nome é Mônica. Eu preciso falar com a dona Solange. É sobre o casamento dela. É muito importante.- diz Mônica, fazendo a senhora levantar as sobrancelhas.
- Tudo bem! Entre!- convida a senhora.
Mônica observa a ampla casa enquanto entra. Era tão grande e confortável quanto a casa de Arnaldo.
- Meu nome é Severina! Eu estou te achando familiar, menina! Sente-se e fique à vontade. A minha filha já vai descer e falar contigo.- diz a velha, indicando o
sofá e subindo a escada.
- Obrigada, dona Severina.- agradece Mônica.
Mônica fica pensativa sobre a reação que Solange terá. Certamente ela não estará preparada, mas a semente da reconciliação precisava ser plantada naquela hora.
Próximo dali, em um escritório, Arnaldo tem o seu encontro com um advogado, um contador e o investigador, que retira da pasta de couro as laudas da primeira perícia.
- Doutor Arnaldo. Seu estabelecimento foi arrombado e destruído, mas a perícia não aponta crime de vandalismo e sim uma fraude de família.- diz o investigador.
- Como assim?! Somente eu que trabalho e tenho acesso a tudo!- questiona Arnaldo.
- O sumiço das chaves indica furto cometido pelo seu próprio filho, que será
encaminhado a um reformatório e o senhor será responsabilizado. A indenização foi negada e o senhor está intimado a fechar o estabelecimento.- diz o investigador, entregando a intimação.
Arnaldo recebe a notícia como uma sentença de morte. Se sentia sem chão e sem futuro naquele momento. Ele não sabia mais o que seria de sua vida, naquele instante.
Mônica ouve o som dos passos de Solange na escada. Ela era uma jovem senhora de meia idade, tão bonita quanto nas fotos que havia visto em casa. Porém estava muito abatida, talvez por alguma enfermidade.
Mônica fica em pé e estende a mão num cumprimento, aceito por Solange.
- Prazer em conhecê-la, Mônica. Sente-se, por favor.- diz a mulher, indicando o
sofá.
- O prazer é meu. Precisamos falar sobre algo importante: o seu casamento.- diz Mônica, enquanto os olhos de Solange mudam.
- Fui expulsa de casa pelo meu marido! Mas logo soube que ele arrumou outra.- diz Solange franzindo o cenho e cerrando os dentes.
- Sim! Sou eu!- diz Mônica, trazendo toda a fúria no raciocínio de Solange.
A mulher levanta em um salto e começa a atear vários objetos nela. Mônica vai se esquivando e tentando encontrar um meio de explicar e acalmá-la.
- Sua ordinária, pilantra, meretiz, puta, cachorra!! Como ousa vir até aqui?!-
esbraveja Solange.
- Acalme-se, dona Solange! Eu vim aqui para ajudá-la!!- grita Mônica.
Severina se aproxima com a bandeja de café, assustada com os gritos das duas mulheres e com o som dos móveis destruídos.
- O que está havendo aqui?!- questiona a velha.
- Esta cadela imunda que foi o pivô da minha separação!!- grita Solange.
Mônica derruba a bandeja de café, assustando e distraindo as duas e foge de casa, saltando o muro. Ela corre o máximo que pode, ao som da gargalhada de Navarra, que contemplava tudo do alto da casa. Mônica para de correr e desiste de fugir.
- Vou orar e pedir ideia e sabedoria para solucionar a questão! Eu não tenho o que temer e não vou fugir!- murmura Mônica.
- Não gosto nada disso...- murmura Navarra, com a mão na boca.
A súcubo levanta voo e vaga por vários territórios, em busca de trabalhos que
possam revigorar suas energias malignas. Ela estava perdendo força e espaço naquele pacto, através do firmamento da fé de Mônica. A tarde passa e Navarra faz as leituras sensoriais e descobre que Sônia estava em um cemitério, fazendo mais um de seus trabalhos. Ela voa até o local e aparece para a bruxa, que estava compenetrada violando um feto, no alto do morro do terreno.
- Navarra! Não é da sua linhagem que eu preciso para este trabalho.- diz Sônia.
- Eu não vim para isso! Preciso de ajuda!- diz a súcubo.
- Eu não sirvo a você! Vocês, espíritos do abismo, que servem a mim!- diz a bruxa.
- Eu sei! Mas você precisa me ajudar! Você precisa eliminar a sua cliente! Eu estou enfraquecendo, apodrecendo e ganhando aparência de verme! Corro o risco de ter todo o meu aspecto espectral aprisionado e desfigurado no abismo. Perecerei para sempre!- diz Navarra.
- Se isso acontecer, não será problema meu! Eu somente sou responsável pelas ações ocultistas e sigilutistas. Se a minha cliente está conseguindo se libertar é porque está sendo inteligente o suficiente para buscar algo mais poderoso que você!- diz Sônia.
- Então é assim?! Tantos trabalhos vitoriosos, dinheiro adquirido, reconhecimentos, clientes satisfeitos e é desta forma que me retribui?! Está bem, Sônia! Cuidarei dela sozinha e depois cuidarei de você!- diz Navarra desaparecendo do local.
Mônica chega em casa exausta e encontra somente Antônia preocupada. Mônica fica apreensiva.
- Mônica! O papai e o meu irmão foram presos!- diz a menina lacrimejando e abraçando Mônica.
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Ônix
SpiritualAtravessando uma paixão doentia e incontrolável, Mônica, uma moça humilde e de bom coração, se deixa levar pela insanidade e decide a todo custo desfazer um casamento através de uma perigosa obra de feitiçaria. Porém, ela não imaginava que aquilo po...