CAPÍTULO 04

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Alguns dias depois, seus ferimentos estavam sarados e as marcas quase que imperceptíveis. Dracon não a importunara mais, sequer o vira; apenas uma serva viera, todos os dias, cuidar de suas feridas. Suas refeições eram servidas no quarto, também. Não foi difícil supor que eles não a queriam andando pela casa e desde que não a incomodassem, estava tudo certo. Durante todo esse tempo, ela imaginara mil e uma formas de fugir, mas o empecilho era sempre o mesmo: pessoas inocentes podiam se machucar se tentasse. Drácula deixara isso bem claro ao ameaçar Alex.

Naquela noite, já havia se recolhido para dormir, quando alguém adentrou no recinto; seu coração gelou ao reconhece-lo: seu pior pesadelo.

— Hoje estarás, irremediavelmente, em meus braços! – ele anunciou.

Ela não pode deixar de notar a caixa em suas mãos. Encolheu-se involuntariamente quando ele se aproximou para pôr a caixa sobre a cama e abrindo a tampa, puxou de dentro uma camisola de seda num tom suave do amarelo, com renda francesa bordada com fios de ouro e alças detalhadas em safiras. Outra extravagancia, que ela teve vontade de rasgar ali mesmo.

— Isto é realmente necessário?

— Sim! – respondeu friamente, ignorando o desafio em seu questionamento e no seu olhar.

Aurora recebeu o vestuário a contragosto e ele retirou-se para deixá-la mais à vontade. Ela parecia em choque, observando a camisola como se hipnotizada.

— Está na hora, senhora! – ouviu alguém dizer.

Olhou para a dona da voz e se deparou com uma mulher lindíssima. Seus belos cabelos loiros eram invejáveis. Sua postura diferenciava-se da outra serva que a ajudava sempre.

— Quem é você?

— Sou Zefhi! Vim para ajudá-la!

— Não preciso de ajuda! – foi ríspida ao dizer.

Imaginou receber uma retaliação por sua postura agressiva, pelo menos fora assim com a serva chamada Lank, que a forçou a entrar no chuveiro quando se recusou e foi muito truculenta quando o fez.

— Senhora, aconselho-a a não fazer objeção. Meu mestre está sendo gentil, mas pode se tornar muito rude! Não o contrarie, podes terminar pagando um alto preço! – foi franca.

Sua voz não sofreu qualquer alteração ao lhe dizer essas palavras; pelo contrário, foram suaves e gentis. Aurora podia jurar que ela estava, de fato, preocupada com sua integridade.

Zefhi era uma dos catorze intocáveis do faraó e estavam subordinados apenas a ele; por conta da alta posição que ocupavam, tinham muitas regalias e eram os mais respeitados dentre seus servos.

Vendo que ela não ofereceria resistência, a sacerdotisa a conduziu ao toalete, mandou que se despisse e a ajudou em tudo que precisava para ficar agradável ao mestre. Depois que terminou, voltou a dar-lhe conselho.

— Seja gentil com o mestre ou terá muito do que se arrepender. Mas se o agradar, ele retribuirá com tudo que uma mulher pode sonhar. – disse e saiu.

Aurora respirou fundo, como se de repente o ar lhe faltasse, quando observou que a cama fora, recentemente, arrumada. Sentou-se nela, deslizou a mão pelo tecido macio e sentiu um perfume suave. Esteve meditativa, por alguns minutos, enquanto aguardava a chegada de seu algoz.

Morreria aquela noite - concluiu.

Em meio a esses pensamentos uma ideia lhe ocorreu, afinal, se Alex já estava livre, não seria forçada a se entregar a ele; decerto não fugiria, mas ele que se contentasse de tê-la como empregada ou escrava, porém, jamais em sua cama. Com isso em mente, foi procurá-lo para comunicar-lhe a perigosa decisão. Em sua cabeça, parecia justo; ele próprio usara contra ela dois pesos e duas medidas, o que lhe dava o direito de fazer o mesmo.

Drácula: O mestre dos vampiros - O legado de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora