O ônibus cheirava a mar
Os rostos vermelhos, as vozes roucas
Os sorrisos longos, pálpebras pesadas
Dezenas de conversas atrasadas
Um par doutras adiantadas
O sol se pôs e deixou a marca
Marcou os lábios, as bochechas
Os braços nus, os ombros cobertos
Eu vi, me lembrei de ter notado antes
Me empertiguei, tentei deixar pra lá
Esquecer, daria em nada, eu sabia
Assim como nunca havia dado antes
A viagem seguia lenta, me esperando
Foi o cansaço, talvez a bebida, ou o tédio
E lá estava, o número na mão
Consegui a atenção
Consegui os olhos
E os risos
Foram tantos, tão suaves
Me aqueciam na noite que se afogava
Foi tudo que consegui
Desde então volto ao ônibus
Esperando que jamais chegue na estação.
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Meus Anos Mornos
PuisiEram meus Vinte e dois mornos anos E as manhãs frias de toda segunda