Capítulo 3

1.3K 117 22
                                    


Dias se passaram desde que cruzei o caminho daquele urso. O estranho foi que vasculhei a floresta por dias e não encontrara pegadas. Ainda assim, não duvidava de minha sanidade. Tinha certeza sobre o que tinha visto.

Até que a primeira nevasca chegou, cobrindo a paisagem de branco e nos obrigando a permanecer dentro da cabana.

– Seus pesadelos estão mais frequentes... – Vovó comentou. Eu olhava a paisagem através de uma pequena janela. Enquanto ela mexia nosso cozido.

– A senhora têm me observado bastante.

– Sou só uma velha, tenho poucas coisas a fazer a não ser observar minha única neta.

– Viva. – disse, e a encarei com raiva. – Única neta viva, a senhora quis dizer.

– Sim... É claro. Como eu disse, estou velha demais, me desculpe.

A nevasca durou duas noites. Quando acabou, deixou uma grossa camada de neve no solo, e nem sinal de que haveria outra nevasca pelos próximos dias, não havia nada que nos impedisse de sair da cabana.

Alguns servos perambulavam famintos no inverno, e era muito fácil caçá-los. Assim, era mais uma diversão do que trabalho.

Morávamos bem longe do Reino. Nossa família, a muitas gerações, revoltou-se com as leis da família monarca e decidiu sair do Vale Ranová. Isso era o que vovó contava.

Tínhamos algumas atividades, tradições de família, que mantínhamos. Isso, incluí caçar servos no inverno.

– Irei trazer uma bela galhada, a senhora poderá usa-los para fazer castiçais. – Comentei, enquanto amarrava as novas vestimentas que vovó havia feito para mim.

– Tenha cuidado, mantenha-se alerta e volte logo. – ela me disse.

Minhas botas de inverno subiam alto em minhas pernas. Assim, o saiote curto, o que rendera a pele dos animais caçados, encontrava com minhas botas e me protegia do vento gelado.

– E a cevada quente?

– Coloquei no cantil. Obrigada vovó.

Peguei a trilha por trás da cabana, subindo a floresta silenciosa, coberta por uma fina camada de gelo na parte mais alta. Tenho certeza, que no alto, onde a neve não se aglomera, encontrarei servos perdidos dos seus bandos. Presas fáceis.

O sol havia nascido há poucas horas, poucos pássaros que se aventuravam no frio, começavam seu trabalha de árvore em árvore.

No caminho, encontrei algumas nozes e a coloquei em minha sacola. Vovó ama nozes.

Algumas horas depois, no inicio da tarde, encontrei um lugar perfeito entre os pinheiros, onde o vento seria bloqueado pelos galhos e poderia acender uma fogueira.

O dia já se despedia. Na fogueira, o caldeirão aquecia o cozido que vovó me preparou na noite passada. Eu observava a aurora boreal, que estava ao leste, distante de mim. No alto das colinas congeladas. Onde eu estava proibida de ir.

Estava tão perigosamente distraída que, não percebi a aproximação de um forasteiro.

– O que uma garota tão bela como você está fazendo sozinha na floresta? – Dissera o estranho.

No segundo seguinte, estanco com meu punhal apontado para ele, em posição de luta.

– Ei, ei, ei... Calma garota... – ele disse com as mãos espalmadas a frente do rosto.

Só então notei o quão belo o forasteiro era. Os olhos negros e expressivos. O cabelo longo e preto. A pele branca e pálida contrastava com os lábios vermelhos sangue. E como era alto, quase tão alto e tão forte quanto um urso.

A Sombra do LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora