Aqui ao Lado

Uma pergunta - Parte 2

Ochako não é uma dançarina terrível.

Sua coordenação motora foi de razoável a excelente ao longo dos anos devido a todo seu treino em artes marciais, além de umas aulinhas de ginástica pra se tornar mais ágil quando usa sua individualidade em si mesma. Então, sua vergonha em estar na pista de dança não tem nem um pouco a ver com uma possível falta de habilidade para dançar.

Todas as suas interações românticas até hoje aconteceram majoritariamente em lugares privados, o selinho na Kyoka aconteceu no quarto da Mina, a confissão para o Deku foi no jardim atrás dos dormitórios, tudo que ela e o Kirishima fizeram até aqui foi às escondidas. Até mesmo o "encontro" na lavanderia, que foi em um lugar público, era proibido e errado.

A mão dele em sua lombar e os centímetros a mais que ela ganhou graças aos sapatos de salto e que a colocam praticamente cara a cara com ele talvez não contem como "interação romântica", é só uma dança ao som de uma música orquestral bem suave, e apesar da proximidade, ele mantém uma distância respeitável, de modo que seus corpos não se tocam completamente. E ainda assim, Ochako está morrendo de vergonha, pois tudo relacionado a romance na vida dela foi feito nas sombras, e agora ela está numa pista de dança, na frente de um monte de pessoas, sua mão por sobre a dele, o coração praticamente pulando pra fora do peito. Ela sempre viu em livros ou filmes sobre como um casal em sintonia pode estar em um lugar lotado e sentir como se fossem as únicas pessoas do universo, não é o caso aqui, ela está plenamente consciente de todas as outras pessoas na pista de dança, das que estão comendo ou conversando, do Todoroki... que vergonha!

Vai ver é porque eles não são um casal em sintonia.

— Então, hã... eu acho que te devo uma explicação. — ele diz em um tom baixo e suave pra que só ela escute — Sobre... sobre isso tudo aqui. — a especificação dele a faz pensar que ele deve explicações sobre outras coisas, assim como o Todoroki especificou daquela vez que falava sobre rumores a respeito dele e dela, na época a jovem não entendeu, mas agora tá mais claro: ele estava sondando para ver se ela sabia sobre ele e o Yoarashi. O que mais o Kirishima quer explicar?

— Tô ouvindo.

— Eu... é o seguinte: A tia Nadeshiko é irmã do meu pai, eles têm uma diferença bem pequena de idade, então foram criados praticamente como gêmeos, aí eles cresceram e ela conheceu o marido dela, meu tio, que era um cara mais velho e tal, meu pai não gostou muito quando meu tio pediu ela em casamento, acho que ele também queria levar ela pro exterior, essa parte da história eu não sei direito, enfim... meu pai nunca aprovou o casamento, minha tia casou mesmo assim e eles ficaram anos sem se falar, até que o marido adoeceu, aí minha mãe insistiu que meu pai fizesse as pazes com minha tia porque ela não tinha mais ninguém da família, e meu pai acabou cedendo porque não é másculo ignorar o conselho da esposa, né? Enfim, eles se reaproximaram, eu era moleque quando a conheci, ela nunca teve filhos e... me botou embaixo da asa dela, começou a me trazer pra eventos assim, praticamente bancou meus estudos na U.A. e... é isso, é por isso que eu tô aqui hoje. — ele parece envergonhado.

— Entendi. — eles balançam de um lado pro outro como se ainda estivessem dançando, mas Ochako não escuta música nenhuma, só consegue ouvir a voz dele.

— Me... desculpa, Uraraka. Eu devia ter contado. Não sei porque não contei, eu... amo minha tia, amo mesmo, mas não gosto muito disso tudo aqui e sei lá, não queria que você... me visse diferente por causa disso, eu... eu sou o que você vê todo dia de frente pro seu apê, tá?

— Eu... eu sei. — ela assente, sentindo-se meio culpada por ele achar que ela está incomodada com isso. Não está, ele não fez nada de errado, não quis contar e nem tinha obrigação de fazê-lo, não é como se tivesse mentido pra ela. O incômodo é de outra natureza e completamente infantil: Ochako se sentiu inferior à Mina por ela saber mais sobre ele — Tá tudo bem, Kirishima-kun, não precisa se desculpar.