café da manhã.

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Pov Ámbar

Ano de 2009.

Ele me ignorou.

O Simón simplesmente me ignorou o dia INTEIRO pela brincadeira do vestido.

Eu realmente fui burra em pensar que aquele sorrisinho bonito depois que saímos da direção significava que tudo estava perfeitamente bem, porque é nítido que não está. Além de não falar comigo, Simón sequer olhava pra mim.

Era uma brincadeira! Ele até fez piadas com isso, por que ficou me ignorando?

Desde ontem isso tem martelado na minha cabeça, eu não sei bem o porquê, mas ver e sentir ele me ignorar me tira do sério em um nível extremo, eu odeio quando fazem isso comigo. Porém com Simón me pareceu diferente dessa vez... Estranhamente, além de me tirar do sério, foi como sentir diversas cutucadas no coração ao mesmo tempo.

Dor.

Isso é dor.

Sinistro...

Enfim, mais uma manhã pronta pro colégio, desço as escadas correndo enquanto sinto o cheirinho de café fresco pelo ar. Assim que chego na cozinha vejo meus pais juntos e mostro um sorriso largo, pego um prato colocando três fatias de panquecas junto de morangos picados e uma xícara de café.

— Bom dia, bom dia! - Digo assim que me sento em frente aos dois. — Dormiram bem?

— Bom dia, loirinha! - Meu pai sorri.

— Dormimos sim. - Minha mãe responde séria e ergue as sobrancelhas ao olhar meu prato. — Vai comer tudo isso?

E foi aí que o meu sorriso morreu e minha fome acabou.

Desde que eu me entendo por gente, minha mãe coloca pressão nas minhas costas. Começando nas brincadeiras de infância com o Simón, então ele se mudou, fazendo com que elas acabassem, eu achei que esse seria o momento que toda essa pressão acabaria já que eu estava nos seus eixos.

Boba eu.

Quando a pressão de: "Se comporte como uma mocinha." acabou, veio a pressão: "Seja o mais magra que conseguir." ou "Seja perfeita, caso contrário, ninguém vai te enxergar.".

— Do que está falando, Sheron? - Meu pai pergunta de cenho franzido encarando meu prato. — Não tem quase nada no prato dela, ficou louca?

— Não, pai. - Digo me levantando com o prato na mão. — A mamãe tem razão, eu vou tirar uma-

— Senta aí agora e come tudo que está neste prato. - Ele cruza os braços com o olhar fixo em mim. — Você não levanta desta mesa enquanto não comer todo o seu café e se sentir satisfeita. - Aponta a mesa com os olhos, quando eu sento de volta, ele sorri. — Precisa ter uma boa alimentação e massa para as lutas, loirinha.

— Eu ainda acho esse negócio de lutas uma perda de tempo. - Mamãe diz friamente.

— Não vamos entrar nesse assunto outra vez, Benson. - E meu pai rebate.

Eu somente abaixo a cabeça e começo a comer, fingindo eles não estão discutindo outra vez sobre o meu futuro que sou eu quem decide, fingindo que não escuto minha mãe falar sobre esportes não serem algo que mocinhas fazem, fingindo que não escuto os comentários sobre meu corpo, alimentação, amigos, tudo.

Eu não escuto nada.

Assim a discussão começou meu corpo do completamente para o automático, não me lembro como saí da mesa de café da manhã, eu não sei quando cheguei no colégio porque eu não me lembro de cumprimentar meus amigos ou de simplesmente me sentar com eles como toda manhã, não me lembro como cheguei até o banheiro, mas eu me lembro perfeitamente de cada mínima palavra que já ouvi da minha mãe para alcançar a perfeição.

How I Met Your Mother.Onde histórias criam vida. Descubra agora