o que o amanhã reserva?

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Pov Narradora

Ano de 2009.

O sol nasceu.

Os olhos mal pregados durante a madrugada já estão abertos em total alerta sobre tudo que se iniciaria a partir daquele momento.

Simón estava sentado ao pé da cama antes mesmo que o despertador o lembrasse que a vida grita lá fora. Ele sabe que aquele plano inteiro havia sido sua ideia, ele assumiu todos os riscos dias antes desse momento, passou e repassou cada passo em sua cabeça e mesmo assim, sentado ao pé da cama, sentiu o peito apertar mais uma vez pela consciência de perder outra pessoa tão importante.

Jazmín tem uma marca atracada em cada parte da sua vida, ela está em todas as memórias do que Buenos Aires simboliza, está desde o primeiro instante em que os caminhos de todos se cruzaram em um corredor aleatório do Blake até aquele exato segundo em que sua mente vagueia sobre tais lembranças. Quando o mundo parecia grande demais para que Simón carregasse sozinho, ela foi até ele pronta para estender a mão, ele precisava daquilo e ela sabia.

Sabia porque foi a responsável por jogar o mundo em suas costas e colocar o pé em cima para que o peso fosse ainda maior.

O garoto tentava ao máximo demonizar aquela que foi, para ele, em um momento difícil, uma corda para que não se afogasse, mas era difícil acreditar que seus pulmões se encheram completamente d'água por ela.

Literalmente.

Seria mais difícil olhar em seus olhos e pela primeira vez enxergar o desconhecido sombrio de uma alma com a bagagem de um desamor acorrentada em si.

A marca presa no corpo do garoto era de alguém que já não existia, Simón estava prestes a queimar cada resquício do que ela simbolizava, mesmo que para isso precisasse queimar seu próprio corpo no processo.

Simón arrastou seu corpo incrivelmente mais pesado que o normal até o banheiro e logo encontrou seu rosto cansado no reflexo, os cabelos bagunçados e já crescidos desde o dia que Ámbar cortou, os olhos escuros e caídos por outra noite mal dormida, ombros pesados demais para pensar em postura correta. Mais uma vez ele se via dentro de uma caixa de vidro que se enche de água rapidamente prestes a afogá-lo, lutando, mais uma vez, para sobreviver.

— Há quanto tempo você não vive? — Perguntou baixo, em um único fio de voz.

Desde o dia em que se despediu de Buenos Aires – de Ámbar, especificamente – embaixo de uma mesa, Simón não sabia o era viver.

Os dias tranquilos foram arrancados de sua vida, e junto deles, a experiência de viver como uma criança, pois desde muito cedo a sobrevivência era o único prato a ser servido em sua casa. Ele não teve tempo de fazer novos amigos ou até mesmo de experimentar um novo amor adolescente, apenas desejava que, durante as noites, ele e sua mãe estivessem protegidos daquele que supostamente deveria protegê-los.

Quando finalmente estavam protegidos, ele precisou se proteger dos próprios sentimentos para dar apoio à sua mãe.

A mudança de país veio para que eles se libertassem dos fantasmas de um passado que não se apaga. Se não se apaga, a vida cobra, e foi assim que Simón quase perdeu a vida.

— Todos os dias sendo lembrado da maldição que você carrega... — Sua visão de si mesmo foi se embaçando enquanto o coração se espremia dentro do peito, mexer com essas lembranças sempre era ruim. — Maldição que tá colocando todo mundo em risco. Essa mancha de destruição que você é fez todo mundo preferir te esconder a verdade do que te deixar fazer exatamente o que você fez.

A cada palavra dita, um nó era dado em sua garganta, Simón já mal conseguia enxergar seu próprio reflexo no espelho quando se deu conta que havia algo errado com ele e com a forma que aquilo o apavorava de uma maneira quase sobrenatural, os pensamentos de culpa chegaram como pontadas em sua cabeça e peito, enquanto piscava diversas vezes em busca de "voltar ao normal" do que quer que estivesse acontecendo.

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⏰ Última atualização: Sep 20 ⏰

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