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Agosto. Acordei de manhã com uma sensação nauseante. Grande desconforto, grandes dores de barriga e cabeça.

Levantei-me subitamente e senti uma grande necessidade de correr para a casa de banho. Não consegui conter-me e acabei por vomitar tudo o que tinha dentro do estômago.

Fiquei muito á toa quando acabei de expulsar o pouco que tinha no meu corpo. Não sabia o que se passava, no dia anterior estava tudo bem, foi mesmo algo repentino.

Quando me senti recomposta voltei ao quarto e roubei 2 bolachas de um pacote que andava perdido no quarto para não ficar de estômago vazio. Pus-me a pensar no que teria causado esta estranha reação no meu corpo.

Eram 6:30h da manhã. A minha mãe estava em casa, mas o meu pai tinha ido trabalhar à meia-noite e só voltaria às 8h. de qualquer das formas a minha mãe não tinha acordado e senti-me algo sozinha ali a lidar comigo mesma.

Não consegui dormir mais. Ás 7h decidi sair do quarto para comer algo porque me começava a sentir fraca.

Era tudo muito estranho. Há muito tempo que já não me sentia assim, pois era raro ficar doente.

Seguidamente a minha mãe levantou-se e foi tomar banho. Quando chegou à cozinha e se deparou comigo enrolada em 3 mantas e com uma cara de quem viu um fantasma, estacou á minha frente.

- Meu Deus! O que é que tens? Estás com um aspecto horrível.

Hum, obrigada mãe, sempre tão atenciosa!

- Sim, mãe, obrigada por constatares o óbvio. – sorri-lhe ironicamente.

- Desculpa, meu doce, – ok, sai daqui, mel - o que é que te aconteceu?

- Não sei. Acordei à meia hora com náuseas e acabei por vomitar – disse indiferentemente.

- Não comeste nada que te tenha feito mal?

- Comi exatamente o mesmo que tu.

- Deve ser uma virose que anda para aí, não te preocupes, vou já fazer-te um chá daqueles que só eu sei fazer com poderes milagrosos! – ela sorriu.

E, de facto, ninguém fazia tão bons chás como ela. Não sabia como ela o fazia, mas a verdade é que curava.

Quando ela saiu deixou-me coberta com as três mantas e um edredom ao lado para o caso “de eu ter frio” e acompanhada por chá de cidreira e bolachas de canela. Podia pedir melhor mãe? E apesar do calor horrível que se fazia sentir eu estava bem com as três mantas, o que era deveras assustador.

Entretanto o meu pai chegou e rapidamente se enfiou na sala com a televisão ligada assim como o computador. Ah, o incrível amor paternal!

Os três dias seguintes foram demasiado avassaladores. Nada de almoço, lanche ou jantar. E tudo o que entrava arranjava maneira de sair. A minha cara encontrava-se mais branca que cal e tinha 20 kg em cima da cabeça (ou assim me parecia), já para não falar no buraco negro no estômago. Não saía da cama e mesmo para ir á casa de banho, sempre que me levantava parecia que a qualquer momento o chão iria desaparecer debaixo dos meus pés. Que raio de virose!

Após essa pequena experiência no inferno, finalmente consegui ficar relativamente normal.

Durante a semana que se tinha passado foi raro estar com o telemóvel ou no computador então mal falei com a Cat ou com o Gabriel. Quando finalmente consegui ligar o telemóvel deparei-me com um número infindável de mensagens deles. A dar-me força, a dizer que tinham saudades... Algumas delas achei tão tocantes, senti mesmo que eles se importavam. Da Cat eu já sabia e já estava à espera, sendo ela mais sentimental que uma romântica nata, mas do Gabriel surpreendeu-me imenso o facto de todos os dias, de manhã e à noite me mandar uma mensagem a dizer como estava, como tinha sido o dia dele e como sentia a minha falta na sua rotina. Cada vez mais achava que ele se começava a tornar parte da minha vida de uma maneira que nunca pensei ser possível, dadas as circunstâncias.

E se pudesses voar?Onde histórias criam vida. Descubra agora