14.

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Gabriel.

Merda. A sério... Isto está cada vez melhor. Primeiro a discussão com a Abigail e agora este animal. Adoro a minha vida!

Mal posso acreditar que o meu padrastro acabou de sair da prisão. "Por bom comportamento", dizem eles. Tretas! Aquela personagem devia apodrecer na prisão o resto dos seus miseráveis dias. Se a "justiça" pensa que a liberdade condicional o vai impedir de fazer alguma coisa, bem que se enganam. Aquele palhaço só quer terminar o que começou... o medo de voltar para dentro não lhe assiste.

Esta chamada foi apenas um aviso.

Não estou preocupado comigo porque sei que com ele posso eu bem. Mas há alguém que não pode. Ela. Abigail. É por ela que eu tenho medo. Principalmente agora que não posso protegê-la porque as coisas estão mal e ela me quer longe. E para melhorar as coisas (para variar), não lhe posso contar a verdade e a culpa é toda dele. Foi ele que destruiu a minha vida.

Quando ganhei finalmente forças, continuei o meu caminho para o parque de estacionamento onde havia deixado a mota mais cedo. Passei a pequena porta de vidro que dava entrada para o prédio dela. Hoje estava particularmente mais pequena, como que se o facto de me aproximar fosse fazer-me grande demais para entrar. Era assim que me sentia no fundo. Grande demais. Grande o suficiente para esmagar o mundo dela com o meu.

Isso fazia-me pensar que aquilo que ela tinha dito na noite passada talvez tivesse feito, de facto, o maior sentido do mundo. Mas eu não queria dar-lhe razão. Recusava-me. Ela não pode, assim, de um momento para outro, dizer que não me quer! Não depois de tudo. E o tudo era bem maior do que aquilo que ela poderia sequer imaginar.

Quando finalmente cheguei a casa não me sentia capaz de fazer nada. Deitei-me no sofá pus os fones, uma boa música a tocar e assim acabei por adormecer. 08:01h da manhã.

Abigail.

Ainda nem consigo acreditar que acabou.

Parece demais, mas é o melhor, sem dúvida. Sim, gostava que não tivesse acabado assim, mas não há nada que possa fazer. Mais vale assim do que... sei lá.

Ficaram tantas, mas tantas coisas por dizer, por resolver. Quem me dera ter sido forte e ter aguentado com o peso do meu passado por uma vez, mas nem nisso sou boa.

Ignorei a minha mãe que me chamou da cozinha e segui caminho para o meu quarto.

Deitei-me na cama pus os fones, uma boa música a tocar e assim acabei por adormecer. 08:03h da manhã.

***

3 semanas depois.

Acordei enérgica demais. Também, pudera! Finalmente 18 anos!

Quem é que não espera por isto? Aquela idade da maioridade, do verdadeiro ser, da liberdade... da idade em que finalmente podes levantar as tuas asas e voar.

Saltei da cama tão rápido que me admirei a mim própria. Corri a levantar as presianas. Ah, sol de agosto, nunca me desiludes! Abri a janela para que entrasse o ar fresco da manhã e deixei que o mesmo me envolvesse, libertando por todo o meu corpo uma corrente elétrica mais que agradável. Em seguida liguei o rádio para que a música despertasse o resto do meu cérebro adormecido. Tocava a música Come With Me dos Echosmith, não podia pedir melhor!

Peguei numa toalha e fui para a casa de banho para tomar o primeiro banho dos 18. Soube-me pela vida. Estava tão bem disposta que quase podia dizer que este dia prometia. Depois do creme de ameixa decidi vestir umas belas calças pretas e a minha clássica camisa branca. Enfiei a camisa para dentro das calças e finalizei com um cinto igualmente preto. Dobrei as mangas da camisa para trás e dediquei-me aos acessórios. O meu relógio (como sempre) e um fio de prata com uma pequena constelação pendurada que me caía pelo decote da blusa desabotoada. Perfeito.

E se pudesses voar?Onde histórias criam vida. Descubra agora