13.

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- O que é que estás aqui a fazer? – perguntei com a voz mais calma do que pensei que iria sair.

- Acho que o mesmo que tu. – mal consegui ouvir a resposta.

- Duvido.

Ele dirigiu-se a mim e sentou-se a meu lado, mas virado para a paisagem. Senti-me aliviada, não acho que conseguisse olhar para ele naquele momento depois do pesadelo. Encolhi os joelhos contra o peito.

- Estás bem? – não tirou os olhos do horizonte iluminado.

Não.

- Sim.

- Pensava que já tinhamos chegado a um consenso sobre isso.

- Isso o quê?

Ele fixou os olhos nos meus joelhos fazendo-me sentir desconfortável. Endireitei-me numa tentativa de lhe mostrar que eu tinha razão. Não pareceu resultar.

- Abi... há alguma coisa que me queiras contar?

Demorei o meu tempo, que pareceu uma pequena eternidade, para lhe responder. Estava nervosa ao ponto de sentir lágrimas formarem-se na linha de água dos olhos.

- Sim... quer dizer, não... quer dizer... - e era uma vez uma rapariga forte.

- Porque é que me escondes as coisas? O que poderá ser tão mau que tenhas tanto medo de me dizer? – ele próprio estava nervoso e falou alto o suficiente para eu me exaltar.

- Como é que podes dizer isso?! Mal sabes o que eu passei! E porque razão hei de te contar uma coisa destas se tu próprio és como és?

- Não vás por esse caminho! Se eu não sei o que tu passaste, tu muito menos sabes o que eu passei!

O quê? O que é que ele queria dizer com aquilo?

- Olha sabes que mais? Tudo isto é um erro! – levanto-me quase a gritar. Ele acompanhou-me.

- O quê? Como te atreves depois de tudo o que nós tivemos?! – a expressão dele estava caída e ao mesmo tempo zangada. Senti um aperto enorme no coração. Deixei as lágrimas escapar e desviei o olhar do seu rosto perfeito.

- Tu não sabes quem eu sou... tu não me conheces, Gabriel. – baixei o tom.

Ela agarrou-me os pulsos e puxou-me para si, focando os olhos verdes nos meus.

- Deixa-me conhecer.

- Não...

- O quê?

- Não!! Eu não posso... larga-me! – as lágrimas insistiam em tornar tudo mais difícil. Ele apertou-me com mais força. Conseguia ver o músculo do maxilar dele a pulsar. Abriu a boca por momentos como se fosse para dizer alguma coisa, mas voltou a fechá-la. – Larga-me, merda!

Empurrei o peito dele o mais forte que consegui. Foi o suficiente para me soltar. Virei costas e caminhei para a saída.

- Não saias por essa porta. – a voz dele era ameaçadora.

- Porque não? – estaquei e olhei-o. A expressão era demasiado sólida, não conseguia perceber se estava chateado ou triste.

- Porque se saires...

- Se sair o quê?! Vens atrás de mim e obrigas-me a voltar? Poupa-me, não me provoques.

- Abigail! – ele gritou e a voz ecoou sobre cada veia do meu corpo, fazendo-me estremecer.

- Deixa-me. Tu não precisas de mim! Eu sou um jarro de vidro partido em mil pedaços, colado com uma cola rasca que ameaça partir de novo a qualquer momento e tu não queres estar por perto quando isso acontecer!

E se pudesses voar?Onde histórias criam vida. Descubra agora