Pedro acorde, isso não é jeito de levar a vida... Como se eu precisasse de conselhos de pessoas não satisfeitas com a vidinha monótona que levam sou constantemente criticado por ainda ser solteiro, mas é assim que sou, é assim que gosto. Ontem mesmo me disseram que março é o mês da mudança e deveria me consertar, me casar. Tenho vinte e sete anos! Não é trinta, não é vinte e oito e nem mesmo vinte e seis. Eu vivo o hoje sociedade hipócrita. Mês da mudança... Estamos em março não estamos? Levantei às sete horas como faço todos domingos, às nove horas joguei futebol com meus amigos e estou aqui no mesmo barzinho na Vila Mariana com Doda e Wagner rodeado por mulheres maravilhosas. Nada de dar satisfação, nada de cobranças... Quer dizer, Doda está lá pendurado no telefone explicando para noiva do porquê já são duas da tarde e ainda não voltou. Uma morena de pernas grossas, sabe aquelas nordestinas, pois é, um rosto bonito combinado com o corpo maravilhoso e um temperamento monstruoso.
Sou da opinião que cada um faz a escolha que lhe convém, então não crítico, mas também não nego uma camaradagem.
- Amor tive de socorrer Pedro depois do futebol, você não imagina o que aconteceu. É amor ele novamente... O burro conseguiu furar os dois pneus do carro. Pois é amor, tive que socorrer. Levei o estepe e estou aqui no borracheiro. - Doda mentindo mais uma vez para noiva e sobrou para o Pedro, sobrou para mim. De tanto ele me envolver em suas desculpas ela não me suporta. Reza, faz promessa para me afastar do "santo namorado", mas aqui estamos "ENCHENDO A CARA" e eu não me importo com a opinião dela, grito pau mandado de um lado e Wagner grita olha a polícia do outro. Só paro para olhar Clara e seus longos cabelos negros, sua pele branca como leite e seus olhos enormes que quando me encaram chega a intimidar. Ela é do tipo de mulher que não precisa apelar para aparecer, hoje usa um macaquinho solto no corpo e mesmo assim a dispo com os olhos. Ela passa pela mesa com aquele olhar tipo Maria Cândido e por alguns segundos volto aos sete anos de idade, faço a patética cara de bobo que uma criança faz ao olhar para o doce.
- Quando vai se sentar comigo Clara? - Pergunto em tom malicioso e respondendo com sorriso ela se senta com as amigas, me quer que eu sei. Não vai demorar para se achar no meu dúplex.
- Wagner vou conseguir o telefone dela.
- Hurrum vai pedir para mim? - Me responde Wagner em tom irônico.
- Como assim? Você tem?
- Pedro, mas é claro.
- Vai me dizer que já transou com ela?
- Talvez... Você sabe como é. - Wagner disse pretensioso ao bebericar sua cerveja, mas eu o conheço e se tivesse feito algo com a guria já teria espalhado entre nós. Sim eu sei , essa atitude dele é tosca já disse a ele.
Pedimos a última rodada afinal zelamos pela integridade de nosso amigo e quando dei por conta acordo no sofá do meu apartamento com o celular tocando. No visor um nome: Marcela. Atendo.
- Pedro topa sair e dançar? Sinto falta.
Marcela minha companheira nas noites de dança. Pois é eu danço e gosto muito. A maioria dos meus amigos foge deste tipo de balada, eu não. Entro em meu Mustang Shelby-Eleanor e vou buscá-la.
Ela está com uma saia rodada combinando com uma camisa branca com botões perolados e sapatilhas. Simples, confortável e totalmente adequado para a noite.
Já na pista danço com Marcela ao som de "Oferendar" de Diego Oliveira: "[...]Minha boca te espiando e nada te dizendo. Meus olhos alumiando tudo a te falar. E cá dentro do peito um pobre coração batendo contendo um balaio cheio de amor pra dar[...]".
E foi quando a vi pela primeira vez. Loira com cabelos cacheados ela estava no canto da pista me olhando com aqueles olhos verdes e um sorriso sorrindo o mais gostoso sentimento. Girei olhei novamente e lá estava ela.
No salão é normal as mulheres que te olham enquanto está dançando, encararem mesmo. Elas fazem isso para as chamarmos nas próximas danças, mas aquele olhar não. Ela estava se divertindo como se estivesse ali comigo e se foi uma forma para chamar minha atenção então funcionou. Já com ela uma de minhas mãos a segura com suavidade a outra corre pela sua costa a sentindo e estudando. Aquele cheiro, sua pele macia e ao correr sua mão pelo meu ombro acomodando depois de explorar a região por alguns segundos me liberta uma explosão de sensações e de uma forma simples assim sou tomado por aquele frio na barriga, aquele coração saltando na pele. Me permito saborear estes sentimentos, ela é leve, ela responde facilmente aos meus comandos e no ritmo da música que diz: "[...]Vou secar qualquer lágrima que ousar cair "[...]" eu a giro e faço um carinho em seu rosto. "[...]Mas de repente você me beija o coração dispara e a consciência sente dor, eu descubro que além de anjo posso ser o seu amor"[...] estou olhando no fundo de seus olhos. Eles parecem me carregar para uma viagem na imensidão de sua alma. Firmo minha mão em suas costas e ela alcança minha nuca. Quero beijá-la, mas aqui não. Não na pista de dança.
A música acaba e ela me abraça forte apertado e olha fixamente em meus olhos agradecendo. Eu estou em transe as palavras que normalmente veem com facilidade parecem ir até a ponta da língua e retornar. Não sei o que está acontecendo e um estalo de consciência me faz convida-la a me acompanhar ao balcão do bar. Ela procura a amiga com o olhar e a vê dançando. Peço Singapore Sling para ela. Suave e complexo revelando-se gradativamente na boca.
Gin, suco de limão, licor de cereja, DOM Benedictine, Grenadine, suco de abacaxi, uma fatia e uma cereja ao maraschino para enfeitar. Perfeito acho que vou causar boa impressão e me sirvo com uma dose dupla de whisky.
Minutos antes durante a música não mencionei uma palavra. Estávamos sentindo o corpo um do outro, eu conseguia interpretar tudo que ela sentia e acredito que ela a mim também. O fato é que ainda não havia perguntado seu nome.
- Então ainda não sei seu nome.
- Íris e o seu é Pedro - Ela responde com um sorriso travesso no rosto.
- Então você me conhece Íris. De onde?
- Conheço o que é importante conhecer. Sei que você é mulherengo e que ofereceu este mesmo drink a uma amiga minha. Lembra-se de Nina?
"Há Nina. Bela Nina."Lembro que a conheci há um ano e meio, olhos castanhos claros e pele morena, um moreno dourado. Seu corpo atlético com aquela cinturinha fina e o quadril perfeito, maravilhosa. Ou quase isso... ela é chata de mais. Sim conversar com ela era tão tedioso que só não ficava com sono porque me deixava muito excitado para dormir. Conclusão saímos, transamos e depois não me viu mais.
É bem interessante a forma que as mulheres pensam a este respeito. É eu sei que elas pensam que só queremos transar e em certa parte elas têm razão. Mas pensem comigo elas gostam de sexo tanto quanto ou mais que os homens, ficam extremamente excitadas, mas então fogem. Fazem seu jogo cruel e afinal das contas transamos e vamos embora.
Veja bem, sempre tratei todas com total respeito, nunca alimentei falsas esperanças, as diverti, dei do bom do melhor e por final das contas muito prazer. Não vejo nada de errado porém sei qual a impressão que Íris tem neste momento. Acredito que será difícil sair com ela.
- Lembro sim, Nina excelente pessoa. Como ela está? Concluo me fingindo interessado.
- Encontrou o homem da vida dela. Um homem gentil de verdade e casou-se com ele. Está feliz. - Responde Íris.
Ela tentou me atingir, mas para se casar com Nina deve ser um cara feio que só pensa em sexo, afinal ela é muito chata. - Penso comigo.
- Vim com eles. - concluiu Íris.
Droga... Ela está aqui. - penso rindo internamente - Probabilidade de faturar a Íris? Zero. Corro os olhos pela pista de dança procurando e vejo Nina se aproximando com o marido. Nossa ele é boa pinta.- penso.
- Pedro tudo bem? - diz Nina - Este é meu marido Edgar. - Indaga me apresentando seu companheiro.
- Olá Nina. Prazer Edgar. - Rapidamente me levanto e cumprimento os dois.
- Íris desculpe interromper, mas temos que ir embora. Edgar tem uma cirurgia marcada logo pelas primeiras horas. - diz Nina.
- Eu irei ficar mais um pouco, chamo um táxi para mim. Obrigada pela noite agradável amiga. - Dando um beijo carinhoso no rosto de Nina responde Iris. Eu a olho surpreso.
- Bom Íris você me descreveu como mulherengo, as referências dadas pela Nina não devem ter sido agradáveis. Confesso que fiquei curioso do por que você não voltou com eles.
- Olha Pedro pelo quanto que a Nina lamentou e te crucificou por ter sumido fiquei curiosa por saber o quão bom você pode ser. - Neste momento ela segura minha mão, olha em meus olhos e fala. - Vamos para meu apartamento ou para sua casa?
Ela me deixou mais uma vez sem reação. E eu gosto, claro que gosto.
Saímos do baile por volta das vinte e três horas e viemos conversando pelo caminho, não moro muito longe então logo chegamos. Abro a porta do meu carro e a conduzo até o apartamento. Ele é sofisticado sou um cara organizado e gosto de artes, me orgulho do meu lar e gosto de exibi-lo. Ligo o som colocando uma coletânea com músicas de Buddy Guy e Ray Charles, ofereço vinho e quando vejo estou com as mãos em seus cabelos.Cabelos cheirosos. O seguro forte atrás da nuca enquanto meus lábios correm pelo seu pescoço, minha mão sobe pelo vestido deixando marcas naquelas coxas brancas até encontra ela já molhada me desejando. Ouço um suspiro baixo de prazer que é o suficiente para me enlouquecer, sua boca próxima ao meu ouvido me deixa muito excitado. Fixo meu olhar em seus olhos verdes e a viro de frente para parede pressionando seu quadril enquanto pego forte em seu cabelo. Ela coloca a mão para trás e encontra meu pênis excitado, eu a quero muito, quero sentir o quão quente sua vagina é, mas pretendo brincar antes. Quero ver a expressão de desespero estampada em seu rosto, quero a ouvir implorar para que a penetre. Tiro seu vestido, a posiciono de frente para a mesa de bilhar e a deito de costas, enfio minha mão no balde com champanhe e com pedras de gelo em minha boca exploro seu corpo, seus arrepios me provocam frisson, vou descendo e quando encontro seu local de prazeres o gelo se desfaz. Deitado sobre seu corpo passo minha barba sobre sua nuca o jeito que ela se move quase me faz parar com o jogo, continuo.
- Vou brincar até você implorar para que eu a possua - sussurro em seu ouvido.Me pego olhando sua silhueta no Box do banheiro, o desenho de seu corpo é incrível e o cheiro dela permanece em mim, que sensação. Gostaria de eternizar este momento.
Ela sai do banheiro com meu roupão e caminha delicada contornando a cama. Coloca sua mão em meu peito ainda suado e eu a puxo para meus braços.
- Pedro preciso ir. - ela sussurra.
- Sim eu sei, vou tomar um banho rápido e a levo embora.
Entro no chuveiro e não se passa muito tempo até ela dizer:
- Pedro obrigada pela noite vou de táxi.
Saio ainda ensaboado, mas é tarde demais. Ela foi embora assim? Será que deixou o número do celular anotado? Mas para que eu quero? Não eu quero sim, deve estar em algum lugar. Não encontrei ela veio até minha casa me usou e foi embora.Só seu cheiro, só seu cheiro ficou.
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São as águas de Março.
RomanceA mesma envolvente história contada de forma diferente pelos seus protagonistas, Iris e Pedro. Diferentes pontos de vistas lhe fazem entender que é errado julgar antes de conhecer todos os lados de uma situação. Apaixone-se por Pedro e Iris, descubr...