São as águas de Março.

Seis de Março. - Íris.

- O que você vê?
- Uma gordinha e um desajeitado passeando em meio de arvores nanicas.
- Meu Deus, repare na profundidade da imagem, vê como as diferentes formas de pinceladas isoladas se combinam? Como é intensa, como da para se perder na imensidão, você vê como parece viva?
- É daqui a pouco ela sai do quadro e senta-se aqui com a gente.
- Desisto Maria, é Van Gogh, como... haaa esquece.
- Estava na hora né Íris, já se foram vinte minutos olhando para tela estática e você me diz que ela está viva, tenha dó. - Diz Maria em deboche e a vej se dirigindo para fora do MASP em passos largos e rápidos. Não tem jeito, Maria é companheira para muitas coisas, mas para minha paixão por arte não. Sei por que está com pressa, finalmente o gato do 308 à convidou para um jantar romântico. Ele vai leva-la a um restaurante chamado Graça Mineira. Sei disso porque na noite de ontem, quinta-feira, ele me procurou. Ficou todo embaraçado ao me questionar dos gostos de Maria. Eu achei tão bonitinho que indiquei o restaurante que Maria mais gostou.
Lembro do dia em que descobrimos, Maria ficou maravilhada com o tempero mineiro, o lugar é muito agradável e acolhedor. Porções bem servidas e surpreendentemente saborosas. Bom eu sou suspeita para falar, nasci em minas e sou apaixonada pela comida. Alcanço Maria e entramos em meu Jipe Bandeirantes. Chegamos no meu apartamento por volta das 18:00 horas, permito Maria tomar banho primeiro e depois vou eu, coloco aquele pijama largo e confortável, deito no sofá da sala, pego meu livro e desejo paz, uma longa e gostosa noite de paz, mas que dura três minutos, exato três minutos. Vejo Maria ir atender o interfone e após voltar com sorriso travesso em minha direção.
- Hum está de namorico e não me contou amiga- Diz Maria ao se jogar em cima de mim no sofá.
- Namorico? Do que está falando.
- De um Pedro que daqui a pouco estará na porta, quer que eu o enrole enquanto você se arruma? Você não está nada apresentável.
- Pedro? Não Maria o Pedro não, o que você fez? Como ele me encontrou? Maria não deixe-o entrar, eu não estou em casa entende? - falo em raiva e percebo a expressão assustada de Maria, que só não é tamanha a minha. Cinco minutos depois ouço bater na porta a olho furiosa.
- Quem é. - Maria diz com expressões de preocupada, mesmo sabendo a resposta.
- Pedro fui instruído a subir.
- Desculpe Pedro, foi engano, você gostaria de falar com a Íris não é? Ela está viajando.
- Não é possível viajando? Volta quando?
- Dentro de um mês.
- Íris só fique com as flores vou embora e não volto mais.
- Flores Íris ele trouxe flores? O que este homem fez para trata-lo assim?- cochichou Maria baixinho da porta.
- "Ele me fez sentir mais prazer do que Lucas em anos." - Penso comigo. Abro a porta para Pedro.
- Lindas flores Pedro, obrigada.- Digo com expressão de poucos amigos. - Pedro eu não esperava você aqui.- Concluo.
- Nem eu Íris, foi mais instinto do que razão. Podemos conversar a sós? Sair e jantar?
- Não podemos Pedro. - Observo sua expressão de espanto.
- Não quer saber o tenho a lhe falar?
- Não tenho interesse.- Foi quando ele me abraçou e senti a barba ralinha em meu pescoço, as pernas ficaram trêmulas e quando percebi.
- Pedro Espere! - Pronto fiz, fui vencida. Convidei Pedro para um passeio até Pedra Grande e ele aceitou.
- "Meu Deus porque este homem me faz sentir assim? Olhe o meu estado estou tremula ainda". - penso comigo
- Íris ele é tão bonito e me parece ser boa pessoa também. porque o trata assim?- Pergunta Maria ao se aproximar. Sei que ela quer me ver feliz com alguém, sei que ela sofre junto comigo quando tenho minhas crises por causa do Lucas.
- Pedro não leva mulher alguma a sério, para que vou me envolver com este homem?
- Mas mesmo assim você o convidou não é mesmo amiga? - Ela tem razão, como sou idiota e fraca. Ouço novamente batidas na porta.
- Desta vez deve ser seu gato Maria. - Abro a porta e me dou com Roberta, uma grande amiga.
- Rô. - Digo com alegria.
- Estava devendo está visita a tempos não é amiga ? - Diz Roberta.
- Maria venha aqui como você está linda, vai à algum lugar justo quando vim visitar vocês?
- Estou linda mesmo? Tenho um encontro hoje, estou tão ansiosa.
- Quem é o homem de sorte?
- É gato do 308.- Diz Maria corando-se.
- Não, Não... HO GATO DO 308- Completo o comentário de Maria.
- Me parece que escolhi o prédio errado para morar, encontrei um cara maravilhoso quando a porta do elevador se abriu, quase que desci com o Deuso rss. - Brinca Roberta.
- Haa amiga é Pedro, não quero falar dele, não vale a pena.
- Como assim ? Pergunta Roberta.
- Eu também não entendo. - Indaga Maria ao passar lápis nos olhos quando voltamos a escutar batidas na porta.
- Desta vez deve ser ele. Empolga-se Maria.- Devo atender a porta?- Pergunta em dúvida.
- Não!- Respondo junto com Roberta. - Faça ele esperar- completo a frase.
- Deixa que eu atendo. -Diz Roberta.
- Sim só pode ser o gato do 308, ele trás um buquê de rosas vermelhas.-Fala Roberta brincando com voz de suspiro ao olhar pelo olho mágico. - Se estiver indisposta amiga, faço o sacrifício de ir em seu lugar. - Completa a brincadeira.
- Assanhada- diz Maria com seu sorriso.
- Boa noite, só um minuto. Maria já está vindo- Fala Roberta ao abrir a porta.
- Boa noite, eu estou bem? - O rapaz pergunta entusiasmado.
- Está ótimo gato do 308.- Digo dando risadas e entro.
- Mah ele está impecável, divirta-se amiga. - Rosa e eu corremos e abraçamos bem apertado Maria, ela se despede e vai para o jantar.
Passo boa parte da noite atualizando Roberta sobre Pedro, desde sempre é com ela que falo destes assuntos, na verdade hoje em dia ela é a única pessoa com quem converso sobre meus sentimentos. Acabamos pegando no sono e dormimos abraçadas.

Sete de Março.

- Levanta Maria, vamos amor- Passo a mão pelo cabelo de Maria com carinho. Ela abre os olhos e esboça um sorriso tão grande que não cabe no rosto e com voz de sono começa a contar sobre à noite de ontem.
- Íris foi tudo tão lindo. Ele me levou no restaurante que descobrimos. - Coloco à cabeça de Maria em meu colo e começo a acariciar seus cabelos.
- Nossa amiga, Ele acertou em cheio. -Respondo fingindo não saber.
- Foi. E mais, ele abre a porta do carro para mim, ele me minou a noite inteira. Quando me trouxe até o apartamento beijou minha mão, minha mão amiga. Marcamos de sair novamente.
- Que bom, que legal que tudo deu certo, que ele te tratou bem. Você está com olhinhos de apaixonada amiga.
- Estou, finalmente estou, é tão gostoso. - Meu sorriso toma meu rosto e beijo a testa de Maria.
- Precisamos levantar, ao contrário vamos nos atrasar. - Deixo Roberta dormindo, pego meu jipe band e chegamos ao marco zero de São Paulo em frente a Catedral Metropolitana. São 7:25 AM e já estão todos esperando, todos menos Pedro. Sabia que ele não viria. Maria se volta a mim.
- Pois é amiga, me parece que Pedro não vem.
- Eu já imaginava, sei que Pedro não é confiável. -Digo fingindo tranquilidade. No fundo esperava que ele viesse, que talvez não fosse o babaca que Nina dizia.
- Vamos embora pessoal. - digo a todos no local. Dividimos as pessoas em três carros e nos dirigimos em direção de onde estavam estacionados.

-Heii, Íris! - Ouço de longe a voz de Pedro.
-Ele veio Íris! Parece que daqui a algumas semanas poderemos sair em casal. -Fala Maria dando uma risadinha. Ele veio de shorts, tênis de correr e camiseta regata, com certeza não deve ter passado repelente. Rio internamente e imagino seu sofrimento.
- Então você veio Pedro - Diz Maria.
- Por nada deste mundo deixaria de vir. - Pedro abre seu sorriso detestavelmente lindo.
- Vem comigo Pedro, os outros carros estão lotados. - Digo e partimos para nosso destino; Eu, Maria, Pedro e Ricardo, um amigo em comum meu e de Maria. Chegando ao meu Jipe Ricardo se antecipa para abrir a porta do motorista para que eu entre, talvez ele quiseste mostrar para Pedro e eu suas intenções em me cortejar.
Pedro abre a porta do passageiro da um sorriso a Ricardo e se senta comigo na frente. Ricardo olha para Pedro com expressões nada agradáveis. Antigamente Ricardo demonstrava interesse por Maria, enrolou tanto que Maria se cansou dele, quando tomou atitude suas chances já tinham se esgotado. Eu nunca teria nada com ele, porém Pedro não precisa saber e dou risada da situação.

Natureza como amo tudo isso, já estamos a mais de uma hora para dentro da mata atlântica em meio toda a beleza do lugar, avistamos um grupo de bugios e diversas aves. Pedro luta contra os pernilongos e bitucas, Maria já pediu para que eu empreste o repelente para ele, mas resolvi esperar até chegarmos à Pedra grande, sei, pura maldade, mas daqui a pouco, quinze minutinhos e a maravilhosa Pedra grande estará há nossa frente.
Que lugar Fantástico, daqui conseguimos ter uma vista belíssima da grande São Paulo e hoje o tempo está especialmente aberto. Antes que algum dos dois engraçadinho se sentasse do meu lado, Maria se sentou.
- Que lindo não é amiga?
- Muito Maria, lugar certo para estar com alguém especial e dou um beijo em seu narizinho. Tiramos fotos nós duas com São Paulo a nossas costas, depois tiramos com Pedro\Ricardo e por fim todos que subiram com nós. Manhã maravilhosa pelo menos para a maioria, Pedro sofreu arranhões por todo corpo, picadas de insetos onde havia espaços. Quando estávamos lá em cima na Pedra Grande passei sim repelente nele, mas já era tarde rss.
Estamos agora eu e Maria indo abraçadas até o estacionamento, Pedro e Ricardo conversam e dão risadas como dois grandes amigos. Meu coração está em paz. Deixamos Ricardo no Marco zero e levo Pedro até onde estacionou seu carro, nós nos despedimos com beijos no rosto e vamos embora.
- Nossa Íris, este deve ter sido o pior dia de Pedro. Acho que você conseguiu fazer com que o gato desista de você. - Olho pelo retrovisor a imagem de Pedro. Ele está parado me olhando ir. O que ele quer comigo? Porque ele não desiste? O sinal abre e eu avanço.
Sou interrompida por um grito aterrorizante de Maria!

- NAAÃOOOO!!! ÍRISS.