A volta para casa

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Acordei com um bando de lobos me olhando. Levantei e olhei ao meu redor.
- O que aconteceu? - perguntei, meio tonta.

"Você me salvou, pequena deusa", disse meu amigo lobo.

Um sorriso se espalhou no meu rosto.
- Você está bem. Isso é muito bom. - afirmei, sem esconder minha felicidade. Nesses poucos dias, aquele lobo tinha sido o único que conversei. Então eu tinha um certo apego e afinidade.

"Sim. Estou muito bem." Disse o lobo e riu. Sorri também.

A matilha corria e pulava. Olhei em volta e depois para mim. Quase tive um ataque cardíaco ao perceber uma mancha escura no meu braço. Olhei com mais clareza e vi que não era uma simples mancha ou hematoma, e sim uma tatuagem em forma de uma pata.
- O que é isso?- perguntei, olhando indignada aos lobos. Todos negaram com a cabeça anunciando não saberem também.

Por impulso, comecei a correr pela floresta. Parei em frente a um lago e então observei o local. Era tão bonito que chegava a ser surreal. Era tão verde, tão natural e perfeito. Com tanta poluição lá fora que a existência daquele lugar era incrível. Ajoelhei-me com cuidado e mergulhei o braço naquela água, com a intenção de tirar aquela tatuagem. Passei a mão no braço, cada vez mais forte e nada da tatuagem sair. Voltei para meus amigos, sentei num tronco desanimada e disse:
- Não sai. Isso aqui não saia, de jeito algum.- falei.

"Posso dar uma olhada?" perguntou meu amigo.

Estiquei o braço e olhei pro lado, já que aquela coisa em mim começava a me irritar.

"Parece ter sido feita a ferro em brasa. Uma dessa é para sempre" disse o lobo, após de um longo tempo me analisando.

- Isso não importa agora. Vamos continuar a caminhada. - disse me levantando.

"Já está escurecendo. É melhor acamparmos aqui."

- Tá bom.

E ali passamos a noite. Minha janta foi maçãs. Logo com os primeiros raios do sol, partimos novamente. Nessa caminhada, eu já estava mais disposta e nenhum sinal de cansaço estava em mim. Então, paramos menos e acabamos chegando a New Jersey no fim da tarde. Meu coração passou a pulsar mais rápido ao entrar na rua de casa. Fiquei mais feliz por não estar sozinha, pois agora tinha novos amigos e que seriam para sempre. Ao me aproximar da casa, reparei uma movimentação. Tinha garotas saindo e entrado.
- Elas estão aqui! Eu sabia. - sussurrei.

"De fato. Vai até lá, Pequena Deusa", disse Artie. Sim, era esse o nome do meu jovem amigo lobo. Eu tinha acabado perguntando, quando estávamos caminhando.

- Uma pessoa normal iria lá e as surpreenderiam com um abraço apartado, não é? - perguntei.

"Sim. Uma pessoa normal faria isso. Mas..."

-... Eu não sou nem um pouco normal.- completei.

"Exatamente. Então, qual é o plano?"

Sorri como se tivesse ganhado na loteria. Eu dei a volta e utilizei minha "passagem secreta". Era um pequeno beco que dava para o fundo de casa, tinha também alguns caixotes que eu usava para esconder um buraco no muro. O buraco não era muito grande, mas era o suficiente para uma pessoa magra passar, o que era o meu caso. Retirei os caixotes e passei. Dei de cara com uma bagunça de ferramentas da mamãe e quase cai.
- Caramba! Sempre me esqueço de tirar essas coisas. - o que era verdade.

Caminhei em silêncio até a porta dos fundos. Por sorte,a porta estava aberta. Empurrei devagar a porta com as mãos e parei na área de serviço. Fui silenciosa até a cozinha que por sinal, não havia ninguém. Fui até a geladeira e peguei uma lata de refrigerante. Quando a bebida deslizou por minha boca, me senti quente mesmo tal líquido estando gelado. Eu poderia distinguir cada sabor que constituía, cada bolinha de gás que estourava na minha língua.
-Ei, caçadora. Me dá um lata.- pediu alguém. Levantei o rosto para ver quem pedia a bebida. Era Bryan. Seu olhar tava distante e muito triste. Dava até dó no coração. Eu queria abraçá-lo e dizer que estava tudo bem comigo.

- Aqui está. - falei, abaixando mais e erguendo a lata com uma mão. Ele pegou e a bebeu lentamente, depois deu um longo suspiro e se virou pra sair.

Levantei do meu esconderijo gelado e falei:
- Bry, não fica assim. Tudo vai dar certo. - falei.
-Eu sei, Ty. Porém, depois que você morreu, ficou tudo mais difícil... - disse ele.

Então, ele parou e pensou em suas palavras. Contei mais ou menos três a quatro segundos, então ele se virou pra mim e seu rosto perdeu a cor. Só tive tempo de vê-lo cair no chão.
-Mas que garoto mole! - falei, rindo.

Fui até a sala e vi mamãe sentada no sofá com uma xícara na mão.
-Mamãe, Bryan ta desmaiado na cozinha. - alertei.

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