Três Dias

7 - Quem?

Estava zonza, sentia um gosto amargo na boca. Tudo girava, piscou uma vez, mas a sua vista ainda estava embaçada. Piscando outras várias vezes, algumas formas começaram a surgir a sua frente. Estava escuro, uma luz fria entrava por uma pequena janela acima dela. Com essa pouca claridade, se viu em uma pequena cela. O chão era de madeira e grades grossas de ferro a trancava lá dentro, apenas um balde a fazia companhia.

Fechando os olhos com força tentava colocar os seus pensamentos em ordem. Respirou fundo pelo nariz, se sentia enjoada. O cheiro forte ainda estava impregnado em suas narinas. Tossiu um pouco, sua garganta estava seca. Percebeu que correntes grossas estavam prendendo os seus pulsos para cima em um local na parede. Estava sentada em um tapete mofado, tentou se equilibrar para ficar em pé. Percebeu o como aquilo havia sido difícil, o que será que eles fizeram com ela?

Balançando a cabeça para o seu cabelo sair do seu rosto, sentiu o sangue descer para as suas mãos novamente quando finalmente conseguiu ficar em pé, seu corpo balançando de um lado para o outro. Se apoiando na parede para ficar equilibrada percebeu que o movimento continuava. Não era a tonteira dela, aquilo eram ondas batendo no casco do barco. Era ruim, pensou consigo mesma, significava estar ilhada. Mesmo se conseguisse sair da cela não teria para aonde ir.

Respirou mais uma vez, seu enjoo estava forte, o sacolejar não melhorava. Quem a sequestrara? Quanto tempo havia ficado desacordada? Sabia que já era noite ou começo da manhã, o sol ainda não nascera. Era essa a mesma noite que ela fora raptada ou ela dormiu um dia inteiro? O que eles queriam com ela?

Seus pensamentos foram para Berk. Será que eles já sabiam o que acontecera? Como teria sido a reação de Soluço? Sua mãe estava sentindo que algo ia acontecer, comentara com ela no dia anterior, ou hoje mesmo, não sabia dizer. Se a população já ficou preocupada com ela passando mal, imagina como estavam agora? Pensou em todas as pessoas, começando a ficar nervosa com o que estava por vir.

Calma Astrid, pensou consigo mesma. Não ouvia nenhum barulho. Nada de passos ou vozes, tentou se soltar das correntes, mas estavam muito bem presas. Seus pulsos estavam com marcas avermelhadas, sabia que virariam belos hematomas. Tentou se acomodar da melhor maneira possível e esperar pelo que estava por vir.

***

Soluço limpava o rosto em uma água gelada que arranjaram para ele. O incêndio havia sido maior que ele estava imaginando, passaram horas ali até conseguir tirar todos os animais e acalmar as chamas. Sentiu um peso em no seu ombro direito, quando olhou viu que Eret estava querendo falar com ele.

Os primeiros raios do sol começavam a surgir no horizonte, formando um tom avermelhado no encontro do mar com o céu. Acompanhou o viking até um local atrás do estábulo.

— Quando finalmente conseguimos apagar o fogo resolvi dar uma volta pelos arredores, acabei encontrando isso aqui. — Disse estendendo a palma da mão para o chefe com uma lasca de árvore sobre ela. Outras estavam no chão, indo para dentro da mata.

— Touchwood — Mencionou Soluço, conhecia aquilo, era uma casca com um fungo concentrado que fazia pequenas quantidades de madeira pegarem fogo rapidamente.

— Vários viking carregam isso, chamamos de fogo-vivo.

— Eu conheço. Então o que você quer me dizer é que o incêndio foi proposital?

— Acredito que sim. Olha a quantidade que tem aqui. Mas, por que o estábulo? Não faz muito sentido, não é?

Viu o pavor nos olhos do Chefe de Berk. Ele entendera alguma coisa, teria sido uma armadilha? Soluço saiu correndo o mais rápido que conseguia. Não, não, não! Foi para o local que mais foi atacado da última vez. Como ele pôde ter sido tão idiota? Era tão óbvio. Passou por todos os outros sem prestar atenção, sentia o seu coração em seu peito batendo com força. Imbecil! É claro que Astrid nunca o teria escutado, ela teria ido ajudar no incêndio, devia ter percebido mais cedo! Por favor, que não seja tarde demais.