Capítulo 1 - Recomeço

30 1 0
                                    

Não me sinto diferente, nem sinto que agora tenho mais responsabilidades. Na verdade me sinto exatamente igual, mais estou bem melhor do que a exato 1 ano, 8 meses, um dia e algumas horas. Faz 1 ano, 8 meses, um dia e algumas horas que minha mãe morreu!

E incrível como o tempo passa rápido para as pessoas, não pra mim. Cada segundo é doloroso, eu me acostumei a viver com essa dor, meu pai não. Acabei de deixar ele no centro de reabilitação, ele não bebe a 1 dia e algumas horas! O fiz prometer que não beberia no dia do meu aniversário, mais encontrei ele bebendo uma latinha no dia anterior, é o primeiro dia dele no centro de reabilitação e posso ver seu desagrado por eu não confiar nele.

- Quando sair daqui vá direto para casa! - lhe disse antes de seguir caminho para o cemitério.

Todo dia 15 do mês eu venho no cemitério e converso com ela. Já é uma tradição pra mim e nunca deixo de vir, não trago flores, elas só duram alguns dias, e minha mãe não merece algo que só dure alguns dias! As minhas palavras no entanto vão durar para sempre.

A entrada do cemitério não tem cor! Igual a minha vida. Todas as cores do mundo foram embora naquele 15 de agosto, todas elas se dissolveram na água salgada junto com um pedaço de mim, um pedaço que nunca vai voltar!

Sento-me na grama verde de frente para lápide de Adreaw Lilian Alves bem abaixo de seu nome tem uma frase que eu particularmente odeio " Amada e querida por todos, nunca esqueceremos de você." Não é verdade, todos esqueceram dela, ninguém vem visitá-la. Os únicos que ainda se lembram dela sou eu e meu pai. Mais não sei se posso chamar oque ele sente de "luto" ou "culpa".

Também sei que tenho que seguir em frente, e isso não é seguir em frente! Mais ela é a única com quem falo dos meus problemas.

- Oi mamãe. Ontem foi meu aniversário, o papai não bebeu e eu espero que continue desse jeito. O trabalho na lanchonete continua igual, mais ainda não paga as contas, e o dinheiro que seria pra minha faculdade já está se esgotando, - dou um suspiro. - mais adivinha só, agora que tenho 18 à mais opções de trabalho. E ter terminado a escola ajuda bastante não acha?

Fico ali, esperando uma resposta que nunca vou ouvir. Escultando o vento passando entre as copas das árvores ao longe, depois de um longo tempo eu finalmente me levanto e vou embora.

Estou cansada de ser a responsável por tudo lá em casa, ando sempre sobrecarregada, e ainda não sei como consegui terminar a escola!

✫✫✫

Já é de noite quando eu coloco os pés na rua de casa e de repente congelo no lugar. Um carro. Não... O carro! Eu conheceria aquele carro velho em qualquer lugar e não é algo que eu gostaria de ver hoje.

- Amélia! - É um voz doce, mais com um toque de repreensão. Meus avós!

Mal ponho os pés dentro de casa e eles estão lá, olhando pra mim com indiferença. Como se não me reconhecessem e posso até imaginar o porquê. Meus cabelos estão sem brilho, não ando comendo muito então estou mais magra do que o normal de quando eles me viram. Meu pai está sentado no sofá olhando para baixo sem prestar muita atenção pro que acontece ao seu redor.

- Vó! Que surpresa. - me xingo mentalmente por não ter arrumado mais a casa. A pia está cheia de pratos pra lavar, talvez até da semana passada, os móveis estão cobertos de poeira.

Eles sempre avisaram quando vinham aqui, e por incrível que pareça sempre consegui deixar meu pai sóbrio e apresentável todas as vezes que eles vinham! As conversar entre eles não eram normais e eu sempre estava por perto pra levar a conversa para outro caminho.

Mais agora? Não tinha como eu falar que eles só chegaram em um dia ruim. E meu pai parece ter bebido, oque me faz pensar que ele fugiu do centro de reabilitação. Isso não é bom!

- Por que não nos contou nada querida. - meu avô fala, os cabelos brancos caindo nos olhos, ele leva a mão até o óculos para colocá-lo mais pra cima.

Eu não tive muito contato com meus avós, então pra mim eles não eram uma opção. São quase como estranhos, tirando as visitas quando eu era um bebê e as que eles fazem agora que minha mãe morreu, eles nunca vieram aqui. Quando vinham brigavam com meus pais, então para mim eles não iam se importar.

- Não queria dar trabalho. - isso também é verdade. Quando olho nos olhos deles eu vejo pena! Eles tem pena de mim, não suporto esse olhar, o mesmo olhar dos nossos vizinhos quando me veem.

- Mais é claro que você não daria trabalho lindinha. Como pode pensar isso? - ela vem na minha direção abrindo um sorriso tranquilizador e me abraça.

Não lembro da última vez que fui abraçada e não percebi o tanto que precisava disso, meu corpo relaxou e por um segundo eu senti um carinho que meu pai não tinha condições de me dar. Fiquei ali, com a cabeça enterrada no pescoço da mulher que é a minha vó.

- Agora acho melhor você arrumar as malas. Não podemos te deixar aqui sozinha com seu pai nesse estado, vocês dois vem conosco para casa!

Eu queria dizer que não precisava, queria falar que tenho um emprego e que consigo me virar sozinha. Que meu pai ficaria bem e que eu enfrentaria tudo sozinha, porque sempre foi assim! Mais eu estava muito cansada pra argumentar algo, senti um peso sendo tirado das minhas costas e pela primeira vez em 1 ano, 8 meses e algumas horas me sinto livre, e quero ser assim pro resto da vida. Não preciso me preocupar que o dinheiro não vai dar pra comprar comida, não vou me preocupar de acordar cedo pra arrumar a casa e passar a noite na lanchonete. Sinto que posso voar e nada vai me impedir!

Vou até meu quarto e começo a fazer minhas malas. Talvez esse seja o recomeço de uma nova vida, deixar as coisas do passado para trás e tentar ser feliz se novo.

OIII GATOS & GATAS

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

OIII GATOS & GATAS.

Gostaram do capítulo? Não esquecem de votar pq é muito importante!

Good Ninght!
(Terminado em 14/01/22 as 00:00)
(Publicado em 14/01/22 as 00:30)

It Was Never Destiny Onde histórias criam vida. Descubra agora