Capítulo 4 - Olhos verdes

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Ele me lembra um dia quente de verão no campo, a grama verde balançando por causa do vento e o cheiro de tulipas vem na minha mente. Ele cheira a tulipas! O cabelo preto molhado caindo no rosto e molhando a blusa branca, que discretamente está mostrando músculos. A calça moletom amassada e uma chinela no pé, eu ainda sentia o cheiro de tulipas. Ele me fitava com os olhos de um verde claro, ainda sinto cheiro de tulipas.

Não sei porque, mais começei a me importar de novo com a minha aparência, e não gosto disso. Coloquei um shorts jeans e uma blusa um pouco maior que eu. Era assim que eu saia de casa, era assim que eu ficava em casa, e não me importava com isso, até vê ele. Por que ele não para de me olar? Odeio isso, odeio ficar sem graça na frente de caras como ele - que toda garota sonharia em ter como namorado.

- Oi, a... Callie está em casa? - Callie?... Callie Callie repito o nome várias vezes até perceber que isso foi uma pergunta.

- Callie, ela... ela tá sim... ah... - minha vó, Callie Lilian minha avó onde ela tá?

- Bem, você poderia chama-lá?

- Claro. Você, seu... seu nome é...?

- Lucas! Meu nome é Lucas. - murmuro um "ok" antes de entrar na casa de novo.

Então seria ele a almoçar conosco?

Fui ate a cozinha para ver Lilian e Bernardo lavando a louça, de vez em quando eles olhavam um para o outro e sorriam apaixonadamente. Me veio então na cabeça de que eu nunca viveria esse amor, eles então casados a anos, perderam sua única filha e ainda si amam, eles tem um ao outro para se agarrar, eles são a pilastra um do outro!

Por um momento não sei o que fazer até que ela olha para mim, e abre um sorriso, gostaria de saber como sorrir assim, tenho quase certeza de que meu sorriso se parece mais com uma careta estranha.

- Lucas mandou chamá-la! - afirmo sem saber para onde olhar.

- Há, claro. O Lucas é filho dos nossos vizinhos, e como eles saíram para uma viajem de negócios não puderam levar o garoto, então ele está vindo comer aqui as vezes.

Então o garoto dos olhos verdes e meu vizinho? E ele esta vindo comer aqui as vezes?

✫✫✫

"Hoje ele me levou ao cinema, comprou dois ingressos pra um filme legendado horrível. Eu não prestei atenção no filme, olhei a mão dele na minha e o quanto aquilo era incrivel, ele me fazia esquecer todos os problemas, oque era quase impossível. Papai ainda anda bebendo e não sei se ele vai parar!

Depois do filme Austin me trouxe pra casa e antes de me deixar entrar me beijou. Não foi um beijo lento, nós dois estávamos desesperados pra esquecer a realidade cruel e nos tornamos um só, nunca vou esquecer nosso primeiro beijo!"

Talvez eu tenha esquecido de que em algum momento teríamos que voltar pra realidade, e a cada beijo isso se tornava mais difícil!

✫✫✫


Mais tarde naquele mesmo dia me encontrei deitada em meu quarto, tinha acabado de me despedir de meu pai, Lilian disse que o levaria para uma casa de reabilitação algumas quadras daqui, preferi ficar em casa no silêncio, olhei pela janela do quarto as estrelas lá fora. Minha mãe era uma daquelas estrelas brilhantes!

Eu sabia oque acontecia quando eu ficava sozinha, levantei da cama e peguei uma bolsa pequena e de dentro direi uma navalha. Sentei-me no chão do quarto, suspirei, essa era uma parte minha que eu não conseguia esquecer. Com as mãos trêmulas passei a navalha pela parte de dentro da minha coxa por cima de vários outros cortes, o sangue escorrendo pela minha pele fazendo pingos caírem no chão. Eu me senti viva, a dor naquele momento era algo suportável.

Não sei muito bem quando foi que comecei a me cortar, as lembranças eram misturadas na minha cabeça, uma loucura que nem eu entendia. Talvez tenha sido depois de Austin, fiquei entorpecida pelo nosso término, ele era o único que me mantinha sóbria, como se sem ele eu virasse uma viciada e a droga era a minha própria vida!

No fundo eu sabia que duas pessoas quebradas nunca teriam um final feliz juntos, mais ele emanava paz e me fazia sentir segura, os meus problemas desapareciam, tudo que importava era o sorriso de Austin refletindo no meu.

Entrei no banheiro e senti a água escorrer pelas minhas roupas, sangue se misturando com água e vice-versa. O queimor na minha pele onde o corte estava, as lágrimas que escorriam de meu rosto. Era mais facial assim, fingir que o choro nunca aconteceu quando ele está se misturando com a água.

Não sei quanto tempo fiquei ali, mais assim que saí do banheiro ouvi passos subindo as escadas e se demorando na porta do meu quarto, e então, continuou andando, ouvi a porta do quarto de Lilian ser aberta mais uma pessoa passou pela resta da porta. Depois disso a porta se fechou novamente e por um longo tempo ouve um silêncio ensurdecedor que logo foi quebrado por sons de pingos de chuva contra a janela.

Coloquei um pijama qualquer e me deitei sem se importar que no outro dia meu cabelo estaria uma bagunça por eu não ter o arrumado. Observei a chuva ficar mais forte e trovões racharam o céu nublado, me pergunto o que irei fazer daqui pra frente. Viver em um prédio chique com os meus avós que mal conheço e esquecer tudo do meu passado?

Na verdade eu sabia oque queria fazer. Só por enquanto! Por que a verdade é que eu não faço a minina ideia do que fazer, mais eu poderia ocupar meus dias conhecendo a cidade e talvez possa tentar ler O morro dos Ventos Uivantes.

Olho pro céu nublado mais uma vez e tento enxergar uma estrela sequer, mais é impossível, a chuva bate forte contra a janela e os trovões ficam ainda mais constantes. Odeio dias como esse, e tenho certeza de que minha mãe também!

- Boa noite mamãe. - digo baixinho para o nada.

Por um instante jurei que pude ouvir a voz dela a dizer "Boa noite estrelinha." E sorri, por que ela estava comigo, não havia me abandonado mesmo eu a tendo deixado para trás na nossa antiga cidade.

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