Era uma quarta feira de primavera, as ruas cercadas de árvores de Ipê rosa, o sol quente entrando pela janela e o cheiro de café que vinha da cozinha e ocupava todo meu quarto. A primavera para mim era uma época de sair com os amigos, ir a feira de livros e comprar flores para si mesma! Não lembro a última vez que fiz isso, na verdade eu gostava de comprar flores para minha mãe. Até ela morrer!
A antiga Amélia concerteza estaria fazendo planos com os amigos de sair escondido a noite e voltar só no outro dia.
Não conheço a antiga Amélia!
Não me reconheço!
Eu pensei que conhecia Amélia Lilian Alves, mais a verdade é que eu vivo em uma contínua repetição dos dias anteriores, ou vivia.
Hoje faz uma semana que cheguei aqui, tudo que faço e ficar trancada num quarto de uma criança que a anos não sou, porque tudo aqui parece sufocante mais sair do quarto e ainda mais pior, a casa está cheia de imagens da minha mãe para reforça a minha memória de que estou quase completamente sozinha no mundo. Nos últimos dias fiquei me martirizado pelo fato de que existem pessoas no mundo num estado muito pior que o meu e que eu deveria agradecer por ter meus avós e meu pai, mais aí me martirizo por me martirizar... da pra entender?
Visito meu pai aos domingos e às quintas, no último domingo - primeira vez que o visitei desde a chegada dele lá. - ele não tinha mudado muito e não sei bem o que eu estava esperando, passei a tarde com ele observando as flores no jardim e vendo as folhas caírem das árvores como se tudo estivesse bem e elas não estivessem caindo.
Talvez eu esteja caindo.
Sim, eu com certeza estou caindo, caindo num buraco escuro e não consigo ver o fim, e, por mais que tente me segurar não consigo, porque não tem nada em que eu possa me segurar. Estou caindo infinitamente num buraco negro onde só existe eu e meus problemas!
Fui empurrada pela vida para dentro desse buraco negro.
- Amélia? - uma batida na porta. Lilian está parada olhando pra mim com uma expressão preocupada. Ela tem me dito para sair de casa e andar pela rua, conhecer os vizinhos - que pelo oque parece tem filhos da minha idade.
- Sim?
- Pensei que talvez você tivesse feito planos para hoje, eu e o seu avô vamos passar o dia fora no sítio que sempre vamos, não achei que quisesse ir conosco. Mais se quiser nos acompanhar...
- Na verdade vou dar uma volta pela cidade, talvez ir em um café.
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Uma hora depois eu estava me olhando no espelho, um vestido azul de bolinhas com mangas no corpo e o único tênis que eu tinha - all star branco - no pé. O cabelo estava em um rabo de cavalo, meu cabelo chegava na cintura, só tinha sido cortado uma vez mais depois disso decidi que não o cortaria mais. Gostava de como eu ficava com o cabelo grande e tinha medo de que se eu o cortasse ficasse feio, ele é castanho e ondulado, e é impossível de deixá-lo perfeito!
Desco as escadas depois de pegar uma bolsa de lado, pego as chaves que Lilian disse que agora seriam minhas e assim que abro a porta, dou de cara com o garoto dos olhos verdes parado no corredor em frente a porta de sua casa! Nossos olhos se encontram brevemente antes dele descer o olhar pelo meu corpo dos pés a cabeça, ignorando o arrepio que passa por mim continuou a andar, passando por ele fazendo com que nossos braços se encostem brevemente.
Aperto o botão do elevador.
Primeiro andar
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It Was Never Destiny
Roman d'amour"Como um coração estilhaçado pode bater tão forte por alguém que mal conheço?" "Ficamos ali, um olhando um pro outro esperando o elevador se abrir novamente, e tudo parece parar, o olhar dele parece ver através da minha roupa e pele, como se ele pud...