varrendo a tempestade

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Kagami: 

- Marinette eu... A gente pode conversar?

...

Já fazia tempo que seu comportamento estava diferente comigo. Marinette vivia dando olhares evasivos e respostas vagas. Não era mais a mesma. Tudo isso me deixava cada vez mais angustiada, afinal, era como uma guerra silenciosa, da qual eu não sabia o motivo.

Algumas horas antes, ainda no avião, a situação foi uma angústia sem fim. Ela passou o voo inteiro distante de mim, mesmo que nossas cadeiras fossem lado a lado, estava distante em espírito. A cada olhar curto eu sentia um peso, um nó na garganta.

De todas as um milhão de coisas que tocavam minha língua tudo que pude dizer foi um mero:

- Ei, tá tudo bem?

Não era a minha pergunta ideal, mas meu coração gritava para que não houvesse silêncio. Queria saber como ela estava.

- Tá sim. Respondeu breve.

- Ah.

E assim, ironicamente, enquanto o avião alçava voo acima das nuvens graciosas do horizonte, eu me sentia mais abaixo do que a crosta terrestre, afundando em lava quente.

...

O restante do voo foi "tranquilo". Não trocamos nem mais uma palavra desde aquilo e, confesso, meu pescoço já estava doendo de tanto olhar para o lado contrário. Felizmente em algum momento eu dormi, só fui acordar na hora do desembarque, surpreendentemente revigorada.

...

Enfim, chegamos no hotel, fizemos o check-in e fomos até os quartos. Minha serenidade estava á 90%, e os outros dez faltando, bom, era culpa da Alya, que por algum motivo ou mera maldade (é oque eu acho) agora deu pra espalhar piadas sobre eu ter dormido agarrada com a Marinette. Bom, quem me dera... Mas de qualquer forma, achei que ela seria mais cuidadosa com o meu segredo.

Já acomodadas nos quartos, fomos eu, Alix e Mylene direto para o restaurante, e mais tarde, chegaram também Rose e Juleka, que estavam dividindo um quarto. Agora, as outras? Esperamos dez, vinte, quase trinta minutos e nada. Não que alguém ali esperasse que qualquer pessoa acompanhada da Marinette fosse chegar cedo, mas sabem como é.

Quando faltavam apenas alguns minutos para retirarem o buffet elas deram o ar da graça. Alya veio diretamente para a mesa, um pouco envergonhada pela demora levando em conta seu sorriso amarelo, mas estranhamente a Marinette passou direto para se servir assim que me viu. Mais estranha do que o normal.

...

O restante do jantar, bem, não foi dos melhores. Essa "distância" entre mim e ela, em todos os sentidos, ia me congelando aos poucos. Seu olhar oceânico, majestoso como sempre, agora parecia mais um paraíso distante, se isolando junto com sua própria boca, que soltava cada vez menos risadas ou mesmo palavras. 

Passei o tempo todo me forçando a encarar as paredes ou meu prato vazio, claro, alguns olhares não puderam ser evitados, era difícil ignorar meus próprios desejos, mas disso eu soube que era impossível fingir pra sempre. Eu precisava ajuda-la, e eu precisava que ela soubesse. 

...

Assim que o tal jantar acabou eu saí correndo de lá. Cheguei até o quarto que eu dividia com a Mylene e a Alix, que pelo visto ficariam ainda um bom tempo no restaurante (tomando bebidas duvidosas), tomei um banho curto para tirar meu cheiro de aeroporto e vesti um pijama "arrumadinho". Não queria aparecer muito arrumada, até porquê só iríamos conversar, mas também não podia ficar vagando pelos corredores com minha blusa velha de dragãozinho.

Rosa & Vermelho (Marigami)Onde histórias criam vida. Descubra agora