Ciclo fechado

11 0 0
                                    

Passamos em casa para pegar algumas roupas antes de ir. Ela não disse o caminho e pegou estrada, tudo que sabia era que estávamos saindo da capital. 

- Está nervoso? 

- Não saber onde estou indo é um pouco assustador. Principalmente com você dirigindo. Ainda sinto o cinto me sufocando. 

- Garanto que não vou vender seus órgãos no mercado negro. - Eu adorava o humor dela, mas ela incorporava tanto o personagem que assustava. Deve ter alguma matéria disso no curso de direito.  

- Já antecipo que não são de tão boa qualidade, eu tenho pedras nos rins, já vou avisando. 

Passamos por um portão laranja muito bonito, escrito Socorro. A cidade é pertinho da capital São Paulo, embora eu conheça sobre seu encanto para esportes de aventura e contato com a natureza, nunca havia conhecido a cidade. 

- Socorro! - Falei em tom de brincadeira

- Pode gritar, ninguém vai te socorrer. 

- Nunca vim aqui.

- Eu adorava esse lugar…

Após alguns minutos entramos em uma estrada de terra com uma paisagem linda, deveríamos estar indo para algum lugar em meio a mata. Após alguns quilômetros na estrada de terra, chegamos a uma pousada. Paramos no estacionamento e ela ficou calada encarando o vazio.

- Está tudo bem? - Perguntei colocando minha mão sobre a dela que ainda agarrava o volante.

- Esta é a primeira vez que venho aqui depois do acidente. Estávamos vindo para cá naquele dia.

- Posso fazer algo?

- Não, podemos só ficar aqui uns minutos em silêncio? - Ela falou ainda segurando o volante e encarando o vazio.

Ficamos alguns minutos calados, eu nem podia imaginar o quanto aquilo deveria ser difícil para ela.

- Acho que consigo ir agora. - Ela falou soltando o volante e olhando para mim.

- Vou pegar as malas.

Fizemos check-in e fomos ao chalé que era na parte mais alta da montanha e tinha uma vista incrível. Acomodei as malas no quarto e fui até a sacada onde Victória estava contemplando a vista.

- Que vista, não? - Falei atrás dela, envolvendo minhas mãos em sua cintura e repousando meu queixo em seu ombro, colando meu rosto no dela.

- Meu pai dizia que aqui era seu lugar de paz. Minha mãe dizia que os mosquitos não eram da paz. - Ela sorriu levemente fechando os olhos como se revivesse aquele momento.

- Devo concordar com os dois. 

- Vamos dar uma volta? 

- Só estava esperando seu convite. 

- Trouxe repelente? - Ela falou indo em direção a bolsa.

- Eu teria trago se soubesse onde estava indo. Ai! Você jogou um repelente em mim!

- Aproveita e usa! - Ela sorriu pegando outro repelente.

Ela era tão delicada como coice de mula, mas também era gentil de uma forma que parecia que afagava nosso coração. Depois que descobri toda sua história eu me perguntava como ela conseguiu manter tanta doçura mesmo em meio a tantas cicatrizes. 

Colocamos uma roupa leve e tênis e saímos para ela me apresentar o lugar. Caminhamos por uma trilha em meio a mata até que chegamos em um mirante suspenso. Eu não sei descrever quão linda era aquela vista. 

Quando AcordarOnde histórias criam vida. Descubra agora