Confiar é um risco

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POR VICTÓRIA

Aquilo não podia estar acontecendo, não bastava nos reencontramos, precisava ter trabalho no meio. Pior, eu sou advogada indireta dele. 

Cheguei ao escritório procurando o arquivo de diretores e gerentes da Farmacêutica Herreiro, arquivo que eu não consegui olhar devido a audiência emergencial recente, e com o qual não me preocupei depois, pois a Farmacêutica era conhecida no mercado. "Parabéns, Victória, confiou, se ferrou" era tudo que eu pensava agora... 

- Bom dia, Elisa, tudo bem? Você consegue o arquivo da farmacêutica Herreiro, por gentileza?

- Claro, Victória. Já levo em sua mesa. 

- Pode bloquear o resto do dia na minha agenda, sairei mais cedo hoje. Grata!

Eu precisava de tempo para digerir tudo aquilo. Ethan conseguia me tirar do controle, quebrar minhas regras. Estar tão perto e tão envolvida assim seria um árduo trabalho.

Elisa me trouxe o arquivo solicitado e, para minha surpresa, ali estavam o nome e a foto de Ethan, era azar demais eu não ter visto aquele arquivo antes. Ethan era alto, olhos claros, "branco amarelo", cabelos cheios e claros, principalmente comparados aos meus. Uma mistura de Cauã Raymond com Bruno Gagliasso que mexia com minhas estruturas. 

Tirei a tarde de folga. Eu não ia render nada no trabalho, minha mente estava operando em círculos, lembrando dele e de nosso reencontro. 

- Ana, que bom que você veio.

- Eu jamais negaria um convite a minha melhor amiga e madrinha da minha filha. Que milagre você tirar uma tarde de folga. Explodiram o seu escritório? Foi forçada a sair por causa de ratos, ou o quê? – disse Ana me entregando Ayla, minha afilhada.

- Lembra do Guillermo?

- Claro que lembro, o que te levou para a floresta. O lobo mau! - Ana falou rindo e se mexendo como o bicho.

- Muito mau! Pois é, ele é filho do Francisco Herreiro, com quem acabamos de fechar contrato. Fomos "apresentados" hoje na reunião de formalização. Quase congelei quando me virei e dei de cara com ele. Sua madrinha tem muito azar não é Ayla? – Até a Ayla riu, parece que entendeu onde me meti. 

- Pode ser o destino dizendo que talvez seja hora de jogar suas regras no lixo. - Ana não gostava da minha decisão de não me envolver nunca.

- Fala para o destino que eu não ligo para ele faz muito tempo… 

- Acha que isso vai funcionar? Que ele vai saber respeitar que vocês têm apenas o contrato em comum? De você nem preciso perguntar, tem até doutorado em ser fria. Já é quase uma Brastemp. 

- Já superei a Brastemp faz tempo. – Falei jogando uma batatinha nela.

Ficamos algum tempo no restaurante falando sobre o Ethan e essa bagunça que virou minha vida agora que ele sabe quem sou. E claro, sobre nossa pequena Ayla. 

Na terça-feira, dia seguinte à reunião e reencontro com o Ethan. Cheguei cedo ao escritório, tinha algumas documentações para revisar para uma extensa agenda com clientes nos próximos dias. 

- Victória, bom dia! Tenho uma ligação para a senhora da Farmacêutica Herreiro. Disseram que precisam de uma reunião com a senhora sobre dúvidas do contrato.

- Bom dia, Elisa. Me deixa adivinhar, é o senhor Ethan. Acertei? - Eu queria estar errada...

- Sim, senhora. Ele mesmo.

- Por gentileza, veja uma agenda dele com o Murilo, que é o advogado responsável pela conta. 

- Perfeito. Vou marcar com ele. - Elisa respondeu desligando. 

Voltei a ler o contrato que estava em minha mão quando novamente o telefone toca.

- Oi, Elisa. 

- Ele falou que precisa ser com a senhora. Insiste que eu passe a ligação.  

- Sem problemas, pode passar. Eu me viro com ele. 

Tudo que eu menos queria era confundir trabalho com vida pessoal, mas estava quase certa de que eu e Ethan não queríamos a mesma coisa, para variar. 

- Bom dia, Senhor Ethan. Tudo bem?  Em que posso ajudar? Elisa falou que tem dúvidas sobre o contrato.

- Estou bem e você? Eu gostaria de uma reunião presencial para falarmos melhor. 

- Sem problemas, o Murilo tem agenda para lhe dar todo o suporte, vou pedir que façam uma reserva com sua secretária.  

- Na verdade, eu prefiro que seja você, senhorita Victória. 

- Senhor Ethan, como advogada da empresa preciso pedir que trabalhemos de forma clara. Temos dois advogados a frente do contrato para prestar-lhe toda assessoria necessária. Que tipo de dúvidas o senhor tem sobre o contrato para que eu possa direcionar adequadamente sua necessidade? - Eu queria perguntar de uma vez o que ele realmente queria, mas não podia dar mais espaço para ele confundir as coisas.

- Victória, você sabe que não tenho dúvidas, eu sequer li o contrato. Eu só quero uma chance para conversar com você, você sabe disso.

- Senhor Ethan, preciso pedir que tratemos apenas de negócios, não vamos confundir vida pessoal com trabalho. 

- Pode parar de me chamar de senhor e deixar de ser a advogada por um minuto? Por favor?  

- Está bem, Ethan. Não sou a advogada agora, mas também não sou nada fora disso. Preciso que você entenda isso. 

- Eu sei que eu errei, errei feio, mas a gente pode tentar de novo. Eu posso aceitar algumas regras, podemos ir com calma. 

- Nós já discutimos isso naquela noite, por favor, não ligue para o escritório se não for sobre nosso contrato, vamos manter nossas interações apenas no campo profissional. Ou precisarei discutir a quebra do contrato se você não conseguir separar o que vivemos como Erika e Guillermo da relação de trabalho entre Guerra e Herreiro. 

- Tudo bem, não se preocupe, não usarei o trabalho para tentar um novo encontro. Mas isso não quer dizer que vou desistir de você.  Eu sei que também sente algo por mim. 

- Eu preciso desligar, tenho bastante trabalho a fazer. Tchau, Ethan. - Falei cortando de vez o assunto. 

Tive uma semana longa, muitas reuniões, documentos a revisar, algumas audiências. Mas enfim a semana estava acabando. Eu merecia um descanso. Na semana seguinte teríamos a primeira reunião com a Herreiro e eu queria muito acreditar que o Ethan tinha desistido de nós, e que pudéssemos trabalhar sem o passado nos atrapalhando

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