Skybar

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São Paulo é luz, São Paulo é cor, São Paulo é som, São Paulo é sabor. Dizem alguns poetas que em São Paulo não há amor. Que engano. 

- Sempre atrasado, Ethan. Nem adianta dizer que foi o trânsito... eu sei que é caótico, mas você estava aqui do lado: tropeçou, cai aqui. 

-Você que é apressado, Guillermo. E vacilão! Já devia ter um drink me esperando.

-Vou pedir mais uma cerveja, a minha acabou. Garçom, por favor.

-Para mim um Martini, grato.  

O SkyBar é um dos bares mais charmosos de Sampa. Com uma luz baixa que dá um certo ar intimista, drinks bem elaborados e criações próprias, pratos assinados por chefes e música ambiente na altura certa, sempre dando um charme ao lugar. Mas com certeza o atrativo maior é a vista. O bar fica no último andar do prédio, proporcionando uma visão privilegiada da cidade e seus arranha céus iluminados. Quando o clima permite, é possível até mesmo contemplar a lua e todo o esplendor do céu. O nome Skybar não era por acaso. 

São Paulo, a selva de pedra, a cidade que nunca para. Muitos prédios, pessoas de todos os lugares, trânsito, música, arte, muros cobertos de cores e grafites, gastronomia de diferentes povos. Altas horas da noite ela até parecia uma cidade tranquila.

Mas aquela noite tinha um rosto diferente concorrendo com a vista que eu tanto amava. Cabelos escuros, um corpo que parecia esculpido pelos deuses, pincelado de um moreno iluminado. 

Por trás de uma mecha daquele cabelo escuro, eu podia notar os olhos redondos e negros, um sorriso largo que me seduzia mesmo sem o encarar totalmente. Quem seria aquela mulher que nunca vi por ali? Ela estava conversando com um garçom, perto de uma mesa bem reservada, em um canto mais escuro do bar, mas iluminado o suficiente para eu me perder encarando-a.

-Ethan!!! Alô? Terra chamando. 

Escutei meio ao longe o Guillermo falar enquanto me sacudia o braço. Me virei para ele desviando a atenção da morena.

-Calma, você nasceu de 7 meses? 

-Não escutou nada do que eu falei, né Ethan?

-Você viu aquela mulher? - falei apontando com a cabeça e sobrancelha na direção da mesa. 

-Que mulher? 

Me virei devagar para indicar onde ele deveria olhar, mas ela não estava mais lá. Ela desapareceu no breve momento que fui interrompido por Guillermo. 

-Droga! Ela foi embora.

-Eu não vi nenhuma mulher naquela direção. Mas vamos ao que interessa; você estava muito irritado quando me ligou hoje à tarde. Me conta logo o que aconteceu antes que eu esteja bêbado demais para dar bons conselhos.

-Meu pai decidiu que é hora de eu começar a trabalhar na presidência, já que serei o sucessor dele. "Já passou da hora, Ethan!", ótima frase de incentivo, não? 

-Você sabia que uma hora isso ia acontecer, nem sei como conseguiu ficar no Marketing esses anos todos. E quando começa com ele? 

-Eles estão procurando um novo escritório de advocacia para representar a empresa, e eu O-D-E-I-O advogados, você sabe bem. Então fiz um acordo com ele e começo logo que eles fecharem o contrato com a nova empresa. Oremos para demorarem meses. - falei juntando as mãos. 

-Bom, enquanto as maiores responsabilidades não vêm, amanhã é sábado... tem uma festa exclusiva... um amigo meu conhece a organizadora... Já entendeu, não é?  O que acha?

-Topo! - Respondi animado.

Eu precisava mesmo de uma boa festa, precisava me divertir e parar de me preocupar com o inevitável; ser o sucessor do meu pai na Farmacêutica. Era algo que eu teria que fazer uma hora ou outra, eu escuto isso desde que engatinhava. 

Antes de ir embora do Skybar eu abordei, perto do balcão do bar, o garçom que havia avistado conversando com a morena. 

-Desculpe, tudo bem? Você lembra de uma mulher com cabelos escuros, pele morena, sorriso largo... Estava com você perto daquela mesa. - falei apontando para a mesa.

-Tudo bem e com o senhor? Sim, lembro.

-Sabe quem ela é? Ela vem sempre aqui? - perguntei interessado.

-Desculpe... não podemos falar dos nossos clientes. - respondeu o garçom em tom delicado.

-Não pode falar dos clientes ou dela em específico? - perguntei com voz lenta e tom de curiosidade.

Ele sorriu sem responder à pergunta, pediu licença e saiu, me deixando ainda mais curioso e atraído por aquela mulher misteriosa. 

Em vários anos frequentando o Skybar, eu nunca avistei aquela mulher por ali, será que era turista conhecendo a cidade? 

Quando AcordarOnde histórias criam vida. Descubra agora