I - Drunk Walk Home

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I will retire to the salton sea

At the age of 23

For I'm starting to learn I may never be free

But though I may never be free

Fuck you and your money

I'm tired of your money


Imagens borradas eram tudo o que os olhos verdes escurecidos captavam. Tadashi os esfrega pela terceira vez ao longo do caminho que fizera até aquele momento, que não deve ter sido longo. O relógio que brilha no painel à sua frente marca três e meia da madrugada de domingo. Foi uma noite agitada na S depois de um dia igualmente agitado de trabalho e, para variar, ele precisou vigiar Ainosuke o tempo inteiro, além de tentar consertar a maior parte dos problemas que ele causava. Agora, precisava levá-lo para casa antes de ir para a sua. Quando pudesse finalmente deitar em uma cama, decerto já seriam mais que quatro da manhã. Não conseguiria dormir até as seis. Ainosuke ligaria apenas duas ou três horas depois, exigindo que ele resolvesse algum compromisso que não é de sua responsabilidade. A mesma coisa se repetiria no final de semana seguinte, e no outro e no outro até o fim de sua vida. Sem dúvidas, tinha o direito de estar exausto. Ou pelo menos deveria ter.

— Onde está meu tablet? — O homem no banco de trás pergunta, em tom seco. Em seguida, sua voz se torna galanteadora — Eu preciso ver se meu pequeno Langa chegou em casa bem, afinal.

O sinal verde abre no mesmo momento em que um amargor se forma no fundo da garganta de Tadashi e ele dispara o carro. Ele definitivamente chegou, com o garoto ruivo o acompanhando. Se dissesse o que estava pensando, seria impedido de ver a luz do dia por um tempo. Imaginou a feição assustadora de Ainosuke caso descobrisse que ele era capaz de ser sarcástico, principalmente quando se tratava de sua bizarra paixão unilateral por Langa, e ainda mais citando quem ele considerava ser o terceiro elemento da relação inexistente entre os dois. Langa está perdidamente rendido ao amigo dele. O terceiro elemento é você, Senhor Ainosuke.

— Devo ter esquecido no escritório, peço perdão — É tudo o que decide dizer.

O silêncio deixa o ar tão pesado que Tadashi mal consegue respirar.

— Nesse caso — Ainosuke diz, sério — Você deve coletar o drone e preparar todas as fitas gravadas para que elas estejam prontas para mim amanhã pela manhã.

Ou talvez você devesse encontrar um novo hobby.

Tadashi tenta se controlar. Se não conseguisse conter a onda de raiva crescente em seu corpo, não tinha garantia do que poderia sair de sua boca e nem das consequências que um comportamento rebelde o causaria.

Comumente, ele se manteria apático mesmo diante de pedidos como esse. Se não estivesse desestabilizado pelo cansaço acumulado dominando sua mente e corpo, não teria reação alguma e apenas aceitaria o pedido sem pensar muito. No estado que estava, porém, só conseguia pensar no quão absurdo tudo aquilo era e a vontade de negar a ordem o corroía sem pena alguma.

— Você me ouviu?

Cale a boca. Eu não te suporto mais, só cale a boca e morra.

— Eu não acho que...

Tadashi arregala os olhos quando as palavras saem de sua própria boca antes que pudesse retraí-las, como se fossem um botão vermelho atrativo que seu dedo moveu sozinho para apertar, dando conta tarde demais do que tinha feito. A partir daí, mesmo que tivesse se interrompido, já sabia que era questão de segundos até o cronômetro zerar e a bomba explodir.

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