Capítulo IX

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Adeena Aldriar estava sentada em frente à lareira tamborilando os dedos no braço da poltrona. Aquele lugar em específico a assombrava. Na verdade, refletiu ela, não havia nenhum lugar naquela casa que não a apavorava. Todos os cantos do local guardavam memórias que quebraria a mente de qualquer destemido.

Mas o calor emitido pelo fogo, era demais para ela. Sempre fora.

Tryna estava estranha, distante. Não que ela  já não fosse. A jovem era uma muralha cristal prestes a desabar, no entanto, agora, lhe parecia diferente. Adeena sentia que a menina havia colocado pedras e mais pedras naquelas paredes finas. Como se estivesse a revestindo. Como se estivesse se preparando para uma guerra.

Adeena encarou as chamas, a fumaça lhe contando uma história, se desdobrando em seus maiores segredos contados para o ar frio da manhã.

Tryna, coloque mais lenha na fogueira

Gritos, gritos, muitos gritos.

Você caiu, menina. Foi você que caiu.

Ela sentiu que seus ossos poderiam se partir em pedaços abaixo de sua pele. Mesmo depois de dezesseis anos, as imagens do braço de Tryna se assemelhavam a um grande pesadelo que Adeena não acordava. E jamais acordaria.

Pheme abriu a porta de casa.

— Mamãe, você está bem? Sua pele está pálida.

— Estou bem. — Ela sorriu para filha. — Sabe algo de Tryna? Ela saiu cedo de novo.

Pheme largou os baldes d'água no chão, o líquido balançava formando pequenas ondas por causa de suas mãos trêmulas.

— Ela deve estar dando uma volta por aí. Sabe como Tryna é... não consegue ficar parada.

Adeena não a respondeu e Pheme correu para o trabalho. Correra mais rápido do que a brisa da manhã, enquanto sentia que seu coração explodiria.

***

Algumas pancadas de chuva assolaram Cherismór durante o dia, a primavera dando mais de seus deslumbres. Tryna permitiu que as gotas lavassem sua pele e suas roupas. Ela permitiu que água limpasse qualquer coisa que houvesse de errado com sua alma vazia. Pediu aos Deuses que o choque térmico entre o calor de seu corpo e suas roupas encharcadas levassem sua mente de volta para o presente. Para o que estaria prestes a acontecer.

Tryna Aldriar pensava em apenas uma coisa. Uma maldita coisa.

A Iflah.

A Iflah que ela acreditara um dia que salvaria Dallas. A flor que ela jurara que era uma benção.

A Iflah que fora a grande pergunta do Triunfo.

E Tryna havia a acertado. Porque, dentre tantos bestiários, filosofias, histórias e conceitos das terras mágicas, a flor era o que ela mais sabia. E nunca esqueceria.

Aquela crueldade de tons azulados, não devolvera a vida para Dallas, não a deixara estar do lado do pai em seus últimos suspiros. Entretanto, permitiu que ela sobrevivesse, que ela a pegasse nas mãos e agradecesse à Terra por isso, pensando que as pequenas pétalas poderiam resolver seus maiores problemas. O que fora ao contrário, aquela ilusão no formato de flor somente trouxera mais complicações para sua vida.

Complicações irreversíveis.

A fé dela estava prestes a desabar e se transformar em um grande império caído.

Sua mente estava a levando às alturas. A mundos distantes. Tão desconhecidos quanto sua alma, seu nome. Ela se sentia enclausurada nos próprios questionamentos, o destino brincando com sua vida como se fosse uma crianças mimada e insistente.

E então seus pensamentos voavam até encontrar o rosto de Griffin. Tentando decifrar suas palavras, tentando destruir cada uma das paredes construídas pela relação estranha entre os dois.

Você tem tudo para passar pelo Triunfo. De verdade, Tryna, você tem as qualidades que eles avaliam.

Sentira diversas vezes as mentiras cantadas por Griffin flanquear sua consciência. Mas aquelas palavras, pensara ela, eram apenas a verdade. Talvez a única verdade que ele contara para ela.

Algo que fluía em seu sangue lhe dizia isso.

Um trovão brilhou no céu, o tom azulado iluminando seus olhos. O barulho lhe soava algo, lhe recordava algo: uma cantiga antiga cantada pelo universo, uma morte encomendada.

Quando chegou em casa, tirou as roupas encharcadas. Ninguém a questionara do porquê de seu estado. Ninguém a questionara sobre o desespero estampado em seus olhos. Todos os integrantes da família Aldriar estavam entretidos com algo diferente, como se estivessem evitando qualquer tipo de conversa.

Menos Théz que encarava a irmã intensamente do batente da porta de seu quarto. Quando ela reparou no olhar, ele se virou e entrou no recinto. Tryna fora atrás igual a uma sombra.

O gêmeo se sentara na própria cama, os dedos contornando um desenho feito na parede.

— Théz, você quer me dizer algo?

Ele não disse nada, apenas a encarou novamente, os olhos lhe fazendo um convite claro. Tryna fechou a porta e se dirigiu até a cama.

A parede havia dobrado a quantidade de desenhos. Muitos deles sobre Tryna.

Ele raspou a unha do indicador na parede, o som perturbador fez com que a irmã reparasse no que ele estava tocando: O rosto de Tryna com duas mariposas sobre suas pálpebras fechadas. Ela não o questionou sobre o desenho.

Théz odiava profundamente quando alguém o atordoava com esse tipo de assunto. Então tudo ficava com as interpretações abertas. O gêmeo havia encontrado um refúgio na arte, depois da morte de Dallas. Um refúgio que ele guardava somente para si, recusando qualquer tipo de invasor.

— Eu sei que você se inscreveu no Triunfo — disse inesperadamente.

— Théz...

Ela pensara em tentar convencer o irmão do contrário. Contudo, sempre soubera que a intuição dele era quase uma força imbatível. Se Théz colocasse algo da cabeça, ele não permitiria que ninguém o fizesse concluir o oposto.

Aquilo era uma batalha perdida.

— Era inevitável, não era? — o tom de voz do irmão era incisivo demais até para o gosto de Tryna.

Ela afirmou lentamente com cabeça.

— Te entendo. Todos em Servaty querem participar do Triunfo, mas...

— Eu presumia que você não queria.

— Eu menti. — Ele deu de ombros. — Kay sempre me pareceu animado demais com a ideia, então, o deixaria participar. Não queria ter escondido isso de você, me perdoe.

Kay era apaixonado por qualquer coisa que fazia. Um amante das próprias escolhas com uma paixão incessante. Se apaixonaria pelo Triunfo e tudo que o rodearia. Tal gêmeo sempre fora o equilíbrio que a família Aldriar precisava, uma mancha dourada no meio da escuridão.

Tryna colocou a mão de Théz entre as suas, sorrindo.

— Não se sinta mal por ter um bom coração, Théz.

Boa tarde, gente!!
Queria dizer tô nervosa porque as coisas vão começar a acontecer realmente (o tanto que eu surtei planejando tudo, vocês não tem noção🤯🤯)
Vocês tem alguma teoria sobre o que pode acontecer?
Espero que gostem do capítulo.
Não esqueçam da estrelinha ⭐️, ajuda demais no engajamento 🥲 (seria pedir demais pra vocês compartilharem  a história com um  amigo?👉🏼👈🏼🥺)
Obrigada por tudo!
Até a próxima, bjos 💚🌎

O ELO PERDIDO (Trilogia: A Flor e a Hitrya)Onde histórias criam vida. Descubra agora