Capítulo II

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Griffin passou a desenvolver conversas com Tryna todas as noites. Ela não pode mesurar o que sentia quanto à isso. O que sentia, não; mas o que sabia, sim. Sabia que todos os seres rastejam por ruas ocultas e escuras, sabia que todos seres são caçadores em busca de presas. Aprendera que todos andam por estradas em busca de um destino e os insetos e a poeira, que eles chutam no caminho, são apenas meros imprevistos.
Ela soubera, desde muito cedo, que nunca fora um destino de ninguém e, sim, insetos ou poeira.

Tryna contara à Pheme sobre Griffin. As duas estavam deitadas em sua cama, após contar sobre homem de capa do Rosa's açucaradas. E Pheme, com aquela honestidade ingênua e deturpada, respondeu à irmã:

- Como você pode ser tão sonsa, Tryna! – Pheme lhe disse cutucando, repetidas vezes, o braço de Tryna.

- O que disse? – ela entonou a voz, de forma que fez sua irmã ponderar sobre suas frases seguintes.

- Qualquer um pode se encantar por esses olhos caramelos. – Tryna bufou ao ouvir a resposta da irmã, que se virou e encarou o teto – está bem, quer saber o que eu acho?

Tryna assentiu.

- Seja pragmática, pergunte a ele.

- Já perguntei. Ele disse que é um vendedor de couro e está fazendo negócios na cidade.

Pheme começou a gargalhar.

- Agora ele me parece um pouco burro. Isso é refinado demais para a região!

Tryna chegara a mesma conclusão, quando Griffin disse seus "verdadeiros interesses" na cidade; no entanto, não o questionara mais sobre a questão. Griffin age de modo ardil, ela notara. Sempre se esquivava de certos assuntos e o jeito como o fazia, inicialmente, levava Tryna a acompanhar sua dança e deixá-lo cantarolar fábulas em seus ouvidos.

Inicialmente.

Depois, percebeu ela que ao falar sobre sua família, seu trabalho ou seu local de nascença o deixara desconfortável. Talvez fosse um bastardo, pensou. Também repara em como seu sotaque era algo diferente, para alguém do extremo norte de Servaty – algo que Griffin alegara. Havia algo incomum e, de fato, rebuscado com estrangeirismos. A questão não passava de meros deslizes de sua língua cantarolante, já que, na maioria das vezes, pronunciava os vocábulos sulinos com perfeição.

Alguns segundos de silêncio passaram-se entre as duas, então Pheme resolveu se virar para encarar a irmã:

- Por que continua dando atenção para ele, mesmo o achando um clandestino mentiroso?

Tryna também virou o corpo abaixo das cobertas e se deparou com os cabelos dourados da irmã esparramados no travesseiro. A pequena janela – que se localizava logo acima da cômoda velha e gasta, na parede em frente a cama de casal – permitia alguns pequenos feixes de luz lunar iluminarem os traços jovens de Pheme. Nos olhos de Pheme, Tryna pode perceber, havia algo diferente. Algo que Tryna não tinha e não ousava desejar possuir.

- Não sei ao certo. Talvez porque ele seja alguém novo e diferente nessa cidade.

A irmã sorriu para ela.

- Você sabe, não é? – Tryna franziu o cenho, obrigando Pheme arquear mais ainda seu sorriso – Que você também merece ser feliz e ser amada, Tryna. Boa noite, irmãzinha!

Ela logo se virou para o lado oposto, aconchegando o próprio corpo abaixo das cobertas.

- Boa noite, Pheme – sibilou para suas costas, entre suspiros.

Tryna relembrou, quando selou suas pálpebras e enquanto implorava para que a escuridão a engolisse, do dia em aparecera na porta de casa com a Iflah guardada em sua bolsa. Se relembrou de acordar e ver a irmã limpando seus ferimentos e repousando uma toalha aquecida em sua testa. Se relembrou de ouvir Pheme desmanchar-se em lágrimas, ao mesmo tempo que pedia aos maiores Supremos, filhos da Terra, para que não levassem Tryna.

Lembrou-se de os guardas locais tirarem o corpo morto de Dallas do quarto – o exato quarto em que ela estava agora.

Lembrou-se de cada traço de sofrimento que pendeu Kay e Théz depois da morte do pai.

Amaldiçoou a própria mente – uma verdadeira impertinente manipuladora – e secou a lágrima solitária que escorreu sobre bochechas pálidas, concluindo que estava exausta e delirante. Concluindo que necessitava dormir. Afinal, amanhã precisaria tear linhos, até a maldita mão direita começar a tremer em relutância, e servir cidra para um bando de porcos desdenhosos. E talvez... em algum momento, conversasse com Griffin.

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Bom dia! Como prometido, capítulo novo!
Vou tentar postar o próximo sexta, porque o 3 já está finalizado.
E queria agradecer de novo para quem votou e comentou o capítulo anterior. Isso incentiva qualquer escritor aqui do wattpad, obrigada de verdade.
Eai, o que vocês acham do Griffin? Halo or Horns? Kkkkkkkkk
Espero que gostem, deste, e dos próximos capítulos!
Ah! Outra coisa, eu desenhei o mapa dessa história, vou arrumar e postar em breve.
Beijos💚🌏

O ELO PERDIDO (Trilogia: A Flor e a Hitrya)Onde histórias criam vida. Descubra agora