K. Seulgi
— Podemos pedir para refazerem os exames, Seulgi. — disse SeungWan tentando me acalmar.
Estávamos em minha sala. Eu assinava papéis de internação e afins, mas minha mente havia grudado no exame que vi há pouco — e Wan estava no mesmo estado. Qualquer médico ficaria assim.
Pela quantidade que o papel indicava, a mulher deveria estar morta ou muito debilitada. Porém, ela não dava sinais de complicações pela radiação à qual foi exposta; e sabe-se lá o que aconteceu para que chegasse a esse ponto.
SeungWan se levantou da cadeira à minha frente e deixou a sala. Como clínica geral, mesma posição que eu ocupava, ela estava sempre caminhando pelos corredores, ocupada com tudo, assinando folhas e atendendo a quem quer que precisasse.
O plantão ainda não havia começado para mim, e eu sabia que seria mais longo do que o usual.
{...}
Parei em nossa sala de repouso. Minha cabeça se perdia em muitos pensamentos, e só uma lata de energético conseguiria me manter operando. Aquelas meninas que acabei de cuidar... Por quê? Poderia se dizer que as duas estavam no lugar errado, na hora errada, mas isso não se justifica quando o próprio pai o fez. Um piromaníaco de merda. Elas deveriam apenas ter acordado e, assim como qualquer garota normal, ir à escola. O lunático que chamam de "pai" decidiu o contrário. Ele poderia ter parado com aquela ideia ridícula enquanto jogava gasolina sobre elas, ou enquanto ia até a caixa de fósforos e os acendia, ou enquanto ouvia as filhas berrando no quarto trancado. As profundas feridas em seus corpos não são as únicas que precisarão de muito trabalho para cicatrizarem.
A essa altura, meus olhos se enchiam de água, e eu suava frio. Minha atenção muda quando o celular vibra no bolso do jaleco. A foto de Wan preenche a tela.
— Sim?
— Mandei os exames daquela paciente para reanálise. Já estão prontos... Pode vir na sua sala agora?
— Posso... Acho que ninguém precisa de mim agora. — desliguei a chamada assim que a respondi.
SeungWan e eu sempre combinávamos de fazer plantão juntas. Assim garantíamos que nenhuma das duas trabalharia mais que o permitido, ou que nenhuma das duas passasse aperto.
Logo cheguei em meu espaço. SeungWan me esperava sentada na maca, ao lado da mesinha cheia de folhas e um notebook branco.
Ela me mostrou os exames refeitos, e nada de novo. Os mesmos números, em vermelho, estavam impressos naqueles papéis. Meros números que, na verdade, documentavam uma espécie de milagre. Eu não sabia mais o que especular.
— Eu fui no depósito do térreo e achei um contador geiger. 'Tava velho, mas funcionava. — ela dizia, gesticulando com certa rapidez. — Liguei perto dela e... — desviou o olhar para o chão. SeungWan tinha o hábito de coçar os cotovelos quando ficava nervosa. — Fiz os cálculos e pesquisei umas coisas na internet. — voltou os olhos para mim. — Pelo que vi, e eu chequei os números três vezes para ter certeza, ela precisaria ser exposta por pelo menos 10 anos para chegar a essa quantidade. — apontou para os papéis. — É um quarto da radiação de uma bomba nuclear...
Eu mantinha a postura calma para não agitar seus ânimos. Tanto ela quanto eu sabíamos que havia algo de muito errado na história dessa moça.
— Isso sem contar as cicatrizes, né? — falou, trazendo mais uma interrogação a nossa conversa.
— Eu sei, são muito estranhas... — concordei. — Mas não haviam sinais de abuso ou agressão recentes. Naquele ponto de cicatrização, ela já deve tê-las há uns 5 anos ou mais.
— De qualquer forma, estão lá. — retrucou. Ela não mais transparecia o ceticismo de antes.
— Não sei mais o que pensar. — encostei as costas na cadeira, cansada.
— Porra, Seulgi, eu entendo que não queira fazer suposições porque é antiético, mas ligue os pontos! — aumentou a voz.
— Eu realmente não posso fazer nada, SeungWan, e nem devo. Você sabe. — levantei da cadeira, indo buscar um copinho de água no corredor. Dei o assunto como encerrado, embora soubesse que Wan não deixaria isso morrer tão cedo.
{...}
Faltava menos de uma hora para que o plantão chegasse ao fim. Meu corpo implorava por descanso, e minha cabeça não parava por um segundo. SeungWan já saiu há algumas horas; se despediu e me convidou (ou me obrigou) para sairmos "amanhã" à noite.
Fico andando pelos corredores em busca de tarefas, mas, a essa hora da madrugada, não há muito o que fazer — felizmente. Depois de terminar o expediente e de me despedir dos colegas e pacientes, o que faço é tão automático que nem me dou ao trabalho de prestar atenção. Dirijo pelas ruas ainda escuras e quase vazias, chego em casa, tomo banho, como o smoothie de banana congelado, vou dormir.
Em dias assim, meu sono mal me rendia sonhos: poucas cenas desconexas e uma "tela" preta. Eu não me importo. Tudo que queria era deixar o corpo imóvel e deitado no colchão e a cabeça sem funcionar. Meus planos também incluíam dormir até ficar escuro lá fora novamente. E eu ia bem. O objetivo seria alcançado se uma ligação, às 5 da tarde, não tivesse me interrompido.
— Alô, doutora Kang? — uma voz feminina me chamava do outro lado.
— Hm? — tentava abrir os olhos, embaçados, e a boca para falar.
— Eu não ligaria se não fosse importante. — identifiquei a dona da voz: SooYoung, a recepcionista do hospital. — A senhora pediu que avisasse caso sua paciente em coma acordasse.
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Todos querem matar Bae Joohyun | SeulRene (Red Velvet)
Bí ẩn / Giật gânEntre cuidar de pacientes aqui, monitorar outros acolá, Seulgi vive para nada além do trabalho. A médica sente-se bem assim. E quando uma de suas pacientes acorda de um curto coma com amnésia, ela resolve ajudá-la. Este seria apenas mais um caso ent...