K. Seulgi
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一 Ela me falou apenas isso... Que teve uma lembrança de alguém importante e que iria a Yeosu. 一 ouço uma batida forte do outro lado e um suspiro pesado. 一 Disse que ficou assustada e por isso reagiu mal a vocês... Ela provavelmente vai procurá-los em breve para acertar as coisas. Conversamos enquanto eu assinava os papéis da alta, mas ela não deu detalhes.
一 Por que vocês deixariam alguém perigoso sair? E sozinha? 一 o homem perguntou com certa hostilidade.
一 Hm... Fizemos testes psicológicos simples, e a senhora Bae não apresentou nenhum sinal que precisasse de atenção. Como não haviam laudos atestando transtornos nem comportamentos suspeitos, ela foi liberada. A amnésia é temporária... Creio que nas próximas semanas ela passe a se lembrar.
一 Vamos a Yeosu. 一 o som fica abafado, mas consigo ouvir; ele falou para outra pessoa. 一 Tudo bem, doutora. Muito obrigado por ligar... Vamos ajudá-la.
一 Há algo mais em que eu possa ajudar?
一 Não, não... Caso ela volte, apenas nos avise.
一 Claro. Boa sorte, se cuidem. 一 desligo o telefone antes que ele responda.
Os cretinos acreditaram.
{...}
Passados alguns dias, JooHyun parecia melhor. Ela cuidava da casa enquanto eu estava no hospital, passava a tarde resolvendo problemas matemáticos que encontrava na internet. Conversávamos à noite, e ela me ouvia atentamente. Por mais que JooHyun estivesse quase sempre calada e com uma expressão séria 一 às vezes de dar medo 一, eu sei que ela é sensível. Sensível o bastante para "ressuscitar" as plantinhas nos vasos da entrada e cozinhar nossas refeições.
Evitamos aquele assunto pelo tempo que foi possível. Porém, ainda haviam muitos, inúmeros, buracos abertos, que me tomavam minutos tentando descobrir como "cobri-los". Se JooHyun quisesse minha ajuda, teria de abrir a boca.
Ela agora tomava banho no banheiro do andar de baixo 一 com a porta aberta, pois não gosta de ficar em ambientes muito pequenos. Eu cortava os vegetais para a janta quando JooHyun entra na cozinha. Vestindo a bermuda de malha que a emprestei, percebo mais cicatrizes: queimaduras nos joelhos e marcas de corte na coxa.
Conversamos sobre comidas preferidas e aquelas que não comemos de jeito nenhum. JooHyun lembrava vagamente de muitos gostos, como de tteokbokki e coca-cola; e mesmo sem ter os comido após a amnésia, ela sabia que eram seus preferidos. Ela precisa experimentar tudo novamente. E talvez eu deva ajudá-la nisso. Devo?
A Bae parecia tranquila essa noite. Quando o momento se tornou oportuno, trouxe o assunto à mesa.
一 JooHyun... Hm... Eu estava pensando sobre aquele dia. Como você deu um pau nos dois criminosos? Quer dizer, um deles era tão alto e forte, e estavam armados...
一 Eu só... fiz. Meu corpo sabia o que fazer. Inconscientemente, eu diria. 一 explicou com a expressão neutra. Ela não aparentava desconforto ao lembrar do ataque.
一 Entendi... 一 tomo um gole do suco de laranja em meu copo. 一 Acha que sabia artes marciais ou algo assim?
一 Possivelmente.
Terminamos de jantar em silêncio. JooHyun e eu gostávamos de assistir o noticiário das 9, e depois algum filme. Sentada no outro lado do sofá, com as pernas encolhidas e encostando os joelhos no dorso, ela prestava atenção nas cenas que passavam. Os olhos, vidrados na tela, não percebiam que eu a observava. Sua postura estava sempre fechada, na defensiva. Porém, olhando de perto, era fácil perceber quão frágil JooHyun é. Ela sentia como se tudo e todos quisessem machucá-la. Ela demonstrou surpresa quando os protagonistas se beijaram. JooHyun fica adorável desse ângulo e com meus pijamas de florzinha. Se eu vacilasse um pouco, poderia jurar que meu coração virou adolescente de novo; e, talvez, meu corpo queira repetir a cena que assistíamos.
JooHyun virou o rosto em minha direção. Antes que eu fizesse alguma besteira, deixando nossa "relação" ainda mais estranha, apenas a dei um rápido boa-noite e quase corri para o quarto.
Enquanto escovo os dentes, na frente do espelho do banheiro, olho bem para a pessoa que agia como uma criança. Se fosse possível empilhar os erros que cometi desde que JooHyun surgiu em minha vida, talvez eu alcançasse a Lua. Ótima analogia, Seulgi, pois você parece mesmo uma lunática.
Apago as luzes e deito na cama com o celular na mão. Eu simplesmente não posso me apaixonar por uma mulher... por essa mulher. Abro um aplicativo de namoro, que SeungWan baixou sem minha permissão, e começo a explorar as funcionalidades. Extremamente medíocre, fútil e superficial, eu sei, mas uma boa ferramenta. A vitrine de pessoas tinha uma interface simples de mexer. Eu recusaria ou mostraria interesse em alguém em alguns cliques. Perturbador, mas simples.
Depois de alguns minutos, um homem me manda mensagem. Conversamos um pouco; o básico. Faz tanto tempo que não conheço alguém novo que já me esqueci de como começar uma conversa. Entre "você trabalha com o quê?" e "quais seus filmes preferidos?", nosso diálogo fluía bem. Logo nos desejamos boa-noite. Ele parece ser gente boa.
Coloco o celular no bidê. Mesmo com os barulhos da TV lá embaixo, ouço de novo. Assim como nas outras noites há alguns dias. O choro baixo de JooHyun era nítido; e eu nada podia fazer. Às vezes, ela tentava abafar os sons com o travesseiro, o que não fazia tanta diferença.
Após alguns minutos, às vezes muitos, ela parava. Só então eu conseguia pregar os olhos.
{...}
Acordo com um espasmo. Eu sonhava que alguém me perseguia. Não vi de quem ou do que, mas eu corria. Corria, corria, e minhas pernas não me obedeciam, mal saíam do lugar.
Desci para tomar água e esticar um pouco as pernas. Quando cruzei a sala para ir à cozinha, ouço uns grunhidos. JooHyun, no sofá, se remexia ainda dormindo.
一 Não... 一 seus fios pretos de cabelo grudavam na testa; disse mais uma palavra, mas não consegui entender. Um nome, talvez.
一 JooHyun. JooHyun... 一 chamei-a baixo para não assustá-la. Ela levantou as costas subitamente, respirava com pressa. 一 Tudo bem, era só um pesadelo... 一 acariciei suas costas. 一 Quer uma água? 一 ela fez um "sim" com a cabeça.
Busquei um copo de água para ela e para mim. Sentei próxima a si no sofá, mas ela não parecia querer conversar. Agradeceu-me por acordá-la e tomou o líquido do copo, com os olhos fixados no chão.
一 Foi só um pesadelo mesmo ou uma lembrança? 一 e houve uma pausa.
一 Eu não sei... Era tão real. 一 apenas a luz da cozinha iluminava a sala, suavemente, e pude ver os olhos de JooHyun brilharem. Por impulso, repousei a mão no braço dela; a Bae arrepiou-se.
一 Vou lá para cima... Está tarde. Se precisar, me chame. 一 ela assente. O sofá onde ela estava dormindo há mais de uma semana não era desconfortável, mas passar a noite toda parecia maus-tratos. Antes de botar o pé no primeiro degrau, me viro para ela. 一 JooHyun, quer dormir lá em cima? A cama é bem grande e confortável. Eu não... me importaria. 一 ela me olha e sorri de leve, assentindo. Apanha o travesseiro e o edredom, caminhando atrás de mim até o quarto.
A cama era realmente grande, embora eu tenha a impressão de que diminuiu quando deitamos. JooHyun virou-se e ficou quase na beira do outro lado, fiz o mesmo.
Espero, com todas as forças, que essa ideia não vire um desastre.
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Todos querem matar Bae Joohyun | SeulRene (Red Velvet)
Mystery / ThrillerEntre cuidar de pacientes aqui, monitorar outros acolá, Seulgi vive para nada além do trabalho. A médica sente-se bem assim. E quando uma de suas pacientes acorda de um curto coma com amnésia, ela resolve ajudá-la. Este seria apenas mais um caso ent...