2. Convites

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7 de fevereiro de 2022, segunda-feira, Rio Grande do Sul

- Minha nossa. É sério isso?

Olhei para Miguel, balançando o segundo convite para festa de 16 anos que recebera no intervalo de uma semana.

- Seríssimo. Você sabe da revolução no grupo de Whatsapp das mães, em que todas decidiram postergar a festa de debutante das filhas por conta da pandemia? Então, dezesseis são os novos quinze.

- Minha nossa. – repeti, ainda segurando o convite de aniversário (que mais parecia de um casamento) de Jolie, a terceira herdeira do trono de Alagoas. – Festa é o que não vai faltar.

Ele rolou os olhos, mas não parecia realmente irritado.

- Dá pra ver o desânimo escorrendo de você. Quer uma toalha?

- Cala a boca. – eu disse, enquanto tentava controlar um sorriso.

- Eu quero saber é da sua festa de quinze anos. – disse ele, se esparramando na cama - Como andam as coisas? Temos até dois de maio...

O meu olhar fuzilante deve tê-lo desencorajado a continuar.

- Ah, nem vem me falar que você não vai fazer. Tenho certeza que a titia Lúcia está do meu lado.

Isso sim era estranho. Minha mãe não ter tocado no assuntou até agora.

Balancei a cabeça, resoluta.

- Vou pedir uma viajem ou algo assim. Quem sabe para a Capadócia? Eu sempre quis andar de balão.

- Ah, fala sério. Viajar você viaja o ano inteiro! Sem a pandemia, é claro, pede isso nas próximas férias. A questão da festa, e você deve saber, é a publicidade. Aumentar a fama do seu reino, exibir os representantes, reafirmar relações com os convidados e blablabla.

- Não vou transformar meu aniversário em campanha política.

- Eu não estou dizendo para você fazer isso. Estou falando para você se aproveitar disso e deixar sua mãe te dar uma festa super legal.

- Não seria super legal! - eu disse, já me exaltando com a ideia - Eu tenho uma dúzia de motivos para não querer e vocês não vão me convencer do contrário.

- Sou todo ouvidos.

Ergui uma mão, enumerando para ele.

- Eu não gosto de usar vestido. Se colocar um salto vou ficar com o dobro da altura da minha mãe e vou cair. Não sei dançar. Não tenho amigos para convidar...

- Corta essa. Faz que nem todo mundo, convida a sala toda.

Balancei a cabeça.

- Você não entende. Eu não posso fazer isso.

- Por quê? Você é herdeira de São Paulo, a lista de coisas que não pode fazer é bem restrita.

- Eu posso até ser, mas ninguém me trata melhor por conta disso. – fiz uma careta – Só, talvez, você.

- Quanta auto piedade. – reclamou Miguel, se levantando – Eu também não sei dançar. O que significa que você não passaria mico sozinha.

Ele fez uma pausa, parecendo pensar a respeito do que tinha dito, e então deu dois passos em minha direção.

Fez uma pequena careta, e segurou meus ombros. Levemente, mas eu sentia suas mãos lá.

Devia haver um ponto de interrogação na minha testa, porque ele explicou:

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