Passado

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Eu não gosto disso. Essa sensação de sentir dentro de mim uma dor que não me pertence, que apenas fez moradia por tempo indeterminado em meu peito. Uma sensação de sufoco, que me tira a paz, que me deixa transtornado, confuso e terrivelmente perdido.

Quando entramos na casa de Jimin, o silêncio se mostra desconfortável, tenso e pesado. É mais ensurdecedor do que se estivéssemos gritando um com o outro. E pelo estado dele, não acho que gritar surtiria um efeito positivo, mesmo que fosse o alívio de colocar as emoções para fora.

— Por que você não toma um banho quente, uh? Vai fazer bem. — Proponho, com todo o meu coração, o vendo concordar sem nem me olhar. — Vou esperar por você. Eu o coloco para dormir hoje.

O meu intuito é fazê-lo sorrir ou algo assim, mas percebo seus olhos marejados quando novamente concorda e se afasta, indo na direção onde, provavelmente, fica o seu banheiro.

Eu respiro fundo mais uma vez. Essa sensação ruim não vai passar até que eu entenda o que está havendo com ele, infelizmente.

Mesmo achando que é invasão de privacidade, procuro por sua cozinha com a mesma sensação sufocante no peito, e então pego o necessário para fazer um chá calmante. Não sei se Jimin gosta ou se vai apreciar minha atitude, mas penso no quanto quero fazer algo positivo por ele e foco unicamente nisso. Jimin merece, no fim das contas, independentemente do que tenha acontecido ou a razão para que ele tenha ficado tão incomodado com aquela cena.

Ele tem fobia de fogo? É algum trauma? O que pode ser?

Qualquer que seja a resposta, estou disposto a descobrir.

Assim que termino o chá de Jimin e o coloco na primeira caneca que encontro, pego meu celular para atender uma ligação da minha mãe. Como não é de seu costume ligar, mesmo quando ela está cuidando de Jinwoo, eu prontamente atendo.

— Está tudo bem? — É a primeira coisa que pergunto, ouvindo sua risada baixinha.

— Digamos que vou ter que dormir no seu quarto, porque perdi meu lugar na cama para o meu neto. — Ela brinca, em seguida me mandando uma foto e me fazendo rir alto pela cena de Jinwoo e meu pai, dormindo juntos na cama de casal. — Está ficando tarde, eu queria pedir que você dormisse na casa do seu amigo. Se é que está em um amigo mesmo. Não vá engravidar ninguém, querido! 

— Mãe! — Esbravejo, rindo. — Estou na casa de um amigo, homem, o meu chefe, sabe? O Jimin hyung.

— Mas é um homem lindo, querido, não pode engravidá-lo, mas use proteção ainda assim.

Eu pensei que ficaria constrangido ou algo do tipo com a colocação dela, mas a verdade é que fiquei totalmente sem palavras. Porque eu nunca imaginei algo desse jeito, nunca olhei para um homem dessa forma. Nem mesmo para Jimin. E não por qualquer tipo de preconceito, e sim porque nenhum homem me despertou curiosidade. Isso pode significar que eu realmente gosto de mulheres ou que ainda não encontrei a pessoa certa. E está tudo bem, eu só tenho dezoito anos!

— Você está mesmo me dizendo isso? — Me surpreendo, e ela ri baixinho do outro lado da linha.

— Você tem uma mente tão aberta, meu amor, como acha que eu não teria? Até seu pai gostou dele. — Ela ri de novo, me fazendo engolir em seco. — Eu só quero que você seja feliz, não me importa se vai ser sozinho, com um homem, uma mulher ou o que for. Seu pai pensa o mesmo. E agora acho que ele quer que você saia mais vezes para poder passar mais tempo com Jinwoo. É fácil se apaixonar por ele, ainda mais fácil se apaixonar por você. Pense nisso. Jinwoo já fisgou Jimin, logo será você.

Eu até penso em dizer mais alguma coisa, porque esse comentário dela me deixa muito feliz e muito preocupado ao mesmo tempo, mas Jimin aparece em meu campo de visão antes que eu possa e eu rapidamente desligo a ligação após dizer que a amo e que volto no dia seguinte. 

O Amor é Singular  | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora