2. elementary.

1K 108 114
                                    

Naquela noite, eles saíram juntos.

Ela não sabia exatamente o que esperar, não tinha uma longa lista de experiências com encontros. Afinal, aquilo era um encontro? Ou será que ela era a única que realmente achava que aquilo poderia ser um encontro? Talvez ele só estivesse levando-a para dar uma volta, e Lexi estivesse 100% investida em algo romântico.

Romântico? Ah, meu Deus...

Naquela noite, ela se vestiu como sempre se vestia, pois queria se sentir parecida consigo mesma. Pensou em vasculhar as roupas de Cassie que lhe cabiam, mas se sentiu ridícula assim que provou um vestido apertado curto demais e largo demais no busto. Ela era Lexi e não Cassie, e tudo bem quanto a isso.

Estava tudo bem com ela, em suas calças xadrez e blusa de frio, no banco do carro de um dos traficantes da cidade.

Fezco disse que a levaria para um lugar legal, seu lugar favorito, o que a fez pensar o que exatamente poderia ser um "lugar legal" para ele. Ele era traficante, sim, mas também era o cara mais doce que ela conhecia. Bom, quase conhecia. Que ela queria conhecer.

Lexi achou que seria uma festa ou algum tipo de balada, mas lá estavam os dois em uma parte da cidade que quase ninguém visitava. Era um lugar alto e silencioso, onde era possível escutar apenas o som das cigarras em algum lugar perto. Ela olhou em volta, não havia nada nem ninguém: nenhum tipo de casa abandonada ou qualquer coisa que desse sinal de vida, apenas uma imensidão de casas ao longe que pareciam pontos brilhantes num céu estrelado quando vistas tão distantes.

Lexi saiu do carro com uma expressão confusa no rosto, mas Fez se apressou em dizer:

-O quê? Não gostou?

-Não, é só...mais quieto do que achei que seria.

-Bom, eu gosto. É bonito daqui de cima, dá pra ver todo mundo. Daqui de cima a gente não tem nem ideia do quão filha da puta esses pontinhos brilhantes conseguem ser, eles só estão lá brilhando, bonitinhos. - Ele se sentou sobre o capô do carro, e buscou um isqueiro no bolso para acender o cigarro. - Não era o que você esperava?

- Não, acho que é melhor, pra falar a verdade. - Disse, se sentando com ele sobre o capô para observar a vista das casas brilhando pequenas contra a escuridão da noite, como pequenos vagalumes.

- Você disse que queria me conhecer, acho que devo te alertar, eu sou um pouco esquisito.

Ela sorriu.

-Duvido que seja mais esquisito do que eu.

-Você não é o ruivo com uma cicatriz na cabeça e monte de drogas em casa, é?

-Ok...Não. Mas tem outras maneiras de ser esquisito, e tenho certeza que ganho de você em todas elas.

-Como assim? Você é, tipo, uma das meninas mais bonitas que eu conheço.

Lexi abaixou a cabeça para esconder o rubor nas bochechas.

- Ah, com certeza.

Ela pode sentir o cheiro da fumaça que ele cuspiu, mas fitou os pés o tempo todo, tentando não ser devorada pela timidez.

-Por que faz isso?

-Isso o quê?

-Essa coisa de se colocar pra baixo. Já falamos sobre ela antes, não é?

-Sim, mas...sei lá. É só uma mania.

-Vamos lá, Lexi Howard, se você quer saber mais sobre mim, eu também quero saber mais sobre você.

Algo dentro dela sempre quis que alguém lhe perguntasse aquilo. Não sabia exatamente o porquê, mas eram algumas palavras que estavam travadas embaixo da sua língua há tanto tempo que haviam criado pó.

-Posso dizer algo bem clichê?

-Á vontade.

Lexi suspirou.

-Ás vezes eu sinto como - Ela sorriu, observando as luzes das casas lá embaixo. - como se eu fosse figurante dentro da minha própria vida, sabe? Como se eu só estivesse lá, a postos, esperando alguém precisar de mim pra depois ir embora até a próxima. Me sinto assim desde que me entendo por gente. Acho que depois de tanto tempo não consigo acreditar que alguém...sei lá.

- Alguém o quê?

-Ah, deixa. Você não deve ter me trazido aqui pra desabafar.

-Vamos lá, eu quero saber.

Mais um suspiro, e então ela apertou os braços contra si.

-Ás vezes eu me sinto mais uma coisa do que uma pessoa. Uma mesa de centro. Mas isso é besteira, não é? Você deve estar pensando que eu sou uma criança do caralho.

-Não, de jeito nenhum. - Ele cuspiu mais fumaça, que fez voltas e voltas no ar até desaparecer por completo. - Eu também me sinto mais objeto do que pessoa ás vezes. Mas não tão mesa de centro, talvez uma bengala. Ou talvez uma latinha de cerveja caída pra fora do lixo de recicláveis.

Lexi o olhou fixamente pela primeira vez desde que desceram do carro. Era bonito, ainda mais bonito pintado de azul claro pela luz da lua que brilhava alta no céu. Decidiu naquele momento que, não importava quem ele fosse, seja o garoto interessado da conversa no sofá ou o violento que levou Nate Jacobs para a UTI, ela gostava dele. Gostava mesmo.

- Quer? - Perguntou fez, lhe oferecendo o cigarro.

Nunca tinha fumado maconha na vida, mas também nunca tinha feito várias coisas: Nunca tinha se perdido na parte alta da cidade com um traficante, nunca tinha se aberto sobre seus problemas de autoestima, e nunca tinha sentido tantas borboletas no estômago perto de um garoto.

-Foda-se - Disse aquilo em voz alta, embora fosse mais uma mensagem para si mesma, pegando o cigarro da mão dele e puxando o ar do jeito que alguns amigos tinham dito ser o certo.

Sentiu um gosto estranho, mas logo a fumaça invadiu sua garganta e a fez começar a tossir alto, vergonhosamente, deixando transparecer a total inexperiência que tinha em relação a qualquer coisa.

- Ei, vai com calma, Snoop Dogg. - Fezco disse, rindo. - Deixa que eu te ensino...

Extraordinary - Fez&LexiOnde histórias criam vida. Descubra agora