7. extraordinary.

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Ás vezes, ela se perguntava como seria o fim do mundo. 

Como seria existir sabendo que não há nada além da falta de esperança? Como seria olhar para o céu tendo a ciência de que tudo o que já existiu estava prestes a não existir mais?

E, logo em seguida, o vazio. 

O silêncio do fim da existência, todas as ânsias e os problemas que já existiram em 4 bilhões de anos esgotados e o universo seguindo seu curso normalmente, com a força motora de tudo que já houve ainda empurrando e se movendo sorrateiramente entre os confins do infinito. Não há mais problemas, não há mais soluções. Depois do caos, vem o silêncio. 

Ás vezes, ela pensava que a morte e o fim do mundo eram a mesma coisa. 

O que seria o fim do mundo além do encerramento de tudo o que conhecemos? E o que seria a morte se não exatamente isso? Sendo assim, a única certeza que todos temos na vida é esta: Pode não ser hoje, pode não ser amanhã, mas para cada alma viva existindo sobre a gigantesca rocha que chamamos de Terra haverá um fim do mundo. 

Ás vezes, ela se perguntava como seria o dela. 

Lexi sempre teve pensamentos demais na cabeça, e geralmente eles morriam em sua garganta, sufocados e engolidos no seco. Ela sabia que se deixasse-os sair o mundo seria um lugar barulhento demais, e Lexi sempre apreciou o silêncio. 

Mas ultimamente seu silêncio tem sido atrapalhado, movimentado e até mesmo extinto. Haviam momentos em que ela não se reconhecia mais, mas definitivamente gostava da mulher que via no espelho. 

Sempre se sentiu metade de algo, a metade inútil. Um pires sem xícara, um garfo sem faca, um único pé esquerdo de um sapato feio demais. Sempre sentiu como se pudesse ser largada ou trocada em sua própria vida, substituída por um dublê. Não faria diferença. Entre o 2 e o 3 da vida das pessoas, ela era o 2,5. Não era lembrada, mas estava ali. 

Mediana, mediana sempre. 

Mas, ultimamente, entre noites no topo da cidade e no sofá de um traficante de drogas, ela sabia que poderia começar a respirar. Poderia viver em seu estado mais puro da palavra, não ser um 2 ou um 3, mas um completo 10. 

Entre um Big Bang e um fim do mundo, ela poderia ser Lexi Howard. 

Estava deitada sobre a cama de Cassie junto da cama da irmã. Olhava fixamente para os traços finos dela: o nariz pequeno e os olhos gigantes, os cabelos louros finos refletiam o brilho azulado da noite  que vinha da janela e pareciam dourados e vivos, combinando com o rubor da pele dela, sempre corada e saudável. 

Parecia um anjo pintado por algum homem talentoso do século quinze. Por muito tempo, Lexi a invejou, mas naquele momento não. Apenas a observou normalmente, como quem observa um quadro. 

Sua irmã estava triste, ela sabia disso. Tinha arruinado sua amizade com Maddy, sua relação com Nate tinha sido catastrófica, e ela continuava ali. Mas, pelo menos, parecia mais madura agora. 

- Nunca me senti tão sozinha na vida. - Falou Cassie, de olhos fechados no seu lado da cama. 

- Isso é engraçado, honestamente. 

-Por quê? 

- Porque, neste momento, você está sentindo o que eu senti em boa parte da minha vida. 

A irmã se mexeu, abrindo os olhos por um curto período de tempo. 

- Sinto muito. 

- Nunca foi sua culpa, Cass. Somos pessoas diferentes demais, lidamos com as coisas de maneiras diferentes. 

Extraordinary - Fez&LexiOnde histórias criam vida. Descubra agora