Beleza Aprisionante - História dos Quatro Reinos

Capítulo 20

Charlotte nunca acordou tão bem em toda a sua vida.

Mesmo depois do dia anterior cheio de turbulências e incertezas, ela não teve pesadelo algum e estava com o corpo mais leve do que nunca.

Aquela havia sido de longe a noite mais mágica e incrível da vida dela.

Charlotte nem se lembrava de suas preocupações sobre sua complicada família. Tudo em sua mente girava em torno de Richard.

No passado ela não entendia bem os sentimentos humanos, mas depois de conhecer o rei do fogo e ouvir as explicações dele sobre coisas do coração por mais de três meses, depois daquela noite mágica, Charlotte estava certa que amava perdidamente aquele homem perfeito que, além de ser absurdamente bom de cama, era um cavalheiro em todos os sentidos e até mesmo cuidou dela depois do sexo.

Foi a primeira vez que Charlotte não se sentiu usada durante aquele ato. Ela se sentiu importante, respeitada, cuidada e protegida, de uma maneira que jamais achou ser possível. Foi a primeira vez que Charlotte sentiu prazer em algo assim, e ela amou aquilo. Apenas com Richard ela podia ser egoísta a esse ponto, como ela jamais se permitiu ser.

Charlotte se levantou da cama com certa dificuldade por ter exagerado tanto na noite passada, mas aquele incômodo no meio das pernas era tão bom que ela só faltou cantarolar enquanto se trocava e arrumava sua bagagem (com extrema tristeza, diga-se de passagem) para ir embora. Como Richard já esperava, ela estava aérea demais para pensar em checar seu cofre prateado e ver se os documentos confidenciais ainda estavam lá dentro.

Ela se lembrava vagamente das coisas que aconteceram depois do melhor sexo de sua vida, inclusive do "eu te amo" que falou para Richard. No entanto, ela não se lembrava de ter visto a reação dele e queria muito saber o que ele pensava sobre ela, se o que rolou ontem foi só uma noite como qualquer outra para ele ou se foi mais.

Ela não queria deixar aquele reino de jeito nenhum, pelo menos não sem antes falar com Richard sobre seus sentimentos.

No entanto, quando desceu para se encontrar com os reis, foi informada por Nathaniel (estranhamente mais sério do que nunca) que todos já haviam deixado o castelo, inclusive Richard e o irmão, que aparentemente haviam ido cuidar de um problema urgente no sul de seu reino.

Charlotte compreendeu a fuga rápida de Alexander pela simples possibilidade de John retornar, compreendeu a irritação da rejeição que motivou Henrique a ir embora sem se despedir dela, e até mesmo compreendeu a inesperalidade que embalava os comportamentos de Stevan, porém não conseguiu entender o motivo de Richard ter ido embora sem se despedir logo depois daquela noite mágica que os dois tiveram. Mesmo com motivos urgentes, ele ao menos poderia ter deixado uma carta de despedida para ela.

Charlotte não sabia o que aquilo poderia significar, mas resolveu deixar para lá e finalmente entrar em sua carruagem, pois teria que enfrentar o longo caminho de dias para retornar ao seu reino.

A volta foi estranhamente mais pacífica e silenciosa que o normal. Até os soldados do fogo pelo caminho pareciam reduzidos. No último dia de viagem, Charlotte percebeu que seus soldados pessoais pareciam meio inquietos, assim como o próprio Nathaniel, porém ela estava tão profundamente pensativa sobre Richard e outras complicações que não deu muita bola para essas mudanças.

Então, quando chegou a hora de ultrapassar a fronteira, Charlotte começou a sentir um cheiro estranho de metal dentro de sua carruagem, um cheiro que a deixou meio sonolenta. Antes que ela pudesse ficar preocupada, a rainha do Gelo caiu num sono muito profundo.

Quando acordou, Charlotte sentiu um terreno duro e muito frio contra sua bochecha e um incômodo terrível em seu pescoço.

Mas seu corpo parecia tão pesado que ela sentia como se não quisesse acordar do buraco negro no qual sua cabeça estava imersa até então.