Capítulo 23

22 4 27
                                    

Aviso - esse capítulo contém cenas pesadas que podem ser gatilhos para você. Cuidado ao prosseguir.

As próximas semanas foram um inferno na terra para Charlotte.

Não pela tortura. 

Não. A tortura era aceitável. 

Em média, no começo de seu trabalho como "empregada" do castelo, ela errava bastante (pelos padrões de Mary) e, além de milhares de cargas elétricas nada agradáveis, chegou até mesmo a receber 1000 chicotadas no primeiro final de semana, ficando com os ossos da costa a mostra depois da sentença. Mas sua regeneração era tão boa que em menos de um dia e meio suas costas já estavam quase novinhas em folha e seu corpo já era capaz de voltar ao "trabalho". Nas outras semanas ela se habituou mais com o trabalho pesado de empregada e já conseguiu diminuir suas sentenças substancialmente (para em média 200 chicotadas por final de semana e umas poucas cargas elétricas desferidas por Mary quase que para não a desacostumar com a sensação).

Também não era por culpa dos estupros constantes que vinha sofrendo não só por parte dos soldados, como também pelos nobres, magos inferiores, generais e até mesmo pelos cozinheiros e outros empregados de baixo nível. Esses momentos eram ainda piores que as chicotadas para ela, porém eram tão "familiares", quase "corriqueiros demais" para aquela ex-rainha, que Charlotte conseguia fingir que nada havia acontecido mesmo depois de passar a noite inteira acordada por culpa de soldados exagerados.

Até mesmo a humilhação, bullying e ameaças constantes que ela recebia diariamente pelas empregadas e nobres invejosas da beleza avassaladora dela não a incomodavam realmente. A crueldade constante de Mary e de James também era relativamente "fácil" de levar.

O real motivo para Charlotte se sentir horrível e como se estivesse padecendo no inferno era a indiferença de Richard.

Ele não voltou mais a tocá-la ou machucá-la depois do primeiro dia dela como "empregada" do palácio. Na verdade, ele sequer dirigia palavra a ela, deixando a cargo do irmão a aplicação das crueldades destinadas a Charlotte enquanto aquele rei se focava unicamente no trabalho duplicado que era cuidar de dois reinos.

O problema era que essa indiferença parecia como uma facada no coração daquela ex-rainha toda vez que ela pensava sobre o assunto. Charlotte se sentia extremamente triste por ter perdido uma relação que prezava tanto. Richard não era só alguém por quem Charlotte sentia atração física ou quem admirava...

Richard fora um amigo para ela, um confidente, alguém para quem ela revelou certas partes de si mesma que não tinha coragem de revelar a ninguém. Ele foi o único com quem ela teve coragem de abrir seu coração e de deixá-lo entrar. Mas tudo parecia ter sido em vão, afinal ele havia usado a confiança que ela depositara nele unicamente com o propósito de ganhar seu reino.

Doía demais pensar que todas as horas passadas ao lado daquele homem gentil, nobre, misterioso e amigável haviam sido falsas. E doía ainda mais perceber que os tormentos atuais pelos quais ela passava nem sequer importavam para ele.

Sinceramente, ela nem sequer o via pelos corredores do castelo, nem por acidente. Se aquela tortura era uma vingança contra a morte do pai, Charlotte achava que apenas James parecia estar realmente aproveitando tal situação, enquanto Richard parecia satisfeito somente com o controle sobre um novo reino.

Isso era meio estranho aos olhos de Charlotte, essa indiferença toda a tal "vingança" pela qual Richard a enganou. Porém, pensar sobre isso só fazia com que ela se sentisse ainda mais mal, imaginando que Richard não se importava com ela nem mesmo para sequer ter vontade de vê-la sofrer. Então ela achou que ele provavelmente estava descontando sua vingança no reino do gelo e isso a deixou bastante preocupada.

Beleza Aprisionante - História dos Quatro ReinosOnde histórias criam vida. Descubra agora