— Pela milionésima vez, Sienna, ele não disse nada.
— Bem, ele puxou você para o corredor para uma
pequena discussão por um motivo!
Suspirei. Estávamos de volta em casa, na cama,
prontos para encerrar a noite, mas Sienna simplesmente
não desistia. Eu disse a ela uma e outra vez que o
curandeiro não tinha me dito nada. E isso era verdade.
Bem, era quase verdade.
Ele não me disse nada importante.
Nada do que ele me disse me fez acreditar que ele
realmente sabia alguma coisa sobre cura ou sobre o
estado de saúde do nosso bebê. Sinceramente, acho que
ele só queria falar com um Alfa por alguns minutos.
Sienna se virou de lado, de costas para mim.
— Vamos, — eu disse, cutucando ela. Mas ela não se
mexeu. Então eu me aproximei dela, envolvendo meus
braços em torno dela para que estivéssemos de
conchinha. — Ok, você quer um resumo da conversa?
— Sim.
— Tá. Ele disse que era um prazer me conhecer, que
eu parecia um verdadeiro Alfa — não um daqueles
molengas. E ele disse que quando sentiu você, teve a
sensação de que algo estava errado.
Sienna se virou para mim com os olhos arregalados.
— Algo está... errado?
— Sienna, não podemos confiar em uma palavra que esse cara está dizendo. Ele claramente só queria me
conhecer, me impressionar com algo
— E você acha que ele tentou te impressionar
dizendo que algo está errado comigo?!
— Não sei, — admiti, coçando a cabeça. — Não sei o
que pensar. Mas você não está mais sofrendo, certo?
— Não, — ela disse suavemente, balançando a cabeça.
— Mas eu preciso saber...
— Eu sei, — eu disse, beijando seu nariz. — Vamos
descobrir o que foi. Eu prometo. A primeira coisa que
vou fazer amanhã é rastrear Jocelyn...
— Não. A primeira coisa que vai acontecer amanhã é
o maldito chá de bebê.
Merda.
Eu esqueci disso.
Eu concordei.
— Ok, depois do chá de bebê, vou localizá-la. Vamos
resolver isso, Sienna, eu prometo a você.
— Mas você me promete que não vai se preocupar com
isso, ok? Não até que tenhamos um motivo para nos
preocupar.
Ela fechou os olhos suavemente, e quando os abriu
alguns segundos depois, eles estavam cheios de
confiança. Confie em mim, nas palavras que estava
dizendo.
— Ok, — ela sussurrou, e então se aninhou em mim.
E adormecemos assim, envoltos no calor um do outro.
Eu não estava nem um pouco animada para ir ao chá de
bebê, para ser sincera.
Olha, eu sabia que deveria ser algo que eu queria
fazer — celebrar o futuro nascimento de nosso filho
com nossa família e amigos mais próximos. Aquilo era um marco, algo que a maioria das mulheres gritaria de
alegria só de pensar.
Mas ali estava eu, envolta em um suéter azul pastel
com ombros largos, me sentindo como uma garota emo em
um filme deprimente.
Não estava ajudando o fato de eu nunca ter me
sentido mais inchada na minha vida. Embora o espelho
mostrasse o mesmo corpo que sempre tive, senti como se
tivesse ganhado dezoito quilos durante a noite.
— O que há de errado, meu amor? — Aiden perguntou
enquanto caminhava até onde eu estava, mas meus olhos
ainda estavam fixos no espelho.
— Eu não sei o que há de errado comigo.
— Não há nada de errado com você, Sienna.
— Eu não estou falando sobre fisicamente. Estou
dizendo, por que estou temendo tanto isso? São todos
que amamos, Aiden. Eu deveria estar animada com isso.
— Você teve alguns dias exaustivos. Nós dois
tivemos, — ele disse, inclinando meu queixo para cima
para ter melhor acesso aos meus lábios. Ele me beijou.
— Não vai ser tão ruim, eu prometo. E depois que
acabar, teremos a tarde só para nós. Sem nenhum plano,
— disse ele, sorrindo maliciosamente.
Eu olhei em seu rosto bonito, seus olhos brilhantes
e envolvi minhas mãos em seu pescoço. Então eu trouxe
meus lábios de volta aos dele, sentindo o calor
percorrer meu corpo enquanto nos beijávamos
ternamente. E com o calor veio um ressurgimento de
energia, me lembrando que meu corpo não estava fora de
meu controle.
Que eu ainda tinha poder sobre mim mesma.
Eu o beijei com mais força, pressionando-me contra
ele com uma nova urgência.
— Sienna, espere, — disse ele depois de alguns
segundos. Sua voz estava rouca e nós dois estávamos
respirando pesadamente.
— Nós vamos nos atrasar.
— Quem se importa?
— Uh, seus pais. Meus pais.
Ele agarrou minha mão e me levou para fora do
quarto, me sentando no sofá da sala. Ele foi até a
sapateira perto da porta e pegou minhas botas, então
se agachou na minha frente e deslizou meus pés nelas.
Eu não sabia por que, mas o gesto era meio...
excitante.
— Você realmente vai recusar sexo agora? — Eu
perguntei a ele, meus olhos observando seu rosto. Eu
pude ver o arrependimento passando por cima disso. Mas
então ele olhou para mim.
— Eu não estou recusando sexo. Estou pedindo para
você ser paciente. Temos uma tarde inteira pela
frente. E quem espera sempre alcança, — ele disse
enquanto suas mãos subiam pelas minhas coxas.
Eu estreitei meus olhos para ele.
Ele está sendo um maldito provocador.
E eu não vou aceitar isso sentada.
Então eu me levantei, pegando minha bolsa e saindo
direto pela porta.
— Nesse caso, vejo você no carro.
Quando chegamos ao Jewel, o chá de bebê estava em
pleno andamento. Todos os nossos familiares e amigos
estavam se misturando na sala dos fundos, rodeados
pelos arranjos florais em tons pastéis que eu pedi à
floricultura.
Os garçons andavam com travessas de mimosas, e a
mesa comprida estava decorada com peças centrais em
rosa pastel e azul. Eu tinha que admitir que o lugar
era lindo.
— Sienna! Você está linda! — Selene exclamou
enquanto jogava seus braços em volta de mim, me
trazendo para um abraço apertado.
— Eu não sinto isso, — eu ri de volta. — Estou tão
inchada e... não sei, só me sinto nojenta. Como se meu
corpo precisasse sair da minha pele ou algo assim.
— Cale a boca, você está incrível nesse azul.
Sério, seu cabelo está lindo! — Eu sorri para minha
irmã. Eu não pude evitar. Seu entusiasmo era
contagiante.
— Somos os últimos a chegar aqui? — Eu perguntei,
olhando ao redor. Eu vi mamãe e papai no canto
conversando com Charlotte e Daniel, uma conversa que
eu não estava planejando participar tão cedo.
Aiden estava em uma conversa profunda com Jeremy, e
de pé ao lado da mesa estavam Erica e Mia, bebendo
algumas mimosas.
— Michelle ainda não chegou, — Selene me informou.
— Josh também.
Eu verifiquei meu telefone. Já era meio-dia e vinte
e o brunch fora marcado para o meio-dia. Claro,
Michelle vai chegar muito tarde.
Ela precisa de todos os olhos nela, sempre.
— Bem, você está bebendo, pelo menos? Eu preciso
que alguém beba e aproveite ao máximo por mim!!!
Selene riu.
— Jeremy e eu estamos tentando cortar nosso consumo
de álcool. — Eu lancei a ela um olhar mortal antes que
ela pudesse terminar. — Mas se você quiser que eu beba
uma mimosa, eu bebo uma mimosa.
Eu concordei.
— Tome uma mimosa.
Quando Selene deu alguns passos para trás para
pegar uma mimosa do prato de um garçom, senti minha
frustração crescer dentro de mim. Eu nem queria ter o
maldito chá de bebê, e Michelle ainda nem estava aqui?
Fui eu quem organizou tudo, e ela nem ia tomar a
liberdade de trazer o traseiro aqui a tempo?
E ela não estava apenas alguns minutos atrasada. Já
estava vinte e cinco minutos! Quem ela pensava que
era, a rainha da Inglaterra, porra?!Josh estava dirigindo pela estrada quando senti meu
celular vibrar no bolso. Alcancei-o no meu bolso e li
a tela.
E então meu estômago afundou.
— MERDA!
— O que foi? O que aconteceu? — Josh perguntou,
virando seu rosto para mim.
— É o chá de bebê! Agora mesmo! Todo mundo está lá,
Josh. Sienna vai ficar tão chateada! Vamos, vamos
voltar. Vamos dar a volta! Ainda dá tempo
— Querida, já estamos dirigindo há três horas!
Estamos muito longe. Não podemos simplesmente dar
meia-volta agora.
— Mas não podemos simplesmente não aparecer no meu
maldito chá de bebê!
Josh exalou, trazendo sua mão no meu colo para
apertar minha mão.
— Você tem que pensar sobre as prioridades,
Michelle. Sim, é uma merda não estarmos lá. Mas
estamos fazendo isso por um bom motivo, certo? Estamos
rastreando o cara que é uma grande ameaça para todos,
incluindo Sienna.
Ele olhou para mim novamente e vi que seus olhos
estavam cheios de determinação. Ele tinha se barbeado
na noite passada e eu dei adeus para aquela barba
enorme que ele não tirava desde que eu acordei do
coma. E, meu deus, aquele homem estava incrível.
Suspirei.
— Tá. Tá bom. Talvez você esteja certo...
— Eu estou certo, amor. Você vai ver. Quando
estivermos todos sãos e salvos daqui a cinco anos,
ninguém vai se lembrar do chá de bebê que perdemos.
— É melhor que seja verdade, — respondi, deslizando
meu celular de volta no bolso e recostando-me no
assento. Talvez eu devesse ter respondido a ela...
Porra, eu definitivamente deveria ter respondido a
ela.
Mas o que iria dizer?
Oi, Sienna, sinto muito, mas não vamos chegar ao
chá de bebê que foi feito em nossa homenagem, bjs?
Eu acho que não.
Então fechei meus olhos, tentando drenar a energia
negativa de minha mente.
Estávamos em uma missão.
Josh e eu éramos as únicas pessoas que realmente
estavam fazendo algo para destruir Konstantin.
Enquanto Sienna e Aiden comiam ovos e bacon, estávamos
caçando o último cara que interagiu com o vampyro.
Isso estava certo. Depois da minha pequena conversa
estimulante com Josh, ele ergueu a cabeça e fez
algumas pesquisas sérias. Ele encontrou um artigo de
jornal de uma cidade a quase 400 quilômetros de
distância, sobre um homem que foi mordido por uma
criatura.
Mas não era um lobisomem.
E a foto que acompanhava o artigo mostrava
exatamente a mesma mordida que havia no meu pescoço.
Dada por Konstantin.
Razão pela qual estávamos na viagem, íamos caçar a
outra vítima e obrigá-lo a nos contar tudo o que
sabia.
Josh estava certo. Isso era mais importante do que
comer waffles e receber elogios sobre como minha pele
estava brilhando. Poderíamos ter waffles e elogios a
qualquer dia. Mas hoje estávamos em uma missão. E
ponto final.
Josh saiu da rua em que estávamos e entrou em um
estacionamento. Eu apertei os olhos para o enorme
prédio de tijolos à nossa frente. Parecia antigo como
se tivesse estado lá por muito mais tempo do que
qualquer um de nós.
As letras brancas acima das portas da frente
diziam: SANATÓRIO MARPETTON.
— Querido, — eu consegui dizer. — Isso é tipo... um
hospício?
Ele se virou para mim e vi o desconforto em seus
olhos.
— O jornal dizia que se chamava Centro Marpetton.
Achei que fosse um centro de cura ou algo assim...
Engoli em seco.
— Bem, vamos acabar com isso.
— Espere um segundo, — disse ele, empurrando-me de
volta contra o meu assento. — Você vai ficar aqui. Não
vou deixar você entrar em um hospício. Mich, e se o
cara for louco?
— Claro, ele é louco! Ele está em um hospício! — Eu
gritei. — Mas eu vou. Nós dirigimos todo o caminho até
aqui e somos uma equipe, lembra?
— Mas você está grávida!
— Sim, e da próxima vez que você usar isso contra
mim, vou enfiar o salto da minha bota bem na sua boca.
Então pare de reclamar como uma cadela e vamos para o
maldito hospício.
Eu não esperei por sua resposta e saí do carro.