[002] NOSSA FORTALEZA

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Lara tinha apenas 10 anos, era uma garota muito curiosa, esperta e obediente, em ambientes novos e com pessoas desconhecidas ficava tímida e sentia indícios de medo; ela estava na escola no meio do período de artes, aprendendo a fazer arte rupestre, quando percebeu uma movimentação pelos corredores por conta da porta aberta.

A professora também notou a inquietação e foi averiguar o motivo daquela zona. Os educadores das outras salas tinham sua cabeça para o lado de fora da porta, os monitores passavam avisando para manter todos dentro das salas de aula até que se tivesse certeza do que estava acontecendo.

Alguns minutos se passaram e vários carros começaram a parar no estacionamento do colégio, os pais iam até as classes buscar seus filhos, as crianças iam sendo retiradas do colégio uma a uma, todas em pânico.

Lara não fazia ideia do que estava acontecendo, ficou nervosa, e quando percebeu estava no colo de seu pai sendo carregada para fora do prédio. A garota foi levada por ele até o seu carro, Daryl se sentou no assento do passageiro ainda com sua filha no colo, ela o abraçava forte, com o medo de se soltar e ser levada por o que quer que estivesse do lado de fora.

O estacionamento e a entrada do colégio estavam extremamente movimentados, pais e alunos entravam e saiam correndo, professores deixavam a instituição completamente em pânico.

Só depois de já terem se afastado alguns quilômetros da escola, que a garota tirou a cabeça do peito de seu pai e percebeu seu tio no volante, ele tinha um hematoma no queixo, a menina pensou que ele tivesse se metido em alguma briga. Em quase todas as vezes que Lara o viu, ele estava bêbado ou altamente chapado.

No banco de trás do carro, assim como no porta malas havia várias garrafas d'água, comida enlatada, malas de roupa, a besta que seu pai geralmente usava para caçar, e algumas armas que tinha em sua casa.

Daryl abraçava forte sua filha e fazia cafuné em sua cabeça enquanto discutia com seu irmão sobre a rota que fariam. Por um momento eles pararam o carro para olhar o mapa e um homem com aparência pálida, olhos sem vida e que grunia bateu no vidro, Lara se assustou e soltou um grito de medo, Merle arrancou com o carro.

-Papai, aquele moço parecia precisar de ajuda, porque a gente tá indo embora? -perguntou Lara, erguendo a cabeça para olhar a silhueta do homem que desaparecia conforme eles se distanciavam

-Nós não podemos ajudá-lo meu amor.- Respondeu o mais velho colocando a cabeça dela de volta em seu peito.

Após alguns minutos os adultos entraram em consenso, iriam até a casa de Merle, que ficava mais afastada da cidade para buscar algumas coisas e ficariam lá o tempo que pudessem.

O caminho demorou algum tempo, Lara abraçava seu pai com força, esperando pelo momento em que eles a explicariam o que estava acontecendo, ou em que ela simplesmente acordaria de um pesadelo terrível.

Ao chegarem na casa, estacionaram o carro nos fundos, Merle entrou, seguido de perto por Lara, atrás dela vinha seu pai, assim que eles entraram Daryl trancou a porta enquanto seu irmão verificava a tranca das janelas. Os homens foram vasculhar a casa em busca de facas, armas ou qualquer coisa que pudessem usar para sobreviver.

A casa de Merle fedia a cigarro e bebida alcoólica, Lara nunca gostou muito daquele lugar.

Colocaram cobertores nas janelas e Daryl tentou ligar a televisão mas o sinal não estava pegando, Merle mexeu na antena e eles puderam assistir o noticiário, o repórter dizia:

"O governo pede para que todos permaneçam em suas casas, então não evacuem a cidade se não estiverem em um casa extremo, as cosas não saíram como planejado em Atlanta, mas a cidade será transformada em um centro de refugiados o mais rápido possível"

-Papai, o que tá acontecendo lá fora?- Lara perguntou se sentando no sofá, tentando não chorar desde a hora em que saíram da escola

Daryl foi até ela e se agachou na sua frente, mudou o canal da tevê para achar algo que já dissesse o suficiente, ele não saberia como dizer aquilo para sua filha, ele não conseguiria dar uma notícia como essa para ela.

Um canal da tevê mostrava pessoas caminhando na rua completamente desengonçadas, como se estivessem bêbadas, seria engraçado se não fosse tão assustador, a garota não entendia o que aquilo significava, eles a levaram para fora da escola por aquilo, mas o que era aquilo?

-Não entendeu, não é garota?- perguntou Merle sentado na mesa da cozinha

Ela fez que não com a cabeça

-Aquilo ali são monstros, eles comem pessoas, espalham as tripas, isso é o fim do mundo- ele explicou

Lara deixou as lágrimas caírem, como assim comem pessoas? Como assim o fim do mundo?

-Cala a boca Merle, tá assustando ela- advertiu Daryl

-Você quer dar essa notícia sem assustar? Boa sorte então maninho- disse Merle em tom provocante

Daryl segurou as mãos de sua filha, ainda agachado na frente dela

-Aquilo que você viu na tevê, não são pessoas, eles estão mortos, voltaram a vida de alguma forma mas não tem consciência, eles andam por aí atrás daqueles que ainda estão vivos, e eles...- fez uma pausa e olhou nos olhos da menina- Eles comem a carne das pessoas.

Lara desabou em lágrimas, ela sabia que existiam pessoas que comiam carne humana, os chamados "caravais", ou algo assim; Mas eles estavam vivos, tinham consciência do que estavam fazendo, não andavam por aí mordendo qualquer um.

-Mas, então nós vamos morrer? E-eles vão matar a gente?- perguntou tentando parar as lágrimas

-Ei, não, eles não vão- disse Daryl segurando o rosto da menina em suas mãos, secando as lágrimas dela- Vamos pensar que a casa do tio Merle é como a nossa fortaleza, estamos seguros aqui. Tá bem?

-Tem certeza?-ela perguntou exitante

-Tenho- falou sem pensar duas vezes- E mesmo que precisemos sair daqui, eu vou estar sempre com você, vou te proteger - ele prometeu e então a puxou para um abraço.

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𝐀 𝐖𝐀𝐑𝐑𝐈𝐎𝐑 𝐈𝐒 𝐁𝐎𝐑𝐍| The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora