Conserto

1K 62 11
                                    

   Existe uma série de adjetivos capaz de descrever como Bruce se sentia agora: estúpido, incapaz, tolo, inábil, entre vários outros, mas sinceramente nenhum conseguia explicar com clareza o que se passava na mente do magnata. Mas ele não era a única alma perdida da família, estavam todos quebrados, uns só escondiam melhor do que os outros.
     Richard não queria conversar, a culpa pelo que disse ao irmão estava o matando. Lidar com Jason nunca foi fácil, mas falar daquela maneira? Não era culpa dele estar desse jeito, as circunstâncias o deixaram assim e Dick sabia disso, por isso se culpava. Controle. Bruce o ensinou autocontrole, como lidar com essas situações de estresse, mas ele estava tão perdido que não conseguia mais lidar com tudo, o peso de ser o responsável sempre estava sugando lentamente sua sanidade, tudo se desmoronava aos poucos e agora ele tinha destruído mais um pouco. É uma sensação horrível e ele não estava mais conseguindo esconder.

    A volta para casa foi estranhamente tranquila para uma noite tão desastrosa, Dick e Jason insistiram que queriam voltar para casa com Selina e não com o Bruce, que fez ambos respirarem aliviados quando o pai não se opôs. Bruce estava preocupado, não gostava de ver eles chorando e Tim em particular era pior, pois, mesmo sendo o mais novo antes de Damian chegar, era muito mais comum pegar os três mais velhos chorando do que ele. Timmy nunca quis demonstrar fraqueza, como ele ajudaria o Batman se fosse assim?
    Jason e Damian por outro lado, deixaram o restante da família sozinhos com os pensamentos e dormiram o caminho inteiro até chegar na mansão, Jay sabia que Bruce iria querer falar sobre o que aconteceu, mas realmente não queria arrumar uma briga com o pai hoje, discutir com o Dick já havia sido o suficiente para deixá-lo mal.

- Quer me contar o que aconteceu? – Selina perguntou enquanto alternava o olhar na entrada e no garoto calado ao seu lado.

- Falei demais – Dick murmurou e virou para trás conferindo se Jason ainda estava dormindo – Eu não queria magoá-lo, só... eu não sei, acho que perdi o controle.

- Guardar demais o que você sente não faz bem, Dick. Eu sei que aprendeu isso com o seu pai, mas nem mesmo ele consegue manter o controle sempre – Helena não mentiu quando disse que ela teria que voltar para Gotham, definitivamente – Tenho certeza de que o Jason sabe que não falou por mal, ele conhece essa sensação.

- Não é justo! Eu juro que me esforço para fazer tudo dar certo, mas parece que nada é bom o suficiente...

- Porque não pode tentar fazer tudo sozinho, querido – Dick sabia disso – Podia ter me falado que não estava bem, não precisava fingir que estava tudo bem para mim. Conheço seu pai, não o vi a tempos, mas vocês eu vejo todo mês, meu amor.

- Eu sei, desculpa... Eu achei que dava conta sozinho, mas acho que eu só piorei – A mente do garoto estava um caos, prestes a desabar a qualquer momento – Não quero que vá embora de novo, acho que uma semana todo mês não é suficiente... não pra mim.

  Admitir que sentia falta de tê-la por perto todo dia não era fácil, Dick sabia por que Selina tinha deixado Gotham e sempre a apoiou nisso, mas ele não podia mais contar que o pai resolveria tudo e ele sozinho não estava dando conta, tinha medo de que tudo piorasse... Jason e Tim eram importantes demais para ele continuar orgulhoso e não pedir para ela ficar. Além disso, pensar que Damian ainda era só uma criança o assustava mais ainda, ele não podia fazer isso sozinho. Bruce não admitiria tão fácil, mas todos precisavam dela agora.

- Já estamos chegando? – Jason murmurou sonolento no banco de trás do carro e eles rapidamente encerraram o assunto – Preciso da minha cama logo.

- Falta pouco, passarinho.

   De fato, faltava pouco para chegar na mansão Wayne, Jason passou a maior parte do caminho dormindo e Dick não parecia querer conversar no início, ambos estavam cansados demais para simplesmente se explicar, mas o mais velho não conseguia dormir tão facilmente.
   Dick sentiu o celular vibrar no bolso da calça e sorriu ao ler a mensagem: “Por favor não me odeie, mas não queria que ficasse sozinho”. No fundo ele sabia que Selina estar ali tinha o dedo dela, Helena sempre foi apegada demais a todos eles para simplesmente voltar para Nova York e não fazer nada a respeito. Ele se lembrava perfeitamente da primeira vez que a viu, Bruce os apresentou quando o levou para conhecer a mansão e foi Helena quem o convenceu a ficar. Ela era tão doce e sorridente, seu completo oposto, aquilo o fez imaginar que sua vida não precisava acabar junto da morte dos seus pais.

The Wayne familyOnde histórias criam vida. Descubra agora